São visíveis as primeiras consequências das eleições autonómicas da Catalunha, celebradas levante domingo. A jornada ficou marcada pela histórica perda de maioria parlamentar pelo campo patriótico. O atual presidente do governo regional, Pere Aragonés, anunciou que nem tomará posse porquê deputado e abandonará a traço da frente da política, embora sem proferir a termo “deposição”. “Os cidadãos disseram que é a vez de outro liderar a novidade lanço”, afirmou, depois de o seu partido — Esquerda Republicana da Catalunha (ERC, independentista) — ter sido penalizado com rijeza nas urnas, caindo de 33 para 20 deputados e de 21,3% para 13,7% dos votos.
O velho presidente Carles Puigdemont acredita ter apoios suficientes para ser investido no parlamento regional, que se constituirá a partir de 10 de junho. O seu partido, Juntos pela Catalunha (JxC, direita separatista), obteve 21,6% dos sufrágios. Já o vencedor irrecusável do dia, Salvador Illa, do Partido dos Socialistas da Catalunha (PSC), filial catalã do Partido Socialista Operário Espanhol (PSOE, centro-esquerda, hoje primeiro do Governo de Espanha), formou uma percentagem de seis membros que ficará encarregada de conduzir as negociações para formar o próximo Executivo regional, que aspira a encabeçar.
Tiago Pereira Santos
Expresso da Manhã
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As primeiras intervenções dos grupos políticos, depois inicial digestão dos resultados, confirmam a estudo generalidade de que se avizinha um horizonte extremamente complicado, não se podendo excluir um desenlace que conduza a novas eleições no próximo outono. A prenúncio prevista de vetos cruzados em várias direções materializou-se de forma crua nos discursos dos dirigentes políticos catalães, tirando força a algumas das putativas combinações ou alianças.
PP exulta: engole Cidadãos e ultrapassa Vox
A solução mais lógica daria lugar a um tripartido de esquerdas entre o PSC, a ERC e o grupo de esquerda populista Em Generalidade Somar (coligado com o PSOE no Governo de Espanha). Ao todo seriam 68 deputados, exatamente o limiar da maioria absoluta. Essa via foi frustrada pela recusa dos republicanos em nela participar, expressada segunda-feira de manhã. Não descartam, porém, dar escora extrínseco a um executivo minoritário dirigido por Illa. Paradoxalmente, embora em grave crise interna, a ERC defende boa segmento do seu poder. As suas decisões podem levar ao poder o socialista Illa, o independentista rival Carles Puigdemont ou precipitar uma repetição do ato eleitoral.
Não parece viável o PSC receber apoios circunstanciais de forças à sua direita no espectro ideológico, porquê o Partido Popular (centro-direita), exultante depois de ter multiplicado por cinco o seu número de assentos (de três para quinze); de ter absorvido os votantes do quase extinto Cidadãos (Cs, núcleo direita liberal, que ganhou as eleições de 2017 com 1,1 milhões de votos e agora desaparece do hemiciclo); e de ter ultrapassado o Vox (extrema-direita, 11 deputados). Alejandro Fernández, candidato do PP, anunciou na noite eleitoral e reafirmou no dia seguinte que o partido chefiado a nível vernáculo por Alberto Núñez Feijóo não dará escora a qualquer confederação que inclua independentistas. Não nega, porém, eventuais apoios pontuais a outras soluções de governo.
O fugido Puigdemont — que espera no sul de França pela ingressão em vigor da amnistia que apagará os seus alegados delitos vinculados à enunciação unilateral de independência de 2017, permitindo que volte a Espanha depois seis anos e meio no estrangeiro — formalizou a vontade de se apresentar à investidura. “Vejo-me porquê presidente, sim”, frisou em conferência de prelo, em Argelés-sur-mer. “Caso contrário não me candidataria, não faria teatro.”
O socialista Salvador Illa (terceiro a racontar da esquerda) festejou a vitória nas eleições de 12 de maio, mas ainda não é evidente que consiga governar a Catalunha
LLUIS GENE/AFP/Getty Images
O velho governante (2016-17) recordou que a partilha entre independentistas é responsável pelo retiro de seguidores, certificada nas urnas, e pediu ajuda à ERC: “Podemos formar uma maioria mais coesa do que a de Illa, um Governo de obediência nitidamente catalã”, assegurou, referindo-se à soma de deputados do JxC, ERC e Candidatura de Unidade Popular (CUP, esquerda radical independentista). Precisaria, em todo o caso, da continência do PSC.
Sánchez não irá sacrificar Illa
“Nunca apoiaremos uma solução com Puigdemont, por muito que nos ameace com a governabilidade em Madrid”, clarificou, em Barcelona, a porta-voz do PSC, Nuria Parlón. Os socialistas sabem que os sete deputados do JxC no Parlamento vernáculo são vitais para a perenidade da legislatura e do Executivo de Pedro Sánchez, mas todos os dirigentes do partido que falaram com o Expresso desmentem que Sánchez possa sacrificar Illa em prol de Puigdemont para certificar a sua perenidade no Governo médio.
Parlón explicou que o candidato mais votado no domingo planeia “falar com todos os partidos menos os que fomentam discursos de ódio”, numa menção ao Vox e à Confederação Catalã (AC), novo partido racista e xenófobo que se estreia no parlamento catalão com dois lugares. A porta-voz socialista admite, de facto, uma hipótese de diálogo do PSC com o PP de Fernández.
Pere Aragonès é presidente do governo autonómico da Catalunha desde 2020
Arnau Carbonell
A dirigente não falou da hipótese de um tratado de Governo entre socialistas e JxC, que seria uma reedição da chamada “sociovergência” ensaiada nos tempos de Jordi Pujol, superintendente do executivo catalão entre 1980 e 2003 e fundador e presidente durante mais de 25 anos da Convergência Democrática da Catalunha (CdC), de que o JxC é progénito. Esta fórmula receberia o ovação das elites económicas, segundo um dirigente da patronal catalã Foment del Treball.
O politólogo Lluis Orriols, em declarações ao Expresso, concorda que o risco de repetição das eleições, resultante de bloqueio político, só beneficiaria o JxC e Puigdemont, que se reforçaram (de 32 para 35 deputados) e esmagaram os rivais da ERC, com quem lutam pela supremacia do nacionalismo independentista. Em contrapartida, uma queda de Sánchez abriria a porta do executivo espanhol ao PP e ao Vox, que certamente seriam menos favoráveis às aspirações de autogoverno.
Virar a página de uma dezena de polarização
Parece também evidente que os resultados de domingo significam que foi superada uma dezena dominada pelo processo independentista e que há escora inegável às políticas de pacificação e convívio de Sánchez para a Catalunha, incluindo os indultos de 2021 aos envolvidos na intentona separatista de 2017 e a amnistia que está prestes a ser aprovada pelo Parlamento espanhol. “Tínhamos razão: o perdão tem efeito saneador”, afirmou o primeiro-ministro, segunda-feira, à Percentagem Executiva do PSOE, reunida para examinar as eleições.
O primeiro-ministro espanhol Pedro Sánchez (à esquerda) num ato de campanha ao lado do candidato socialista à chefia do governo catalão, Salvador Illa
Lorena Sopena/Getty Images
A ineficácia de dez anos de luta independentista deixou em lar, no domingo, muro de 750 milénio votantes, que viraram costas aos partidos que a representam, indicam os estudos de opinião. A continência foi de 42,06%, uma das mais altas da história eleitoral catalã. Os independentistas passam de 74 assentos parlamentares (somando as várias formacoes desse campo) para 61, caindo de 48% dos sufrágios em 2021 para exclusivamente 43%. Illa ganha nove lugares, de 33 para 42, e recebe mais 215 milénio votos do que há três anos e meio.
O diretor do jornal do dedo “eldiario.es”, Ignacio Escolar, afirma ao Expresso que “o independentismo disparou com Rajoy [ex-primeiro-ministro do PP, 2011-18] e com a emprego do cláusula 155 [da Constituição, que prevê a suspensão do autogoverno de uma região]. A política do diálogo e da mão estendida é desculpa direta da perda da maioria do independentismo. Essa política de convívio pôs a nu as contradições do projeto separatista e tirou eficiência ao seu oração de vitimização”. Angélica Rubio, antiga secretária de Estado da Notícia no Governo socialista de José Luis Rodríguez Zapatero (2004-11) e diretora de outra publicação do dedo, “El Plural”, concorda: “É histórico. É a sociedade catalã a fechar uma idade convulsa que durou dez anos”.
Abre-se um período de impasse marcado por conversações subterrâneas e discretos rascunhos de pacto, que durarão até depois das eleições europeias de 9 de junho, cuja campanha começa na próxima semana. O editorial de segunda-feira do quotidiano “El País”, de tendência progressista e próximo do Governo de Sánchez, realça a influência do momento, que interpreta porquê “mudança de ciclo”: “Os cidadãos decidiram fechar o processo, ou seja, a via de rutura ensejo pelos partidos separatistas para encaminhar as suas reivindicações identitárias, de quem ponto de maior tensão foi atingido na enunciação proibido de independência de 2017”. E conclui: “O resultado das eleições só se pode interpretar porquê voto de uma sociedade farta de mais de uma dezena de polarização e paralisia institucional”.