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André Ventura e a inculcação da dúvida | Opinião #ÚltimasNotícias #Portugal

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Há semanas a mídia da política se concentrava na saga do Orçamento do Estado (OE) e a atenção convergia para Luís Montenegro e Pedro Nuno Santos, quando André Ventura entrou em jogo e, ao vivo, acusou o primeiro-ministro de mentir em entrevista que dias antes tinha dado à SIC. Segundo Ventura, ao contrário do que dissera, o primeiro-ministro teria buscado fazer um acordo secreto com o Chega que, depois de aprovar o OE, incluía a entrada do partido no governo no ano que vem.

As revelações bombásticas de que o primeiro-ministro teria um discurso em público e um comportamento distinto em particular – que atacam o cerne da estratégia vitoriosa do “não é não” de Montenegro – parecem ter servido para Ventura lançar as bases de sua narrativa eleitoral: esta se baseia numa campanha de rejeição a Luís Montenegro e, simultaneamente, de vitimização do Chega, acusando o chefe do Governo de cometer uma dupla traição, ao partido e ao país.

Esse tipo de decisão sempre envolve uma avaliação prévia dos riscos implicados. Embora algumas análises considerem suicida o movimento de Ventura, ele pode ser visto como uma jogada de sobrevivência para o caso de haver legislativas antecipadas. De fato, podemos admitir que, para o Governo, este não é um mau momento para novas eleições: o primeiro-ministro está bem avaliado nas pesquisas, sua narrativa de aproximação com o PS para evitar uma crise política por causa do OE vingou em detrimento da petista, cuja liderança é questionada dentro e fora do partido. Além disso, quanto mais tempo passa, mais o Governo pode estar chateado e, quem sabe, às voltas com “casos e casinhos”. No entanto, mesmo que não haja eleições, as “revelações” de Ventura cumprem seu propósito: inculcam dúvida acerca da integridade de Montenegro, ao mesmo tempo em que energizam a base de apoio do Chega, descontente com a incapacidade de o partido firmar uma frente de direita e combater o socialismo.

É importante ter em mente que o quadro atual é muito diferente do de março, quando o resultado eleitoral do Chega traduziu sua capacidade de federar um conjunto variado de sentimentos anti-Costa/anti-PS e também refletiu a falta de confiança de algum eleitorado de direita em Montenegro. Embora pareça que foi em outra vida, é bom lembrar que naquela época o atual primeiro-ministro não conseguia se afirmar como líder da oposição, com sua liderança dependente dos resultados das europeias. No entanto, as eleições legislativas antecipadas se transformaram em uma oportunidade que Montenegro soube aproveitar. Em um contexto de governança adverso, apostou em uma estratégia de governo eleitoralista e, após seis meses, em um OE de campanha. Montenegro revelou uma habilidade política indissociável de uma estratégia de comunicação disciplinada, que melhoraram substancialmente a percepção que a opinião pública tinha de si e que, por tabela, prejudicaram os líderes do PS e do Chega.

Seguindo a lógica da economia da atenção, Ventura disse “vamos deixar isso para o futuro”, quando jornalistas lhe pediram provas do que ele estava dizendo. Ao mesmo tempo em que pisava no acelerador, o líder do Chega colocava a mão no freio. Se, logo após a ida à CNN e à Now, suas revelações pareceram não ganhar tração no ciclo noticioso e do comentário, aos poucos o tema está entrando na corrente sanguínea do ecossistema comunicacional, tendo, inclusive, Pedro Nuno Santos e Rui Rocha já aproveitado a polêmica para assim tirarem proveito da atenção midiática concedida ao “senhor”.

O que está sendo gizado é uma deslegitimação de Luís Montenegro, assim como, a pretexto do caso das gêmeas, Ventura procurou fazer com Marcelo. Neste tempo de enorme desconfiança na política convencionalcertos tipos de narrativas não precisam de fatos, apenas de plausibilidade para que a dúvida comece a corroer a credibilidade. Apesar de a política antissistema ser intrinsecamente antiestrutural, trata-se de uma jogada arriscada. É que o veneno está na dose.

A autora escreve segundo o novo acordo ortográfico

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