O poema “Uma simetria soa em minhas veias” de Alda Merini é uma reflexão intensa sobre a transformação pessoal e o libido de evadir das imposições externas, através do uso de imagens mitológicas poderosas e profundamente evocativas. Merini, conhecida pela sua capacidade de entrelaçar a dor e a venustidade em versos que tocam a espírito, dá-nos cá um olhar sobre a sua própria interioridade transformada numa paisagem mítica.
Transformação e Fuga
No poema, o eu lírico se compara a Daphne, a ninfa que na mitologia grega foi transformada em louro para evadir de Apolo. Esta imagem de transformação é poderosa: Merini se descreve porquê uma árvore que cresce em resposta a uma melodia interna, uma espécie de simetria que ecoa em suas veias. A referência a Daphne não é exclusivamente uma fuga, mas uma aspiração à permanência, à transformação em alguma coisa fixo e inalterável para evitar o contacto, neste caso, com Apolo, símbolo de uma ameaço ou talvez do próprio libido.
A luta contra a loucura
A imagem de Daphne “cega pela fumaça da loucura” acrescenta mais uma estrato de dificuldade, introduzindo o tema da luta interna contra a doença mental, tema recorrente na obra de Merini, que passou anos em instituições psiquiátricas. Essa loucura se traduz em perda: a Daphne de Merini é desprovida de folhas e flores, símbolos de vida e renascimento. No entanto, precisamente no momento desta transformação, “nasce a luz profunda”.
Solidão e Potestade
A desenlace do poema, onde o lírico “viro uma trilogia de deuses” na sua “solidão arbórea”, sugere uma espécie de elevação místico ou um pedido de salvação. A trilogia poderia simbolizar um apelo às diferentes faculdades divinas para uma mediação ou uma bênção, mas também a roboração da sua novidade forma existencial e da sua novidade força encontrada na solidão e na transformação.
Conclusões
“A Harmony Sounds in My Veins” é uma obra que desafia e conforta, mostrando porquê mesmo através da dor e da transformação podem ser encontrados momentos de iluminação e venustidade. Merini transforma a sua dor em verso, a sua luta em arte e convida os leitores a encontrarem a sua própria luz na solidão das suas experiências. É um poema que reflete a jornada da poetisa rumo à autoaceitação e à reconciliação com suas batalhas internas, recorrendo ao imaginário clássico para expressar temas universais de luta, transformação e esperança.
Uma simetria soa em minhas veias por Alda Merini
“Uma simetria soa em minhas veias,
logo semelhante a Daphne
Eu me transformo em uma árvore subida,
Apolo, por que você não me impede?
Mas eu sou uma Daphne
cego pela fumaça da loucura,
Não tenho folhas nem flores;
ainda enquanto eu transmigrar
a luz nasce profunda
e na solidão arbórea
Eu quero uma trilogia de deuses.”