Março 20, 2025
Erva-das-pampas é caso de saúde pública que afeta o litoral
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A erva-dos-pampas é uma planta que tem crescido sem controle em espaços públicos e privados ao longo do litoral, causando alergias e ferimentos a quem interage com ela, avisou uma pesquisadora especialista em plantas daninhas.

Em declarações à agência Lusa, a bióloga Hélia Marchante, professora da Escola Superior Agrária de Coimbra (ESAC), argumentou que a erva-das-pampas está transformada numa ameaça descontrolada e num problema de saúde pública em Portugal, face à sua disseminação crescente pelo território e capacidade de causar alergias fora de época e cortes na pele.

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Com efeito, ao ser originária dos pampas – as planícies da América do Sul que se estendem do sul do Brasil pelo Uruguai e Argentina –, aquela espécie vegetal, cujo nome científico é `cortaderia selloana`, acaba por florescer e soltar as sementes, no hemisfério norte, desde meados do verão até a entrada do outono (época de primavera no hemisfério sul), podendo causar um novo (e tardio) pico de alergias respiratórias na população brasileira.


“Estamos perante um problema de saúde pública”, assegurou a investigadora, garantindo que “já está claro” para a comunidade científica que a planta causa alergias.

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Mas não só: as suas folhas finas e compridas têm o potencial de provocar ferimentos na pele (cortes nas mãos e dedos de quem as manuseie), daí o seu nome `cortaderia`.

Segundo a especialista, a planta invasora é mais perigosa entre meados de agosto (início da floração) e novembro, quando deixa de soltar sementes, principalmente pela ação do vento, sendo o período até maio (quando começa a aparecer) o ideal para a arrancar da terra, sem o perigo de espalhar suas sementes.

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Isso porque, para ser erradicada de vez, a erva-dos-pampas, que pode chegar a quatro metros de altura, deve ser retirada pela raiz, usando instrumentos manuais ou maquinário mais pesado.


Atualmente, já existem campanhas em alguns municípios a avisar a população contra a perigosidade desta espécie exótica invasora, cujo cultivo, criação, comércio, introdução na Natureza e repovoamento é proibido, segundo legislação nacional de 2019, mas cuja dispersão pela berma das estradas, ao longo da ferrovia ou, indiscriminadamente, em terrenos, campos agrícolas e no embelezamento de jardins públicos e privados parece incontrolável.

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Uma campanha em andamento ensina as pessoas a remover as plumas — que podem chegar a um metro de comprimento e onde se concentram milhares de minúsculas sementes que darão origem a outras plantas — e que são a face mais visível e atraente da “tão linda, mas tão perigosa” erva-dos-pampas, que cresce em altura e cuja cor varia do dourado ao prateado.


Embora admita que o cidadão comum não tem meios para fazer o controlo da espécie, Hélia Marchante defendeu que as pessoas podem conter a sua disseminação.

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“Um cidadão que as tenha no seu jardim ou em redor da sua casa e corte as plumas [com uma tesoura de podar, as mãos e braços protegidos e colocando-as num saco fechado no final] está contendo aqueles milhões de sementes que não vão se espalhar”, observou a especialista.

A professora da ESAC, responsável pelo “Life Coop Cortaderia” no Instituto Politécnico de Coimbra, projeto, em andamento até 2028, de educação ambiental e sensibilização de entidades para a gestão dessa invasão biológica que teria chegado a Portugal há cerca de 20 anos, como planta ornamental, “e que explodiu” nessa época na área entre o norte do Porto e o sul de Aveiro.

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As ações de educação ambiental em curso visam, essencialmente, as crianças das escolas, a quem são propostos cinco desafios de ciência cidadã, para que os mais jovens possam ficar conscientes do problema e ajudem a mudar a abordagem sobre a planta invasora.

“Temos coisas como o uso de uma aplicação para porem a erva-das-pampas no mapa, tiram uma fotografia e fica geolocalizada. Ou tirar uma fotografia todos os meses para verem como o ciclo de vida está a mudar, arranjarem campanhas dentro ou fora da escola para eles passarem o problema para a comunidade, fazer ações para controlar, ou seja, envolvê-los um pouco e esperar que eles levem isso para casa”, explicou Hélia Marchante.

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O projeto em andamento, que envolve a remoção da espécie em mais de mil hectares, sucede a outro, que terminou em 2022, e por meio do qual pesquisadores e parceiros contataram todos os municípios portugueses sobre a periculosidade da planta, embora o recebimento dos alertas, às vezes, não tenha sido a melhor.

O problema não é exclusivamente português – na Europa a expansão da erva-das-pampas se estende pelo sudoeste da França e noroeste da Espanha, até a costa portuguesa de norte a sul — tendo resultado nos projetos internacionais que envolvem, também, pesquisadores franceses e espanhóis.

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Atualmente, segundo Hélia Marchante, o “Life Coop Cortadeira” reúne 190 entidades dos três países envolvidos, desde municípios e comunidades intermunicipais, concessionárias de autoestradas e organismos públicos e privados, onde se inclui, também, uma componente mais formal, de capacitação e formação, em que estes parceiros são convidados a aderir à estratégia de luta contra a espécie invasora.

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