Conhecida por muitos nomes, a resistente antifascista Margarida Tengarrinha faleceu esta quinta-feira, dia 26, aos 95 anos. A notícia foi confirmada pelo PCP, partido em que militou desde os 24 anos. Professora, artista e escritora, Margarida Tengarrinha ficou conhecida pelo trabalho na clandestinidade onde ajudou a falsificar documentos para os militantes comunistas no tempo da ditadura – incluindo Álvaro Cunhal. Foi casada com José Dias Coelho, assassinado pela PIDE em 1961, de quem tem duas filhas, Teresa e Margarida.
Margarida Tengarrinha trocou a vida pacata de quem nasceu numa família de classe média no Algarve, pelo isolamento da clandestinidade – que a fez despedir de uma filha e viver o luto de um marido. Mas para saber toda a história desta resistente antifascista é preciso recuar no tempo. Com o país mergulhado numa ditadura sem aparente termo à vista, o espírito revolucionário de Margarida revelou-se logo nos tempos em que frequentava a Escola Superior de Belas-Artes de Lisboa – onde conheceu José Dias Coelho, com quem vem a matrimoniar já na clandestinidade. Primeiro do Movimento de Unidade Democrática Juvenil (MUD), as manifestações contra as armas nucleares e a NATO levaram-na a ser expulsa da escola onde lecionava. Nesse mesmo ano, de 1952, juntou-se ao PCP e, com ajuda da conhecida feminista Maria Lamas, começou a redigir e ilustrar um suplemento do jornal O Século, sob um pseudónimo.
O talento para as artes dos dois jovens levam-nos a ser convidados pelo partido para uma posição que a obrigava à clandestinidade: a falsificação de documentos necessários aos militantes para circularem sem serem apanhados pela PIDE. O “romantismo revolucionário”, porquê conta numa das últimas entrevistas ao Expresso, levou-os a concordar os riscos e a concordar a missão.
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Nos anos que se seguiram, Margarida e José trocaram muitas vezes de nome e viveram muitas vidas. Com uma autêntica oficina de falsificação de documentos às costas, o par foi trocando de lar cada vez que as suspeitas aumentavam. “Para cada novidade identidade tínhamos de remendar uma história. O sítio onde tínhamos nascido, o lugar onde tínhamos morado antes, etc. Arranjávamos sempre sítios mais ou menos imprecisos, difíceis de identificar”, contou a comunista. É neste clima de basta risco que nasce a primeira filha, Teresa, de quem se têm de despedir quando o cerco do Estado Novo aperta.
É já com uma segunda filha nos braços que José Dias Coelho é morto pela PIDE, a 3 de janeiro de 1960. A morte foi imortalizada pela melodia de Zeca Afonso, “A Morte Saiu à Rua”. Em seguida a morte do marido, Margarida Tengarrinha secção para Moscovo com Álvaro Cunhal. Em 1968 regressa a Portugal e torna-se uma das redatores principais do Avante!. Com a revolução do cravos a devolver-lhe o nome de nascença, Margarida integra o Comité Mediano do PCP e ocupa o lugar de deputada entre 1979 e 1983.
A vetustez foi vivida no Algarve, a terreno natal, onde trabalhou porquê professora de arte na Universidade Sénior de Portimão. Aos 95 anos, uma das mais importantes figuras do PCP e do combate à ditadura faleceu. O PCP avançou informações sobre as cerimónias funebres: o corpo estará em câmara ardente na Moradia Mortuária da Igreja do Escola em Portimão, dia 31 de Outubro, a partir das 9h30, saindo às 12.30h para o crematório de Albufeira. A cremação realizar-se-á às 14h.