Outubro 1, 2024
a atriz elegante e graciosa que era impossível ser vulgar – Observador

a atriz elegante e graciosa que era impossível ser vulgar – Observador

Jacques Prévert deu-lhe o sobrenome “Aimée” do seu nome artístico e o Anouk proveio da personagem que interpretou no seu primeiro filme, A lar sob o mar (1947). Fellini, que a dirigiu em A Gulodice Vida (1960) e Fellini 8 ½ (1963), dizia que o tempo não passava por ela, Henry Miller venerava-a, Ungarodedicou-lhe um perfume, Omar Sharif (com o qual teve um caso) chamou-lhe “um tesouro gálico” e em Um Varão e uma Mulherde Claude Lelouch (1966), cruza a França num Ford Mustang para ir ter com ela a Deauville. AnoukAimée era de uma venustidade que quase intimidava e, qualquer que fosse o papel que desempenhasse, nunca deixou de primar pela elegância e pela perdão, qualidades que conferia às personagens se elas não as tivessem. Nem em Lola, de Jacques Demy (1961), onde interpreta uma artista de cabaré, ela é vulgar ou rasteira. Nascida Françoise Dreyfus em Paris, foi uma das maiores e mais distintas atrizes francesas e esta terça-feira, 18 de junho, aos 92 anos, na cidade onde nasceu.

[“La Dolce Vita”:]

Depois de A lar sob o MerAnouk Aimée começou, ainda bastante novidade, a alinhar filme detrás de filme, saindo mesmo de França para chegar em produções inglesas, alemãs e uma americana, Lusco-fusco Vermelhode Anatole Litvak, em 1959, ano em que participa também em As dragaso primeiro filme de Jean-Pierre Mocky. É no início da dezena de 60 que se lança definitivamente, com os dois Fellini e em ambos ao lado de Marcello Mastroianni, burguesa romana rica, ociosa e entediada em A Gulodice Vidade cabelo pequeno e óculos fininhos, mulher do realizador em crise criativa e que a engana em Fellini 8 1/2; e com Lolade cantábricomeias negras, saltos altos e cartola, rodeada de marinheiros e intocada pela grosseria. Pelo meio, fez uma passagem pelos EUA para personificar uma rainha na superprodução bíblica Sodoma e Gomorrade Robert Aldrich e Sergio Leone (1962).

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[“Lola”:]

Em 1966, chega o colossal sucesso de Um Varão e uma Mulherao lado de Trintignant, interpretando Anne, uma mulher generalidade que trabalha no cinema, viúva e mãe, apaixonada por Jean-Louis, um viúvo piloto de automóveis e pai, numa das mais singelas e arrebatadoras histórias de paixão do cinema, que queria ser “porquê as da vida”. O filme ganha o Festival de Cannes e o Óscar e o Mundo de Ouro de Melhor Filme Estrangeiro, e Anouk Aimée o Mundo de Ouro de Melhor Atriz. A personagem cola-se-lhe à pele para a posteridade. Depois de chegar em Modelos de Locaçãode Jacques Demy (1969), rodado nos EUA, Onde encontrarde Sidney Lumet (1969) e Justinede George Cukor (1969), e de recusar, em 1968, o papel que iria depois para Faye Dunaway em O Grande Rabino do Delitode Norman Jewison, casa-se em 1970 com Albert Finney (o seu terceiro marido depois o cineasta helênico Nico Papatakis e o músico gálico Pierre Barouh) e sai de cena durante alguns anos.

[“Um Homem e uma Mulher”:]

Em seguida o divórcio, em 1978, Anouk Aimée regressa à representação e ganha em 1980 o Prémio de Melhor Atriz no Festival de Cannes por Salto no Vaziode Marco Bellochio, no papel de um mulher depressiva e suicida que tem uma relação difícil com o irmão (Michel Piccoli). Roda depois com Bernardo Bertolucci, Élie Chouraqui, Jerzy Skolimowski ou Robert Altman, reencontra Claude Lelouch e Jean-Louis Trintignant no passo em falso que foi Um Varão e uma Mulher: Vinte Anos Depois (1986), e brilha no teatro na peça Cartas de paixão, que interpreta entre 1990 e 2014 ao lado de actores porquê Bruno Cremer, Trintignant, Alain Delon ou Gérard Depardieu. No seu último filme, Os Melhores Anos das Nossas Vidas (2019), de Claude Lelouch, Anouk Aimée e Jean-Louis Trintignant regressam pela terceira vez às personagens de Um Varão e Uma Mulher para uma despedida que não podia ser mais nostálgica, inspirada e tocante. Aimée detestava falar da idade e da passagem do tempo mas é, neste filme, a mais linda e sofisticada octogenária da tela.

[“Os Melhores Anos das Nossas Vidas”:]

Anouk Aimée nunca mais se voltou a matrimoniar depois de se separar de Albert Finney e vivia com os seus cães e gatos em Paris. Muito perto, curiosamente, da rua onde morava Anne, a sua personagem de Um Varão e Uma Mulher. Quando era novidade, queria ser farmacêutica ou bailarina, acabou por ser atriz. “A profissão escolheu-me”, disse numa entrevista. A escolha não podia ter sido mais acertada.

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