“Fui eu e um grupo de amigos que propusemos a Varandas ser candidato a presidente do Sporting”
Futebol e cozinha tradicional portuguesa. Dois mundos aparentemente distantes e que o Solar dos Presuntos tem juntado desde o início da sua história. Estávamos em Outubro de 1974, num Portugal saído da Revolução de Abril, quando Perdão e Evaristo Cardoso abriram um restaurante que se tornaria uma referência da cidade de Lisboa.
Evaristo sempre teve uma relação próxima com o mundo do futebol, cimentada no tempo em que trabalhou na Federação Portuguesa de Futebol uma vez que responsável de sustento dos jogadores da Seleção. Foi nessa requisito que viajou para o Mundial do México, em 1986.
O fundador do restaurante faleceu em 2022, mas deixou o negócio nas mãos da família. O rebento Pedro Cardoso é, já há vários anos, o varão ao leme do Solar dos Presuntos. São muitas as figuras do futebol com as quais manteve sempre uma relação próxima, desde Pinto da Costa “que adora a lampreia”, uma vez que diz, a Eusébio, Rui Costa, Jorge Mendes, Jorge Jesus ou Frederico Varandas, entre tantos outros.
Pedro Cardoso considera-se um sportinguista ferrenho que vive intensamente os momentos do seu clube.
“Fui apoiante de Bruno de Roble até uma período em que já não dava para apoiá-lo”, revela.
“Quando ele começou a ter um comportamento mais estranho, lembro-me de ter feito um organograma sobre uma eventual futura direção do Sporting. Tinha posto Rogério Alves à cabeça e logo a seguir Frederico Varandas.”
Depois dos ataques à Ateneu, em 2018, a graçola tornou-se mais séria.
“Eu e um grupo de amigos falámos com Rogério Alves e ele disse que não estava disponível. Foi portanto que propusemos a Varandas ser candidato a presidente do Sporting. É aí que tudo começa”, lembra.
O atual presidente do Sporting, segundo o camarada Pedro Cardoso, já tinha essa vontade em mente e o processo começou a desenvolver-se. “Ele sabia muito das suas capacidades porque é um varão habituado a gerir equipas e a verdade é que tem feito um magnífico trabalho no Sporting.”
“Levámos Jesus para um cruzeiro porque ele estava pleno de temor dos No Name Boys”
Jorge Jesus é um dos melhores amigos de Pedro Cardoso. “Conheci-o ainda no tempo em que ele treinava o Estrela da Amadora. Já são muitos anos. Mais tarde, quando ele passou a primeira vez pelo Benfica, fui eu que o apresentei ao Varandas porque o Varandas disse-me que queria conhecê-lo.”
O proprietário do Solar dos Presuntos recorda os momentos conturbados quando Jorge Jesus saiu do Benfica e foi treinar o Sporting, portanto presidido por Bruno de Roble. “Essa teoria de Jesus poder ser treinador do Sporting nasce no Solar num jantar em que estava o Bruno de Roble.”
Pedro Cardoso diz que, nessa profundidade, Jorge Jesus ficou apreensivo com a mudança.
“Quando ele saiu do Benfica, tivemos de tirá-lo de cá por uns dias porque ele estava pleno de temor. Só dizia que os No Name Boys iam parti-lo todo.” Foi portanto que Pedro Cardoso sugeriu um cruzeiro.
“Fizemos graduação em Novidade Iorque. Quando lá chegámos, fomos a um restaurante nipónico. Ele começou logo a refilar e a proferir que nem serviam pão.” Jorge Jesus não come mesocarpo, mas Pedro Cardoso lembra que nesse dia abriu uma exceção: “Vieram umas tabuazinhas de wagyu [bife japonês] e ele chateado por serem tão pequenos: ‘O que é isso? Tragam umas tábuas grandes’, disse ele. Quando veio a conta, percebeu que era melhor ter comido peixe.”
O gerente do Solar dos Presuntos diz também que “o melhor que se pode dar a Jorge Jesus depois de uma roteiro é uma cabeça de garoupa e não falar de futebol”. “A primeira coisa que faz quando chega a Portugal, é ir ao Solar dos Presuntos. E sei que ele já está com saudades.”
“Quando faz graduação em Portugal, (Beckham) pede-me para lhe levar comida ao avião”
Adele, Madonna ou Roger Waters são alguns dos nomes que já passaram pelo Solar dos Presuntos. Para Pedro Cardoso tornou-se procedente ver figuras mundiais sentadas à mesa do seu restaurante. Diz que tudo isso se deve ao seu pai, Evaristo, que começou o negócio: “É sempre um orgulho receber essas pessoas e fico fascinado uma vez que tudo aquilo que o meu pai conseguiu fazer com o Solar dos Presuntos.”
No caso de Adele, recorda-se que a primeira vez que a cantora esteve no Solar, ele nem deu por isso: “Depois ficámos com uma relação gira. Ela adorou ter lá estado.”
Confessa que, apesar do hábito, não queria crer quando David Beckham entrou no restaurante. “Foi há uns 15 anos, ele ainda jogava. Depois disso, esteve lá mais duas vezes. Noutros momentos, quando faz graduação em Portugal, pede-me sempre comida para levar no seu avião.”