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A erva-das-pampas é uma espécie vegetal feminina tendo, por acidente da Natureza, passado a produzir sementes e assumido uma condição masculina, que concorre para sua disseminação descontrolada, explicou uma bióloga especialista em plantas invasoras. “Tem umas meninas e uns meninos, e os meninos têm um pólen extremamente alergênico”, disse à agência Lusa Hélia Marchante, professora da Escola Superior Agrária de Coimbra (ESAC) e especialista em plantas infestantes.
Explicitou que aquando da introdução em Portugal da erva-das-pampas — o que deverá ter sucedido há cerca de duas décadas, supostamente através de um porto comercial no Norte do país, quando era comercializada como ornamental para jardins — estas plantas eram femininas, isto é, não possuíam estruturas reprodutivas masculinas, portanto não soltavam pólen.
Hélia Marchante contou que, por muito tempo, nos EUA, “existiu um monopólio de um viveiro gigante, que vendia para o mundo todo só as femininas, que eram as mais atraentes e mais bonitas”.
“Depois, por acidente, entraram sementes que, ao germinar, resultaram nas outras, que são hermafroditas [têm estruturas reprodutoras de ambos os géneros]mas que chamamos de masculinas, para simplificar a explicação”, disse a professora da ESAC.
Ou seja, quando os homens chegaram, o problema começou? “As femininas sozinhas estavam quietas, quando as outras chegaram estragou tudo”, acedeu, com uma gargalhada, Hélia Marchante.
A diferença entre o gênero das plantas não é fácil de perceber para um leigo e, diante da reportagem da Lusa, a especialista frisou que as femininas “têm uma espécie de pelinhos em volta das flores e as masculinas são mais lisas”.
A bióloga Hélia Marchante, professora da Escola Superior Agrária de Coimbra (ESAC)
PAULO NOVAIS/LUSA
Quando estão a florir, o que sucede a partir de finais de Agosto, as masculinas têm uns apêndices amarelos (as anteras, onde se concentra o pólen) pendurados para fora da flor, sendo mais fáceis de distinguir nessa altura e especialmente em plantas mais jovens .
Com milhões de leves e minúsculas sementes, a sua dispersão é, maioritariamente, provocada pelo vento. “O vento, se for preciso, faz tudo sozinho, esta espécie tem o caminho muito facilitado”, notou, apesar de o problema ter também intervenção humana.
Hélia Marchante argumentou com a “competição” entre espécies vegetais, que faz com que a erva-das-pampas encontre terreno fértil de disseminação nas margens das estradas que foram limpas de vegetação, o que acontece menos em pinhais, carvalhais ou eucaliptais, onde as sementes competem com as árvores que ali se localizam e ocupam o terreno. “Quando limpamos os terrenos, ajudamos as invasoras todas a se instalarem”, ressaltou.
Depois, há ainda a problemática da biossegurança, conceito que, em Portugal, “praticamente não existe”, observou Hélia Marchante.
“Parece um palavrão, mas, se o quisermos simplificar, trata-se, tão só, de limpeza. Eu estou aqui a falar com vocês, uma semente destas [da erva-das-pampas] fica grudada em mim e, quando chegar na escola, transportei a espécie para lá”, ilustrou.
O caso é mais grave, continuou, em empresas que fazem a limpeza das bermas de estradas ou dos espaços verdes nas cidades.
“As roçadeiras, os cortadores de grama, as máquinas de corte vertical são um susto. Você chega num parque de máquinas de uma dessas empresas e aquilo é um mini ecossistema agarrado às máquinas. Por não haver limpeza e desinfecção, carregam-se partículas minúsculas e esporos que não são vistos de um lado para o outro”, argumentou Hélia Marchante.
Embora os pesquisadores já estejam trabalhando com algumas entidades em Portugal para estabelecer protocolos de biossegurança, o problema se estende, por exemplo, ao ambiente aquático, nomeadamente em rios, onde meras atividades de lazer, como a prática de canoagem ou pesca esportiva , podem constituir uma ameaça à disseminação de plantas aquáticas “muito mais graves do que a erva-dos-pampas”.
“A falta de boas práticas de limpeza e desinfecção, seja de caiaque ou vara de pescador, pode estar transportando essas espécies para outros locais onde elas não existiam antes”, alertou.
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