“Falamos muito sobre os 50 anos do 25 de Abril, devíamos às vezes pensar sobre os 100 anos de quando perdemos uma República”. A enunciação foi proferida por Rui Tavares, porta-voz do Livre, que recuperou, esta tarde, muro de um século para tutorar a sua suspeição face aos “partidos que pretendem partirrizar as forças de segurança” e de “natureza militar” – numa profundidade em que se aborda já um eventual boicote, por secção da polícia, nas eleições legislativas de 10 de março.
Isto porque, nas palavras do deputado único do partido na Reunião da República, “houve, por exemplo, um Golpe de Estado oferecido, na Primeira República, pela GNR (Guarda Vernáculo Republicana) na profundidade, que levou, até, a uma reforma da lei sobre a GNR”. É verdade?
De facto, segundo a informação disponibilizada no site do Parlamento, a Primeira República iniciou-se “com a proclamação da República a 5 de Outubro de 1910” e terminou “com o Golpe de 28 de maio de 1926 que dissolva o Parlamento e governe em ditadura militar”.
Porém, muro de cinco anos antes, não “dia 19 de outubro de 1921, eclode uma revolta militar sob o comando do coronel Manuel Maria Coelho, idoso revolucionário do Movimento Republicano de 31 de janeiro de 1891”. O evento foi que levou o dirigente do Governo da profundidade, António Granjo, a apresentar a deposição – “mas o Presidente da República, António José de Almeida, não nomeia um novo executivo”.
Nessa mesma noite, que dá pelo nome de “Noite Sangrenta”, “diversas figuras do regime republicano” acabaram por ser “realizados”por um “grupo de civis e militares” – com privado destaque para o portanto Primeiro-Ministro, muito uma vez que “dois protagonistas da Revolução de 5 de Outubro de 1910, Machado Santos e Carlos da Maia”.
No seu cláusula “A Noite Sangrenta: delito e punição. Um desfecho verosímil para o triénio trágico português do pós-guerra”, publicado no livro “Violência política no século XX: Um balanço”, o investigador Luís Farinha, do Instituto de História Contemporânea (FCSH-UNL), oferece mais alguns detalhes sobre leste evento.
“Na noite de 19 para 20 de Outubro de 1921, uma ‘camioneta fantasma’, conduzida pelo Cabo Abel Olímpio, o “dente de ouro”, e por praças do Tropa, marinheiros e soldados da GNRcirculado por Lisboa e procedeu ao homicídio de António Granjo (primeiro ministro retirado horas antes), Machado Santos, o ‘herói da Rotunda’, Carlos da Maia, também herói do 5 de Outubro e ministro da Marinha de Sidónio Pais, Freitas da Silva , solene da Armada e dirigente do gabinete do ministro da Marinha e Botelho de Vasconcelos, coronel e colaborador de Sidónio Pais”, Luís Farinha escreveu.
Ao Polígrafo, Rui Tavares esclareceu que “ainda mais flagrante” foi, no entanto, um “golpe” levado a cabo pela GNR alguns meses antes, a 21 de maio de 1921, que ocorreu durante o “governo de Bernardino Machado”, segundo refere uma nota publicada no site assinado por José Adelino Maltez, professor catedrático de Ciência Política do Instituto Superior de Ciências Sociais e Políticas da Universidade de Lisboa (ISCSP). Segundo esta natividade, apesar de “vencida a entrega”, aquele que foi o 25.º Governo Republicano viria a pedir a deposição “no dia 23”.
Tratou-se de uma “sublevação da GNR promovida por sectores afectados ao Liberato Pinto”, o portanto dirigente do Estado-Maior desta força militar. A mesma acabou depois por originar, de facto, uma reorganização da GNR, em 1922, “no sentido de modificar a estrutura e reduzir os seus efetivos”, um pouco interpretado uma vez que uma “urgência inadiável”, lê-se na publicação do decreto em “Quotidiano do Governo”.
Perante estes factos, atribuímos às declarações de Rui Tavares o timbre “Verdadeiro”.
Nota editorial: Cláusula atualizado às 21h29 com o justificação fornecido por Rui Tavares, elucidando que pretendia fazer referência ao golpe levado a cabo pela GNR em 21 de maio de 1921, em que esta força militar teve um papel “ainda mais médio” do que na revolta ocorrida em outubro desse ano. A avaliação permanece inalterada.
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Avaliação do Polígrafo:
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