Se houver um lugar que encapsule a gloriosa complicação e às vezes natureza paradoxal da União Europeia, seria Baarle, que fica na fronteira entre a Holanda e a Bélgica. A cidade, com menos de 10 milénio habitantes, é dividida em duas, Baarle-Nassau (holandesa) e Baarle-Hertog (um enclave belga contornado pelos Países Baixos).
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A fronteira internacional atravessa a cidade, marcada por uma série de cruzes brancas no pavimento que às vezes cortam até prédios – incluindo a prefeitura. Outrossim, no dia das eleições europeias, as partes holandesas da cidade votaram em 6 de junho, enquanto seus vizinhos belgas tiveram que esperar três dias a mais para votar.
“Alguém holandês? Venha votar cá”, gritou um voluntário do lado de fora do “Stembureau” (sítio de votação) quando a AFP visitou no dia das eleições holandesas.
‘Europa em miniatura’: Baarle é a cidade conhecida por ter fronteira mais estranha do mundo
Baarle, fica na fronteira entre os Países Baixos e a Bélgica
Literalmente a poucos metros atravessando a rua está a Bélgica, um bar de lanches oferecendo “Fresh Belgian Fries” (batatas fritas belgas). Cartazes de eleição holandeses e belgas ficam a uma pedrada de intervalo, com um conjunto completamente dissemelhante de candidatos e partidos.
A identidade dividida da cidade é muito mais complexa do que uma única risco de fronteira. Há vários pedaços de terreno separados espalhados pela cidade pertencentes a um país ou outro. Há 22 enclaves belgas no totalidade, o menor com o tamanho de meio-campo de futebol, e seis “contra-enclaves” holandeses dentro desses enclaves belgas.
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Isso significa que a fronteira serpenteia de forma caótica ao volta da cidade, resultando em um efeito bizarro de colcha de retalhos em mapas internacionais. Visitar cada enclave significaria transpor a fronteira holandesa-belga 60 vezes em poucos quilômetros, explicou Ad Tuijtelaars do escritório de turismo sítio.
‘Fronteira mais estranha do mundo’
Há diversas anedotas sobre as peculiaridades da cidade, que se descreve porquê “a Europa em miniatura” ou a “situação de fronteira mais estranha do mundo”. Casais que se casam na prefeitura têm que sentenciar em qual país se matrimoniar. Lado esquerdo da sala: Bélgica ou lado recta: Países Baixos.
Em uma moradia dividida pela fronteira, uma mulher de 90 anos vive do lado belga. Seu fruto, logo no galeria… nos Países Baixos. As pessoas aproveitam diferentes leis e regimes fiscais, disse Tuijtelaars, um empresário holandês jubilado de 75 anos.
“A gasolina é mais barata na Bélgica. Os cigarros são mais baratos na Bélgica. Mas a comida tende a ser mais barata nos Países Baixos”, disse à AFP.
Na Holanda, fogos de artifício só podem ser comprados no período que antecede o Ano Novo, mas durante o ano todo na Bélgica, o que significa que as pessoas se dirigem a Baarle-Hertog para estocar pólvora.
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Diferentes horários de fechamento nacionais uma vez significaram que os clientes de um restaurante dividido pela fronteira tinham que se mudar para o outro lado da sala para terminar suas refeições. A fronteira atravessa um dos supermercados com um sinal prometendo maionese belga a 25 metros à esquerda, e Hagelslag (granulado de chocolate holandês) a 30 metros à direita.
A Covid-19 provocou o pandemônio – em Baarle-Hertog, as máscaras eram obrigatórias, mas em Baarle-Nassau, exclusivamente no transporte público. Tuijtelaars, nascido e criado em Baarle, lembra de ir para a escola – cruzando a Bélgica várias vezes no caminho.
“Para nós, crianças, era normal. Foi só quando cresci e viajei para o exterior que percebi que era uma situação bastante única”, disse.
‘Sem urgência de conflito’
A curiosidade geográfica, que atrai milhares de turistas todos os anos de todo o mundo, tem suas raízes na Idade Média. O território foi dividido pela primeira vez em 1198, quando Henrique I, Duque de Brabante, entregou secção de suas terras a Godofredo de Schoten, Senhor de Breda.
A questão da fronteira veio à tona em 1830, quando a Bélgica se tornou independente dos Países Baixos e a questão só foi finalmente resolvida em 1995. Votando no “Moca na Holanda”, um bar-transformado-em-local-de-votação nos periferia da cidade, Theo van der Veerdonk, um professor de 64 anos, disse que Baarle oferecia lições para a Europa se unir.
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“Temos uma cidade cá de duas nacionalidades e acho que a Europa deveria ser uma só. Você vê em uma cidade porquê esta que a Europa, na verdade não é uma só. Acho que isso é uma pena”, disse à AFP.
“Eu quero mais Europa e mais integração, para tornar a Europa mais próxima e melhor… Cá temos dois prédios municipais, dois serviços policiais, dois serviços de bombeiros… e isso é completamente louco.”
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Mas Tuijtelaars disse que Baarle mostrava porquê os vizinhos podem viver juntos em simetria, apesar da nacionalidade e das fronteiras.
“Se você mora tão perto um do outro, por que disputar? Não há urgência de conflito – muito, exceto quando a Bélgica joga contra os Países Baixos no futebol”, brincou.