Um jardim é a natureza à mão de semear. É o útil coligado ao belo: uma livraria viva, a preservação das espécies de mãos dadas com a estética, o apelo aos nossos sentidos. Lugar de descontracção, de sossego, ou de gracejo e alegria, de reflexão, de conversas, confissões e segredos.
O próprio ato de jardinagem pode ser visto uma vez que uma prática místico de relação à terreno, uma forma de colaborar com a natureza, cultivar o solo e participar no ciclo de vida. Diligência por vezes associada à subsistência, uma vez que acontecia (e ainda acontece) nos mosteiros, não são poucas as pessoas que dizem encontrar sossego e significado na geração e manutenção de jardins, seus ou de outros, ou a cuidar de hortas.
Independentemente da formosura que têm noutras épocas do ano, é na Primavera que a maior segmento dos jardins está no seu auge. A culpa é das flores e da explosão de cor com que os pintam. Depois dos meses cinzentos e frios, em que muito do que há na natureza fica em estado de hibernação, o renascimento de um jardim é um hino à alegria que reflita o nosso próprio libido de nos libertarmos do peso do Inverno. Queremos luz e sarau, excitação, força. E é por isso que a função ornamental de um jardim é uma das suas facetas mais importantes.
Sejam modestos ou suntuosos, concebidos por grandes paisagistas ou meramente nascidos uma vez que passatempo de um qualquer cidadão anónimo, exclusivamente frequentado pelos habitantes de um bairro ou visitado por milhares de turistas anualmente, os jardins são uma ponte entre as pessoas e a natureza, e revelamos muito sobre a cultura de cada sociedade ao longo dos tempos. Mas o seu maior feito é, sem incerteza, contribuirem – imensos! – para a nossa felicidade.
A Ana é autora do blog Viajar porque sim, onde uma versão deste cláusula foi publicada originalmente, e escreve segundo as normas do vetusto Combinação Ortográfico.
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