Missionária português em Pemba destaca papel da Igreja Católica no escora aos deslocados, que fogem da violência
Pemba, Moçambique, 23 jun 2024 (Ecclesia) – A missionária portuguesa Fátima Castro, em Pemba desde 2021, lamenta que a crise no setentrião de Moçambique esteja “esquecida” e destaca o papel da Igreja Católica no escora aos deslocados, que fogem da violência.
“Temos sempre a esperança de que Cabo Ténue volte às agendas mundiais”, assinalou a convidada da entrevista conjunta Ecclesia/Renascença, emitida e publicada aos domingos.
A leiga da Arquidiocese de Braga agradece a atenção que o Papa tem devotado à situação, colocando “o mundo a rezar por oriente povo que vive numa jacente Via Sacra”.
A trabalhar uma vez que voluntária em Pemba, com a responsabilidade de gerir a Paróquia de Santa Cecília de Ocua – confiada à Arquidiocese de Braga -, Fátima Castro assinala que, mesmo no interno de Moçambique, “muitas vezes não se fala de Cabo Ténue”.
A paróquia sofreu um primeiro ataque em outubro de 2022 e outro em fevereiro deste ano, com consequência a vários níveis.
“As realidades mudam porque, se a nossa vinda era mais pastoral e de alguma forma social, a veras também nos obriga a produzir outros tipos de pastoral, uma vez que a pastoral do sofrimento, a pastoral da presença, da escuta, do estar, do seguir”, precisa a entrevistada.
Segundo a missionária portuguesa, as pessoas “deslocam-se por susto, por instabilidade, por vários fatores”.
Questionada sobre o impacto dos ataques jihadistas na região, a leiga da Arquidiocese de Braga sublinha que “mais do que nunca, faz sentido a presença cá”, assumindo que “trespassar não é opção”.
“Nunca tive vontade de trespassar, porque também entendo que é esta profundeza que eles mais precisam de nós”, declara.
A Paróquia de Santa Cecília de Ocua, com um território superior ao da Arquidiocese de Braga, tem 98 comunidades, servidas por um sacerdote e por Fátima Castro.
“Temos toda a secção pastoral, a secção dos sacramentos, da formação; depois temos a secção social, que é a secção dos projetos, o projeto de amamentação e nutrição, o projeto de escora às meninas, às raparigas, o projeto dos campos de reassentamento”, explica.
A missionária portuguesa destaca que a Arquidiocese de Braga está na “primeira risco”, com o envio de recursos humanos e financeiros, “mesmo nas situações de maior emergência”.
“Nós não ajudamos nem raça, nem cor, nem religião. A nossa missão é com todos”, declara.
A entrevistada fala numa “convívio saudável” entre cristãos e muçulmanos, em Pemba.
“Cá vivemos todos uma vez que irmãos e sofremos todos o mesmo, partilhamos todos os mesmos sofrimentos, a mesma vida”, sustenta.
A missionária portuguesa admite, por outro lado, preocupação com a subtracção e mesmo desaparecimento da ajuda humanitária do Programa Nutrir Mundial.
O importante é percebermos que há uma moço que perdeu a mãe e que precisa do leite, ou uma família que não tem vitualhas, porque esse também é um dos graves problemas que está a surgir agora e que futuramente será pior”.
Fátima Castro saúda as iniciativas de divulgação que a Arquidiocese de Braga, através do seu Meio Propagandista, está a promover nas escolas.
“A Igreja é missionária por inerência e não faria sentido, de outra forma, que Braga tivesse uma paróquia e os cristãos de Braga não conhecessem a vida pastoral, a vida religiosa, a vida cultural desta sua paróquia também”, sustenta.
Quanto ao horizonte, a entrevistada adianta que várias iniciativas estão a ser pensadas, na proximidade do 10.º natalício do congraçamento de cooperação entre as dioceses de Pemba e de Braga.
“Temos sempre esta vontade e esta iniciativa de querer fazer mais e melhor por oriente povo”, conclui.
Henrique Cunha (Renascença) e Octávio Carmo (Ecclesia)