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Na alucinante viagem de Dillaz, o tempo perdeu as horas mas o meio de sisudez não se moveu. É ele, o Próprio, com os seus. Ainda é sempre no espaço físico e humano da Madorna, o bairro onde o verbo nasceu, prevenido para os deslizes que a notabilidade ilude.
Tão importante porquê ir é saber voltar à base. À mansão de partida das histórias vívidas e sentidas de alguém que tem olho galeno de realizar aguçar o sutil, e a sublimar esses pedaços de vida em cinema invisível em sala.
Viver os episódios é descrito com danos. E muito pode ter-se mudado ao volta de Dillaz mas há alguma coisa que não mudou: ele e seu instinto verbal. Da boca para fora há sempre um significado até o silêncio tem sentido. Que no novo álbum é uma produção meticulosa, exigente e sofisticada.
Posteriormente a chegada de “Oitavo Firmamento” em 2022, não descansou e deitou mãos à obra. O processo de escrita e concepção instrumental reparado de pronto. A sós ou em estreita colaboração, quer com a cumplicidade da sua equipa Seventy Five, quer com os produtores Fumaxa, Ariel e Migz.
Entre a segunda metade de 2022 e a primeira metade de 2023, os frutos caíram no tombar da árvore. A reta final do ano pretérito seria decisiva para consumir “O próprio”. Posteriormente o último concerto da passeio no final de Novembro Dillaz e a Seveny Five decidiram fechar uma semana inteira para uma sessão contínua de acampamento de escrita final e documentar todo esse processo criativo. O objetivo era evidente: fabricar as músicas que faltavam para o novo álbum e terminar o tempo de ser entregue para mistura e masterização, além de planejar os vídeos para os singles.
A urgência não roubou o talento. Dillaz trouxe várias ideias de batidas que conseguiu estimular coletivamente a originalidade e a inspiração da sua equipa, formada por Ricardo Estevão, Zeca, os gémeos GOIAS (Henrique e António Carvalhal), Monkmsith (Bernardo Cruz) e Xicão. A cumplicidade foi decisiva para decodificar um novo som e um novo ciclo.
A corda esticou mas segura na solidez de uma equipe encabeçada pela visão própria de Dillaz. Os voos cada vez mais altos não o arrancaram de terreno firme. “O próprio” tanto pode ser a lucidez de “Olá”porquê o veneno de “Usurário” ou o travo ácido de “Cantona”porquê o mel da surpresa “Colãs”revelado no ano pretérito, da “Nota Século” partilhada com Julinho KSD ou de um “Alô” que tem Plutónio em subida voz.
Já o r&b sedutor de “Hennesy” pode ser uma companheira para a vida, porquê uma pedra de gelo. E se o corpo reagir, “Habibi” promete ser encantador de serpentes enquanto as paredes do clube se benzem.
“O Próprio” será apresentado ao vivo no Coliseu de Lisboa a 1 de março e a 15 de março no Coliseu Ageas, no Porto.
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