Setembro 27, 2024
Lee Miller: um filme convencional sobre alguém que não o era
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Lee Miller: um filme convencional sobre alguém que não o era #ÚltimasNotícias #Portugal

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Quando se prepara um filme sobre uma modelo transformada em fotografa que passou boa parte da sua vida a registar um conflito como a 2ª Guerra Mundial, o mais óbvio que podemos esperar é um tratamento estético exemplar que se afaste das convenções como a vida e a obra da própria fotografa o fez. Se adicionarmos a isto o facto de na realização termos uma antiga diretora de fotografia transformada em realizadora, Ellen Kuras, e um diretor de fotografia, Pawel Edelman, que, entre muitas colaborações, trabalhou exaustivamente no cinema de Roman Polanski, então a fasquia e a exigência estética para levar a vida de Lee ao cinema eleva-se. Porém, esta segunda longa-metragem de Ellen Kuras, seja nessa componente estética, seja num guião que transforma diálogos em segmentos de frases feitas, é tão convencional e rotineiro nos seus procedimentos que nada, além da história da visada, que facilmente encontramos melhor no reino da literatura (veja-se o romance biográfico de Anthony Penrose, As vidas de Lee Millerque insira este filme), sobrevive na memória do espectador.

Talvez haja um único plano e sequência que salte à vista em todo este “Sobe” (Lee Miller: Na Linha da Frente), aquele em que Lee Miller, em visita pelos despojos do conflito bélico mundial, entretanto encerrado com a derrota do Eixo, se posiciona numa banheira na casa que pertenceu a Adolf Hitler e Eva Braun. O arrojo desta foto, tirada pelo seu companheiro de reportagem de guerra, mas orquestrada por ela, mostra automaticamente que estávamos perante uma figura ímpar na sua complexidade intelectual e sentido estético, mas que vive num rígido mundo binário na atribuição dos papeis de cada género na sociedade. Este ponto do “género”, neste cinebiografiaé particularmente importante, pois o filme dá particular atenção à questão dos obstáculos que Lee encontrou para ser uma fotógrafa de guerra pelo facto de ser mulher, ou na sua renúncia em parar a carreira – em tempos de intensificação do conflito –  para se refugiar na proteção do esposo.

Estruturado a partir de uma entrevista entre Lee Miller e um jornalista (Josh O’Connor) em 1977, o filme vai avançando por entre flashbacks do passado e conversas “no presente” sobre as fotografia de Lee, as quais são vistas pelo observador solitário e comentadas pela própria fotografa além do chavão de “são apenas fotos”. Seguimos assim, com este par os tempos boémios e artísticos do pós Grande Depressão, mas pré 2ª Guerra Mundial, onde a instituição do fascismo em algumas sociedades europeias ameaçava a paz em França e no Reino Unido. Foi nessa época que ela conheceu aquele que seria o seu companheiro,  Roland Penrose (Alexander Skarsgård), um artista transformado em soldado da máquina de guerra aliada. Depois de entramos mesmo na fase do conflito, acompanhamos as tentativas de Lee em o seguir no terreno, sendo travada pela rigidez britânica. Com a porta fechada britânica, abriu-se outra na forma de cobrir o conflito do lado das forças norte-americanas, trabalhando a fotografa da Vogue ao lado de um outro fotografo, David E. Scherman (Andy Samberg ),

Captando as imagens do conflito, no durante e no depois, o filme desemboca num ato de explicação das histórias por trás de cada uma das fotografias de Lee, aventurando-se pouco mais além da superfície no estudo da sua personagem.

Uma espécie de “torção” final tenta derrubar de alguma forma o modelo padronizado do sentar no sofá do presente, para falar do passado, mas não dá particular força ou sequer audácia a um filme onde Kate Winslet e Andy Samberg esforçam-se para escapar aos esquematismos. Os dois, sem tentativas de brilho pelo excesso ou mimetismo, ajudam o espectador a superar a rotina formatada de um cinebiografia que se sente feliz apenas com o contar uma história pela sequência de eventos, como se estética não fosse também ela narrativa.

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