O jornalista Fernando Alves vai receber a Medalha de Valor Cultural, atribuída pelo Governo português, em reconhecimento pelo “papel crucial na promoção e divulgação da cultura e da literatura em língua portuguesa”, anunciou esta segunda-feira o Ministério da Cultura.
A medalha, que registra o “trabalho inestimável” do jornalista, numa vida “dedicada à rádio”, será entregue pelo ministro da Cultura, Pedro Adão e Silva, terça-feira, às 10h00, no auditório da Escola Superior de Informação Social, em Lisboa.
Fernando Alves, 69 anos, responsável do programa “Tão perto, tão longe”, da Antena 1, soma mais de 50 de trabalho em rádio. Nascido em Lisboa, o seu trajectória profissional começou em Angola, aos 15 anos, na Rádio Clube de Benguela.
Foi um dos fundadores da cooperativa que esteve na base da rádio TSF, onde trabalhou durante mais de 30 anosdepois de quase dezena e meia na RDP-Antena 1, onde se destacou nos programas de informação e na reportagem, nas décadas de 1970-1980.
Na TSF, editou durante vários anos a informação da manhã e foi responsável e pivô de programas porquê “O postigo da noite”, “Os dias andados”, “Onde nos levam os caminhos”, “A espantosa verdade das coisas”.
A crónica “Sinais”, que manteve numa base diária nesta estação durante várias décadas, “uma apontamento pessoalíssima do marchar dos dias, dos paradoxos, das mais perturbadoras singularidades”, traduziu-se “num combate corpo a corpo com as imagens, as palavras , as ideias, os rumores que dão vento à atualidade”, porquê se lê na apresentação do podcastdisponível na plataforma Apple.
A 29 de setembro dedicou os últimos “Sinais” ao romance Montevidéudo espanhol Enrique Villa-Matas, “uma ficção verdadeira” a partir dos encontros do responsável com o jornalista italiano Antonio Tabucchi.
Fernando Alves abandonou a TSF, optando pela reforma, depois de o World Opportunity Fund (WOF) ter adquirido uma participação maioritária na empresa Páginas Civilizadas, proprietária da Global Media, que detinha a estação.
Em janeiro, as 50 últimas crônicas de “Sinais” foram editadas em livro pela Âncora.
Na apresentação desta obra, lê-se que “o espanto da rádio” chegou “através dos mágicos, os sonoplastas”, com quem aprendeu “alguns segredos que não vêm nos manuais: que a voz é táctil, que a curiosidade do mundo é uma grande liceu; o esplendor das coisas simples, a disponibilidade para a surpresa e para a pergunta.”
No pretérito dia 17, Fernando Alves retomou a reportagem pelo país na Antena 1 com o programa semanal “Tão longe, tão perto”, para desenrolar de novo o “novelo de curiosidade e invenção”, nos mais longínquos dos muito próximos lugares. A primeira emissão, “Solípedes, Conhos e Pirolitos”, escutou vozes da região de Fortaleza de Vide, no Alentejo; a segunda, “Quando saímos da cozinha é que somos cozinheiros”, subiu à serra do Espinhal, a última serra antes do mar, no concelho de Penela, para saber das pessoas que ainda a habitam.
Em 2010, foi condecorado com o título de comendador da Ordem de Valor Social.
Em 2015, a Escrita atribuiu-lhe o Prémio Curso Jornalismo, pelo “trabalho desenvolvido em prol e em resguardo da língua portuguesa”.
“Porque é que a Cultura vai sempre no término dos noticiários? Porquê?”, interrogava-se Fernando Alves, em entrevista ao jornal Público, no pretérito dia 7 de janeiro, confirmando o proclamação do Nobel da Literatura porquê uma das questões abordadas.
“Abrem [os noticiários] às vezes com banalidades completamente patéticas, uma coisa que um político disse na véspera e que já foi dita 20 milénio vezes. Tens ali um tipo a desenredar pólvora de outro calibre e fica [a Cultura] para o término? É a velha paginação do antes do 25 de Abril: Presidente da República, Governo, Estrangeiro, Desporto, e Cultura nem conta. Porque é que estamos prisioneiros dessa ordem?”
Fonte
Compartilhe: