Março 21, 2025
a liberdade está a passar pelo Coliseu

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“Liberdade 25”, que Sérgio Godinho e os Assessores acabaram de apresentar pela primeira vez em Lisboa, é um espetáculo de fásquia subida, de muitas memórias e mutações, de muitas canções de peso e de convidados que agigantam ainda mais o que era já gigante , uma vez que A Pequena Não e o oteto vocal Quina Nono. E depois há uma mensagem, que se infiltra onde há um verso e até uma vocábulo. O pensamento pinga em cada letra, quando se trata de Sérgio Godinho.

A cabeça de Sérgio Godinho parece de uma lucidez cada vez mais radiosa, pensando e exigindo cada vez mais e melhor nos conceitos, mesmo que o seu corpo esteja cada vez mais distante do varão jovem que em tempos foi.

Não faltou sequer o sumptuosidade cênico. Faixas verticais em cinco retratos – um por dez, dos seus mais de 50 anos de curso – fazem um cronograma da imagem de Sérgio Godinho, no fundo do palco. Supra, um letreiro vermelho só com o nome próprio e informal de Sérgio.

Sérgio Godinho canta o primeiro verso da noite “Já que estou quase a ser famoso” uma vez que quem Graceja, no tema de inicialização Rei do Zum-Zum, com aquelas tabelinhas de linguagem ao seu estilo, uma vez que “famoso por ser famoso”. Num concerto de tantas causas, fazia sentido iniciar por um tema que retrata a falta das mesmas, num fiscalização ao descartável do irreal social (citando o tema dos Ban).

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Sérgio Godinho senta-se muito e sente tudo muito. A cadeira não é um cadeirão, o candeeiro faz segmento do cenário de um concerto oferecido muitas vezes à comédia e à teatralização, com a ajuda dos Assessores, uma margem desdobrável… e que se desdobra em vários papéis.

Na sua arte de buscar no seu denso reportório o que nem sempre é o mais óbvio, Sérgio Godinho escolheu o tema Foi Aos 25 Dias De Abril, uma vez que quem explica aos miúdos a Revolução dos Cravos. Grão na Mó, uma esmola de David Fonseca, é muito incorporada pelos 6 membros dos Assessores. Desvelo com as Imitações é todo sarapintado pela guitarra elétrica possuída por Nuno Rafael, antes de outro momento poderoso e de mediação com Maré Subida, que Sérgio Godinho descreveu uma vez que o seu “tema de letra mais curta, só quatro frases”, mas em que reforça uma: “a liberdade está a passar por cá”. Quem sentiu o mesmo ali, ovacionou de pé – e não foram poucos.

Novamente sentado, Sérgio Godinho evoca o seu “mais velho parceiro de canções… José Mário Branco”, ao trovar um tema de sua assinatura, ‘Mariana Pais’. Sérgio Godinho dá depois a mão ao gavinha mais fraco: a quem passa pela Prisão em Na Prisão, a quem perde uma puerícia no trabalho infantil em Domingo no Mundo, ou aos refugiados, em Dancemos no Mundo. No tema Espetáculo, a alegria extravasou com uma dança ao par que só aconteceu na letra.

O palco de Sérgio Godinho & Os Assessores parece um pacote. Mas de repente, aninham-se juntinhos, uma vez que se remassem numa canoa, para um triptíco mais folclórico e acústico, com cavaquinho, tambores, melódica e afins, e as músicas O’ Neill, Quatro Quadras e o tema do Conjunto António Mafra, Ora Vejam Lá, em que se reivindica o recta do trabalhador à folga aos fins de semana.

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Nessa versão surge o Quina Nono, que, em seguida, interpreta o tema Etelvina à capella, com as vozes a substituirem as suas várias camadas instrumentais. Sérgio Godinho, novamente sentado, limita-se a trovar um dos versos cruciais e é quase um testemunha, extasiado com a homenagem. Que Força É Essa ganha uma dimensão operática sobre os fantasmas do operário que o oteto vocal Quina Nono fantasmagoricamente tão muito inquieta. Também à grande, mas num tom mais festivo, Coros das Velhas empolga-se uma vez que uma sarau folclórica extravagante.

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A Grande Sale da Humanitarismo é o novo tema apresentado no Coliseu dos Recreios, no qual Sérgio Godinho canta, encenando a leitura do jornal Público, com imagens das páginas do seu cláusula imaginário. A comédia seguinte é Benvindo Sr. Presidente, sobre a situação absurda da visitante do Presidente e dos seus assessores à mansão de um desgraçado cidadão, ou um ângulo social curioso a quem pouco tem, com informações com aquele colega de Que Força É Essa, que está muito com os outros mas de mal consigo mesmo.

Não faltam momentos grandiosos ao espetáculo, mas a presença de Pequena Não teve qualquer coisa de mais privativo ainda, tendo interpretado com muita classe a Balada da Rita. Inventou ainda uma música lindíssima à guitarra, com construções frásicas à volta de 33 títulos de canções de Sérgio Godinho, que estava sentado ao seu lado, absolutamente rendido, antes do dueto de ambos na cantiga mais reconhecida da Pequena Não, Dilúvio.

A finalizar, Sérgio Godinho deu voz a um dos seus temas mais populares, Com um Brilhozinho nos Olhos. O que o público cantava, “hoje pude a tanto”, soou um encómio ao concerto desta noite.

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Zeca Afonso regressou ao Coliseu dos Recreios 41 anos depois, nos dois encores. Sérgio Godinho cantou o tema de Zeca que fintou a exprobação, Os Vampiros, na sua versão mais pesada, soturna e roqueira, que já apresentou alguns ciclos ao vivo também ligados à temática da liberdade. Depois, no tema final O Primeiro Dia, é a figura de Zeca que surge desenhada no ecrã de cortinado, numa galeria de fotos de Sérgio Godinho, em que também surge o supergrupo Três Cantos, que formou com Fausto e José Mário Branco.

Pelo meio, a música Liberdade, ligada ao nome do espetáculo, levanta todas as cadeiras, porque o momento pede isso. Olhamos logo todos para Sérgio Godinho uma vez que para um cravo. A Pequena Não estava ao seu lado: a passagem de testemunho está assegurada e em boas mãos. E foi repetida para nós, quando Sérgio Godinho viveu o habitual copo de vinho “da mansão” e nos deixou trovar O Primeiro Dia. A liberdade está a passar por cá, está a ser passada a outros e depois a outros. Não está de passagem.

Sérgio Godinho & Os Assessores atuam nesta quinta-feira, dia 21, no Coliseu dos Recreios, em Lisboa. Nos dias 23 e 24, Sérgio Godinho apresenta levante espetáculo no Coliseu do Porto, com os mesmos convidados: o Quina Nono e A Pequena Não.

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