Um resultado que afasta a teoria de que a Iniciativa Liberal estava em crise, que estagnara, que começava a definhar. O partido, que lutava pela eleição de um eurodeputado para prometer a sobrevivência do projeto, acabou a escolher dois deputados ao Parlamento Europeu. Uma vitória em toda a traço, que anima e muito as tropas liberais. “Precisávamos mesmo disto“, ouviu o Observador de um engrandecido dirigente do partido. Mas — e oriente ‘mas’ não é somenos —, a noite de vitória não apagou uma evidência: oriente resultado deveu-se, em grande medida, à “marca Cotrim“, explorada ao limite nesta corrida eleitoral, e não necessariamente aos méritos do partido.
As últimas eleições legislativas fizeram toar os alarmes na Iniciativa Liberal. O partido acabara de trespassar de uma guerra social, depois de um processo de sucessão muito mal recebido internamente, e, apesar de ter conseguido manter os oito deputados, a verdade é que o partido praticamente não cresceu em relação às últimas legislativas e viu o Chega a disparar para os 50 deputados. No entanto, tendo sido sobretudo uma boa prestação de João Cotrim Figueiredo, não deixa de ser um sinal de que Rui Rocha (ainda) não está à fundura do predecessor. O clarão de um ofusca o outro.
Apesar de tudo, no final, já depois de todos os discursos, João Cotrim Figueiredo fez questão de dividir os despojos. “Vitória marca Cotrim? Não é zero. É marca Iniciativa Liberal, que teve nestas eleições a oportunidade de fazer aquilo que não pôde fazer em março, que é ter um único círculo pátrio, não ter voto útil e ter uma proposta claramente melhor. Nas europeias percebeu-se que a nossa proposta era claramente melhor. Também temos para o país, mas ainda não conseguimos explicar essa segmento. Lá chegaremos. O caminho faz-se caminhando e oriente foi um passo importante hoje.”
Rui Rocha diria o mesmo. “É um resultado que tem obviamente o contributo das duas partesa segmento do partido, das suas ideias, das suas convicções, das suas propostas. Acho que não é indiferente aquilo que tem realizado nos últimos meses, mesmo depois das eleições legislativas, em que a Iniciativa Liberal, ao contrário de outros, tem sido um partido harmónico, um partido que quer mudar Portugal e faz as suas propostas em função dessa mudança e não em função de uma agenda política oportunística”, começou por proferir o presidente do partido.
Numa referência ao facto de a IL ter estado unida nesta campanha, e que pode ser interpretada porquê tendo sido um recado para dentro de portas, Rocha celebrou o resultado conseguido nestas europeias. “Obviamente, porquê disse muitas vezes em campanha eleitoral, tínhamos o melhor cabeça de lista destas eleições. Quando nós juntamos as forças, quando temos boas ideias, um grande partido e um grande candidato, os resultados são bons.”
Os liberais acreditam que estas europeias vão ajudar a substanciar a posição da atual direção de Rui Rocha, mas não só. A conjugação de resultados — vitória tangencial do PS, guião da AD e queda monumental do Chega — farão com que os três partidos pensem duas vezes antes de precipitarem o país em mais uma crise política. E a IL acredita que preciso de tempo e de segurança para substanciar a imagem de Rui Rocha porquê líder — novas eleições seriam um teste muito exigente para o presidente do partido e para a máquina liberal.
Um mau resultado nestas eleições europeias poderia ser o combustível que faltava à oposição interna. Ainda em abril, Tiago Mayan Gonçalves anunciou estar pronto para encabeçar uma candidatura à liderança da IL e refundar partido. Daqui um mês, o partido terá um congresso estatutário que servirá porquê uma espécie de antecâmara desse confronto. Sem um bom resultado nestas europeias, depois de umas legislativas frustrantes, Rui Rocha não teria grandes argumentos para segurar a oposição interna. João Cotrim Figueiredo confirmou aquilo que se esperava: foi o dique que separava Rui Rocha de (mais) uma crise interna.
Ainda durante a campanha eleitoral, em conversa com o Observador, João Cotrim Figueiredo assumia que o calendário da sua sucessão não correu porquê previsto. “O racional da minha saída não contemplava as eleições antecipadas. Imagine o que teria sido se as eleições legislativas tivessem sido noutra fundura. A bad press, todos os problemas que existiram muito mais esquecidos… E fui eu. Achei que era impossível um governo de maioria absoluta tombar. Posso justificar a minha saída, porque achava mesmo que era melhor para o partido trespassar, passar muito a pasta. Até posso pedir desculpa e proferir que me enganei sobre o quadro político, não tenho porquê não proferir. Mas não posso esconder que a luta das europeias ficou mais importante depois da antecipação do calendário”, dizia.
Prova de que a sucessão interna está longe de ser um ponto muito resolvido foi a mediação de Paulo Carmona, ex-membro, macróbio dirigente do partido e número dois da candidatura de Carla Castro à presidência do partido, mesmo na reta final da campanha. “Não esqueçamos que foi a sede europeia, pessoal e financeira de Cotrim, a submergir o seu partido numa crise e estagnação eleitoral. Nem o seu lastimoso comportamento na designação do sucessor e os ataques à escolha interna. Dito isto, será um óptimo eurodeputado. Perderá a IL que vê homiziar o seu maior, e talvez único grande ativo, para um lugar onde não terá grandes contributos para o programa eleitoral do seu partido”, escreveu Carmona na rede social X.
Seja porquê for, os mínimos olímpicos foram largamente ultrapassados e os mais céticos têm agora de ponderar muito os próximos passos. Os avisos para essa oposição interna começaram já hoje. Ao início da noite, quando subiu ao palco para comentar as projeções, Bernardo Blanco, deputado e um dos responsáveis por esta campanha, assinalou as perspetivas que se colocavam e atirou aos críticos: quando o partido está “uno num projeto generalidade” pode perceber grandes feitos. Rui Rocha diria o mesmo, por outras palavras. Os próximos meses dirão se os liberais saberão aproveitar o clima de sarau ou se a estragam sozinhos.
O guarda-chuva de Cotrim protegeu a IL de si própria. Mas não dura para sempre