Março 20, 2025
BES/GES. Pedro Queiroz Pereira descreveu Salgado como “mentiroso compulsivo”
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“Ricardo Salgado tem características boas e ruins. Entre as boas: é uma pessoa extraordinariamente trabalhadora; entre as más, é um ambicioso desmedido, capaz de matar o pai e a mãe, e um mentiroso compulsivo. Defino-o como uma pessoa que diz certas coisas e que quer convencer o interlocutor de que 2 + 2 são 5”, disse o ex-líder da Semapa em depoimento como testemunha feito em janeiro de 2018.

Pedro Queiroz Pereira, morto em agosto daquele ano, explicou ainda que os outros diretores do Grupo Espírito Santo (GES) não levantavam objeções às decisões de Ricardo Salgado.

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“Ninguém se atrevia. Ele era o único capaz de comandar o grupo. Ninguém se atrevia a dizer o que fosse. Eu era independente e o único que dizia… Ele é capaz de chegar aqui e dizer-lhe que esta folha branca era preta e sair daqui convencido de que convenceu o interlocutor.

O finado industrial (nas áreas de cimento e celulose), que também foi acionista da empresa Espírito Santo Control (ESC), holding de topo do grupo, entrou em conflito com Ricardo Salgado, contribuindo para expor os problemas das contas no GES junto ao Banco de Portugal (BdP). Ao MP admitiu que se tentou opor no processo que levou o comandante António Ricciardi à posição de presidente do Conselho Superior do GES, por entender que isso “era conveniente” para Salgado.

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“Ainda tentei alguma oposição, porque conhecia Ricardo Salgado há muitos anos e sabia que poderia não dar certo. Foi preciso substituir o presidente e quem foi substituir foi o comandante António Ricciardi, e era completamente conveniente que fosse o `chairman` para que Ricardo Salgado pudesse fazer o que quisesse sem nenhuma oposição”, contou.

Pedro Queiroz Pereira lembrou que já sabia em meados de 2012 que as contas do GES “estavam mal”, embora ainda não tivesse os números aprofundados que foi depois entregar ao BdP. Contudo, destacou que fez questão de transmitir isso em uma reunião do Conselho Superior da qual participou naquele ano.

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“Fui lá para chamar a atenção para as coisas que estavam acontecendo. Já naquela época eles estavam ativamente comprando ações do meu grupo para tentar controlá-lo”, disse ele, continuando: “Eu sabia que as coisas estavam ruins naquela época. O que me revoltou mais e me impulsionou mais é que eles estavam comprando meus acionistas e não tinham dinheiro. Eu sabia que as contas deles estavam ruins, porque quando eles consolidavam eles não usavam os números finais”.

O empresário revelou ainda que só foi ao BdP com os documentos “um ou dois meses depois” por estar “sempre na expectativa” de que o BES recuasse na tentativa de controlar suas empresas. “Não sou propriamente amigo de Ricardo Salgado, mas sou amigo de outros Espírito Santo e sei que não estão no cerne da questão… Tentei durante algum tempo não usar números e coisas que tinha”, referiu.


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