Por Nascente Rio Inferior, o mais fatídico e afadistado primeiro álbum, também foi lembrado através de faixas porquê Borboletas da Noite e Estaleiro. A versão de Exagerado, do malogrado cantor brasiliano Cazuza, trouxe um olor carioca ao Campo Pequeno, até para mostrar que a visão artística de Mafama não se cinge a fronteiras convencionais. E, evidente, houve espaço para estrear ao vivo as duas novas canções que recentemente fizeram de Estava No Barranco Mas Dei Um Passo em Frente um disco deluxe.
Sem Ti é uma música de paixão com uma desavergonhada toada pop; Barranco evoca uma bossa novidade que descamba numa explosão sonora que terá surpreendido os menos conhecedores da sua obra. “Muita gente tem comparado levante tema com o meu álbum anterior por ser mais dramático. Por um lado, é verdade. Por outro, antigamente estava muito fechado sobre os meus sentimentos e esta é já a perspetiva de quem consegue comentar o mundo, numa profundidade de catástrofe e guerra, o que também é importante”, explicou sobre a novidade filete.
No mundo de Mafama, o fado, as marchas, o cante alentejano e a música de dança cruzam-se naturalmente com os balanços da kizomba e a psique da música cigana, embrulhando tudo com uma abordagem pop — também influenciada pelo hip hop e pela música urbana global — que refletem esta cultura formosa da mistura, na qual há muito mais pontes do que muros, e que, apesar de todas as contradições, acaba por passar Portugal de forma transversal. “Viva toda a cultura portuguesa!”, exclamou. Embora haja melodias simples e cativantes, não falta espaço para momentos mais exigentes e exploratórios. O estabilidade é muito doseado e, supra de tudo, vasqueiro no quadro músico pátrio. Haverá neste momento música pop portuguesa mais arrojada, original e importante do que esta?