Março 20, 2025
Kalaf: “Isabel dos Santos é o cabrão expiatório de um pouco muito mais nocivo que ainda está presente em Angola. A devassidão é quase cultural”

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Geração 70 em Podcast

Podcast

Nasceu e cresceu em Benguela, Angola. Viveu secção da puerícia com o país em guerra e os pais proibiram-no de galhofar com pistolas. Viajou para Portugal pela primeira vez aos sete anos, por pretexto de um problema de saúde. Com 17 veio para cá com o irmão e nunca mais quis voltar. Hoje vive em Berlim e sente na pele que há “resistência” com os imigrantes: “Ninguém sai do seu país de livre e espontânea vontade. Há uma razão e normalmente é porque um pouco de muito mau aconteceu no país onde nasceram”. Kalaf é o convidado do Geração 70

TOMAS ALMEIDA

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Nasceu em fevereiro de 1978, em Benguela. Os pais estudaram em Portugal mas regressaram a Angola. Eram funcionários públicos e tinham o sonho de ver o país livre e independente do colonialismo.

Para oriente podcast trouxe uma das fotos de puerícia que guarda com mais “carinho”. Foi tirada em 1981, quando tinha três anos. Angola estava em guerra social. “Foi uma fundura desafiadora para as crianças e para os pais, nestes tempos os sonhos tinham teto”, recorda.

TOMAS ALMEIDA

Viveu secção da puerícia com o país em guerra e os pais proibiram-no de galhofar com pistolas. Levava o dia a ler e a riscar com o irmão, que é hoje artista plástico. Angola estava profundamente dividida e a família também. “Tive sempre uma secção da família que olhava para Portugal de uma forma cética e alguns que estavam do outro lado da barricada”, conta.

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O avô era do MPLA e os primos mais velhos estudaram em países soviéticos. “Quando regressaram vinham a falar russo e tinham por hábito conversar em russo entre eles para ninguém deslindar os segredos”, recorda.

TOMAS ALMEIDA

Viajou pela primeira vez para Portugal aos sete anos, por pretexto de um acidente no olho esquerdo. Os médicos angolanos disseram que não havia solução, mas a mãe não desistiu.

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Aos 17 anos veio viver para Portugal com o irmão. As malas ficaram feitas durante dois anos. “Só comprava livros e discos”, recorda.

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O irmão regressou a Angola anos mais tarde. “Eu disse logo que não ia voltar”, afirma. Recorda uma conversa sobre a dupla nacionalidade que teve com o pai, que sempre foi contra “Não é fácil rodear livremente com passaporte angolano. Hoje tenho dupla nacionacionalide”, continua.

TOMAS ALMEIDA

Hoje vive em Berlim e sente “resistência” com os imigrantes – sejam “gold” ou de “baixa renda” – e pede “magnanimidade” por aqueles que, porquê ele, abandonaram o país onde nasceram em procura de uma vida melhor.

Regressando à Angola de hoje mostra-se desiludido com o rumo do país, que ficará para sempre marcado pela passagem da família Dos Santos. “Isabel dos Santos é o cabrão expiatório de um pouco que é muito mais nocivo e que ainda está presente em Angola. A devassidão é quase cultural”, confessa.

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“Tive vergonha alheia dos portugueses que abriram a porta a Isabel dos Santos. Portugal estava a precisar, o quantia era dos angolanos, e ninguém se deu ao trabalho de perguntar se isso era justo para um povo tão sofrido porquê o povo angolano. Podiam ter-se recusado a penetrar as portas ao quantia dela”, continua.

TOMAS ALMEIDA

Nesta conversa com Bernardo Ferrão falou francamente das declarações do Presidente da República sobre a reparação às ex-colónias e diz que “não está preocupado” com quem detém as obras que são do “povo” e reconhece que não há condições em alguns países para cuidar e preservar algumas obras. “Há pessoas que defendem que isso não interessa, importante é repor, mas há certas obras que fazem mais sentido estarem expostas noutro lugar do mundo”, explica.

Kalaf Epalanga é o convidado do novo incidente do podcast Geração 70. É músico, repórter, poeta e historiógrafo. É responsável de vários livros e foi um dos fundadores dos Buraka Som Sistema. Sobre o retorno do grupo, talvez esteja para breve, mas de uma forma “que as pessoas não imaginam”. Ouça a entrevista

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Geração 70 não é um podcast de política ou de economia, nem de artes ou ciência. É uma conversa solta com os protagonistas de hoje que nasceram na dez de 70. A geração que está aos comandos do país ou a caminho. Cá falamos de expectativas e frustrações. De sonhos concretizados e dos que se perderam. Um retrato na primeira pessoa sobre a indelével passagem do tempo, uma viagem dos anos 70 até aos nossos dias conduzida por Bernardo Ferrão

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