Num ano em que tudo mudou, e muito mais se prepara para mudar, numa estação em que foi mais o que correu mal do que o que correu muito, o FC Porto não se esqueceu dos seus hábitos vencedores e, neste domingo, conquistou a Taça de Portugal, com um triunfo por 2-1 sobre o Sporting. No Jamor, em mais uma final com prolongamento, os “dragões” jogaram grande secção do tempo em superioridade numérica e acabaram por chegar ao troféu com um penálti convertido por Taremi durante o tempo extra. Foi a 20.ª taça conquistada pela formação portista, a 16.º com Jorge Nuno Pinto da Costa e a quarta com Sérgio Conceição.
Uma estação para permanecer para a história, ou um epílogo para oferecer uma última conquista a um líder que se despede. Eram estas as duas formas de olhar para esta final que fechava mais uma estação de futebol português. Amorim não queria permanecer com o sabor amargo da roteiro numa estação em que as coisas voltaram a percorrer muito – fazer história, seria uma “dobradinha” que fugia aos “leões” desde 2002. Conceição queria adoçar a despedida de Pinto da Costa da liderança portista, e fazer deste último jogo uma última conquista.
O maior duelo para o Sporting seria ultrapassar a sua própria euforia e evitar a soberba de vencedor. E o FC Porto teria de olvidar, durante 90 minutos (ou mais, se necessário), que o opoente que tinha pela frente fez mais 18 pontos no campeonato. Amorim e Conceição jogaram com o que tinham e não se pode manifestar que tenham surpreendido. Nos “leões” a única relativa surpresa foi a inclusão de St.Juste no trio de centrais em vez de Diomande, mantendo-se o jovem Diogo Pinto na marco, enquanto a já anunciada falta do capitão portista Pepe foi colmatada com Zé Pedro.
O jogo começou e foi logo movimentado desde o primeiro minuto. O Sporting tentou uma primeira aproximação logo na globo de saída que acabou com Diogo Costa a antecipar-se a Trincão na pequena dimensão. Logo na resposta, Evanilson acorreu a uma globo longa, Diogo Pinto hesitou em ir ao choque, mas acabou por recompensar com uma boa mediação. Estes primeiros instantes eram uma enunciação de intenções dos dois lados. Ambos estavam preparados para percorrer e sem grande paciência para elaborar.
A globo viajava rapidamente de um lado do campo para o outro, com o Sporting a investir muito nas bolas paradas, o FC Porto a apostar nos ataques de pouca duração, em transição, e com volume de remates. E a história da primeira secção iria passar muito por estas duas formas de jogar. Aos 20’, num quina cobrado do lado esquerdo por Pedro Gonçalves, a globo viajou até ao segundo poste, para um cabeceamento certeiro de St. Juste.
Os “leões” não tiveram muito tempo para saborear a vantagem. Cinco minutos depois, o FC Porto nivelou o marcador. Numa globo bombeada para a dimensão e sem risco aparente, Geny Catamo desfez mal o lance e ofereceu a Evanilson, que aproveitou para fazer o empate com um remate réptil e disposto. O erro não forçado do moçambicano, mais o terror de Diogo Pinto em transpor da sua pequena dimensão, foram a receita para o avançado portista deixar tudo empatado.
As emoções fortes continuaram no relvado do Jamor. Numa globo em profundidade na direcção da marco “leonina”, Galeno correu para a recolher e St. Juste foi detrás dele. No contacto entre os dois, o brasílio caiu já dentro da dimensão e Fábio Veríssimo não teve dúvidas em assinalar penálti e expulsar o neerlandês – mas o VAR viu outra coisa, que a falta era fora da dimensão e o penálti foi convertido em livre directo fora da dimensão, mantendo-se o vermelho a St. Juste.
Com menos um, Amorim remodelou quase de súbito a sua resguardo, com a ingresso de Quaresma para o lugar de Morita. E Conceição mandou a equipa carregar, guardando o reforço do ataque para o início da segunda secção – Taremi foi a jogo para a segunda secção. E o que aconteceu foi o seguinte: os portistas montaram o cerco à dimensão do Sporting, os “leões” ergueram o muro, tão cocuruto e denso quanto podiam, com arame farpado e cacos de vidro no topo.
Foi a segunda secção toda assim. O FC Porto a viver acampado no meio-campo do Sporting, que, por seu lado, só conseguia gerar risco em lances de globo paragem. Mas os “leões” conseguiram fechar o caminho da sua marco durante toda a segunda secção. Para não variar, a final foi para tempo extra, uma vez que aconteceu sempre que Sporting e FC Porto se encontraram na final.
O cerco manteve-se e os “leões” faziam todos os possíveis para proteger o seu jovem guarda-redes. Mas não o conseguiram fazer aos 97’. Evanilson acorreu a uma globo pelo lado recta, Diogo Pinto foi disputar o lance, mas acertou no avançado brasílio. Penálti indiscutível que Taremi, no seu último jogo com a camisola portista, converteu em golo. Teria o vencedor mais alguma coisa para dar? Zero. O FC Porto fechava mais uma era a fazer aquilo que fez muito nas últimas quatro décadas: a lucrar.