Março 20, 2025
Lili Caneças: “Desde que nasceu que provocou polémicas, aos 10 anos os meus melhores amigos eram um preto e outro gay” – Celebridades

Lili Caneças: “Desde que nasceu que provocou polémicas, aos 10 anos os meus melhores amigos eram um preto e outro gay” – Celebridades

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Sabe quando sai de perto de alguém para se sentir revigorado? Há qualquer coisa em Lili Caneças que sabe a chuva gelada numa rosto cansada. “Quando nasci a minha mãe disse que o primeiro som não foi um pranto de bebê, mas uma gargalhada”, conta. “Nasci de muito com a vida.” Da moça que subia as bainhas das saias da farda todos os dias com alfinetes à revelação do diretor da escola à Alice do País das Maravilhas numa das icônicas festas do Lux, Lili pôde muito muito ser apresentada porquê ouvir Cate Blanchett expressar no outro dia numa apresentação de um livro sobre “mulheres difíceis”: “Uma mulher que ninguém sabia o que fazer com ela ao início.” O mais inesperado ainda é que, porquê ela, consiga continuar sem se encaixar em lado nenhum, tão original quanto elas mesmas. “Desde que nasci que provocasse polêmicas, aos 10 anos os meus melhores amigos eram um preto e outro homossexual. Fui visionária num tempo de ditadura.” Hoje diz-se mais modesto, também no estilo, porquê na última sarau da Voga em que poderia ter abusado nos brilhos, mas escolhi uma opção de olhar mais comedida. Aos 50 retalhado o cabelo, que lhe dava pela cintura, pequeno, com os anos foi deixando de usar minissaias, arrumou os seus vestidos Fátima Lopes transparentes, com rachas e diz que sente preocupação privativo em tapar a flacidez dos braços que, mesmo indo religiosamente ao ginásio três vezes por semana, a atingiu. Tem 79 anos e veste o que lhe apetece. “A idade é um número e o meu corpo não me deu sinal para adoçar”, explica. No entanto, há coisas que agora “seria incapaz” de usar. “Não é pelo que os outros pensam, mas é que não me preocupo mesmo – há 40 anos que sou divulgado… Se eu me preocupar fosse [risos]. Tenho é uma noção estética do que sabor ou não sabor. Porque quem gosta de mim gosta, quem não gosta vai sempre expressar mal.”


Lili Caneças
Lili Caneças
Foto: Mariline Alves




Nasceu a sorrir e continua a ser a primeira coisa que faz todas as manhãs. “É fantástico”, repete ao espelho, o rosto ainda desmaquilhado, o cabelo por amaneirar. Quando sai à rua relata que muitas são as mulheres que lhe dão abraços, que agradecem a inspiração que lhes passam, “que se maquilham por elas, fazem manobra por elas, usam saltos altíssimos”. Responde-lhes com franqueza: “Ó querida, se eu consigo, você também consegue.” “E depois muitos comentaram o facto de eu viver sozinha”, acrescenta. “Há mulheres que não conseguem viver sozinhas, não conseguem estar sozinhas. E eu desde que me divorciei há 40 anos que vivo sozinha. Só que eu não estou sozinha – estou comigo mesma. Sou a minha melhor companhia.” Não são os saltos que lhe dão fundura, é a sua espinha dorsal: “As mulheres cada vez têm mais inveja uma das outras e são também mais críticas. Se nós nos juntássemos poderíamos mudar o mundo… Às vezes ouço um ‘Ó velho, estás tão ridículo’, mas é vasqueiro ter coisas nas minhas redes [sociais] que sejam muito operacionais. Vivo muito com a minha consciência.” Por muito que o mundo nos tente sistematicamente convencer do contrário, não tem sido a formosura a dar o verdadeiro poder às mulheres. Porquê Naomi Wolf, autora de O Mito da Venustidadeconcluiu recentemente numa entrevista quem dita as regras não são as mais bonitas ou as que seguem um padrão rígido e pré-estabelecido, mas as que atingiram as suas conquistas pessoais e profissionais. As que têm carisma, personalidade e principalmente as que não têm susto de serem elas próprias. E isso são coisas que só a idade pode trazer.

*Excerto publicado originalmente na revista dos 35 anos da Máxima, em novembro de 2023.


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