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Vera Kolodzig revelou aos seus seguidores no Instagram que foi submetida a uma “aférese terapêutica” para “evitar” ficar doente. Mas a atriz acabou por remover a publicação da sua conta. Especialistas em medicina interna e imunohemoterapia explicam à CNN Portugal que tratamento é este e garantem que não há evidência científica quanto à eficácia desta técnica para prevenir doenças em pessoas saudáveis
“Hoje a Dr.ª Ana Moreira ligou-me a uma máquina, não porque estou doente, mas para evitar que fique.” Foi assim, numa publicação na rede social Instagram, entretanto apagada, que a atriz Vera Kolodzig anunciou que foi submetida a uma “aférese terapêutica”, uma técnica que envolve a colheita seletiva de componentes específicos do sangue – plaquetas, glóbulos vermelhos ou plasma -, sendo o restante sangue devolvido posteriormente ao paciente. Mas a médica que fez o procedimento ressalva à CNN Portugal que o tratamento não é indicado para pessoas saudáveis.
“Como médica, não posso dizer que este tratamento seja feito em pessoas que não estão doentes”, diz Ana Moreira, corrigindo assim a publicação da atriz e acrescentando que o procedimento foi feito na sequência de vídeos e podcasts que fez com a atriz, nos quais explicou o enquadramento da medicina integrativa como um todo.
Ana Isabel Pedroso, especialista em medicina interna, explica à CNN Portugal que a aférese terapêutica consiste num técnica médica na qual “o sangue é retirado do doente, processado para remover certos elementos, e depois o sangue restante é devolvido ao doente”. O nome da técnica difere consoante o elemento que se pretende retirar, acrescenta a imunohemoterapeuta Diana Sousa Mendes, do Hospital Fernando Fonseca: “Por exemplo, se houver uma substância no plasma que provoca uma doença – há uma doença que se chama púrpura trombocitopénica trombótica (PTT) – pode ser preciso fazer uma aférese terapêutica que chamamos de plasmaferese, que consiste em tirar plasma e substituir por um plasma de dador saudável.”
Esta técnica é utilizada precisamente para “tratar diversas condições”, acrescenta a médica Ana Isabel Pedroso, sendo indicada para pessoas com “doenças autoimunes, como a miastenia grave, esclerose múltipla, síndrome de Guillain-Barré, e lúpus eritematoso sistémico; dislipidémias graves; doenças hematológicas, como a anemia falciforme e púrpura trombocitopénica trombótica (PTT), doenças renais, como a síndrome hemolítico-urémica e glomerulonefrite rapidamente progressiva; e complicações de transplantes, como a doença do enxerto contra o hospedeiro”.
Por isso, as duas especialistas entendem que “não faz sentido” avançar com este procedimento em “pessoas que não são doentes”. “O uso da aférese terapêutica como um tratamento preventivo para pessoas saudáveis não é uma prática apoiada pela comunidade médica. A literatura científica atual não fornece evidências de que a aférese terapêutica seja eficaz ou necessária para prevenir doenças em indivíduos saudáveis”, argumenta a médica Ana Isabel Pedroso, que lembra que, “embora geralmente segura, a aférese terapêutica pode ter alguns riscos, incluindo reações alérgicas, desequilíbrio eletrolítico, hemorragia e hipotensão”.
Para a especialista em medicina interna, a promoção deste procedimento em pessoas saudáveis nas redes sociais “levanta obviamente preocupações éticas, pois falamos de intervenções médicas desnecessárias, custos elevados e potenciais riscos à saúde sem benefícios comprovados”.
A publicação foi entretanto eliminada da conta oficial do Instagram de Vera Kolodzig. A CNN Portugal tentou entrar em contacto com a atriz para perceber, em concreto, quais as razões que a motivaram a avançar com o procedimento mas, até ao momento da publicação deste artigo, não obteve resposta.
Na publicação, a atriz mencionava a médica Ana Moreira como a especialista que a submeteu a este tratamento. Ana Moreira é médica, licenciada em Medicina e presidente da Sociedade Portuguesa de Medicina Integrativa e vice-presidente da Sociedade Portuguesa de Ozonoterapia e Medicina Regenerativa.
Numa resposta escrita enviada à CNN Portugal, a médica Ana Moreira afirma que a técnica da aférese terapêutica “não é uma prática recente”, sendo “um procedimento médico que se realiza em vários hospitais”. Logo, diz, “não é uma técnica terapêutica da Medicina Integrativa”, mas sim “uma terapia prescrita pelo médico nos casos clínicos que assim o justifiquem”.
Ana Moreia esclarece que “nunca disse” que a aférese terapêutica pode ser um procedimento feito em pessoas saudáveis para evitar doenças futuras. Até porque, no entender da médica, “o facto de o paciente não ter ‘uma doença diagnosticada’ não significa que esteja saudável”, sustentando esta tese com a definição de saúde pela Organização Mundial da Saúde (OMS), que estabelece o termo como “um estado de completo bem-estar físico, mental e social e não apenas a ausência de doença ou enfermidade”.
“O estilo de vida adotado pela maioria das pessoas nas sociedades ocidentais tem um impacto importante na propensão para distúrbios metabólicos (por exemplo, diabetes, cancro, doença cardiovascular, doenças). Mudanças no estilo de vida podem promover um envelhecimento saudável, mitigando os efeitos deletérios dos stressores. A exposição a uma variedade de fatores stressores (alimentos processados, alimentação excessiva, tóxicos ambientais, agentes infeciosos ou medicamentos) durante a vida promovem inflamação crónica e o desenvolvimento de distúrbios metabólicos”, argumenta a médica.
Neste contexto, explica Ana Moreira, na Medicina Funcional Integrativa os médicos utilizam “uma estratégia personalizada que considera as necessidades únicas do paciente, as suas circunstâncias e condições”, bem como “intervenções adequadas de uma série de terapias cientificamente comprovadas como, por exemplo, uma prescrição nutricional, suplementação ortomolecular, técnicas de gestão de stress, sempre complementarmente a tudo o que o paciente já tome para a doença crónica que tenha”.
A médica lembra ainda que “o termo Medicina Integrativa existe desde os anos 70, nos EUA”. tendo surgido “a necessidade, ‘sugerida’ pela OMS, de que se deveriam introduzir as técnicas Integrativas nos sistemas públicos de saúde”. E defende que se deve “distinguir” a Medicina Integrativa das “terapêuticas alternativas ou não convencionais”, tendo em conta “a necessidade de regulamentação desta matéria pelas respetivas Ordens profissionais de cada país e dada a necessidade urgente de introdução nos respetivos programas curriculares de faculdades de medicina e centros educacionais reconhecidos”.
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