Novembro 18, 2024
eficiência energética cresce em Entrecampos
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Este artigo foi originalmente publicado na edição nº 153 da Edifícios e Energia (Maio/Junho 2024).

A câmara municipal de Lisboa uniu esforços com a Gebalis, empresa municipal responsável pela gestão dos bairros municipais da capital, e a Lisboa Ocidental SRU – Sociedade de Reabilitação Urbana para fazer erguer um projecto em Entrecampos que pretende ser um ponto de viragem quanto ao conceito de habitação municipal em Lisboa.

A empreitada, totalmente financiada pelo Plano de Recuperação e Resiliência (PRR), insere-se na Operação de Loteamento das Forças Armadas e prevê a construção de 476 habitações, bem como a criação de espaços verdes, zonas de comércio e equipamentos de apoio às famílias, como uma creche.

O projecto está enquadrado no Programa de Renda Acessível, um programa ao qual as pessoas se candidatam para obterem habitação numa das freguesias da cidade. “Nesta intervenção, a sustentabilidade energética actua como eixo de uma solução exequível, actual e durável que oferece aos residentes condições adequadas de conforto com elevado desempenho energético”, começa por dizer Susana Rato, arquitecta da SRU. Actualmente, já foram entregues 256 apartamentos nos lotes 4, 5 e 9 e encontram-se ainda em obra os restantes 220 apartamentos que terão lugar nos lotes 7 e 10.

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Para esta intervenção foram traçados vários objectivos no que diz respeito à eficiência energética. Entre eles, Susana Rato destaca a utilização de energias renováveis – nomeadamente sistema fotovoltaico nas coberturas dos edifícios para produção de energia (águas quentes sanitárias e aquecimento ambiente) –, a utilização de bombas de calor eficientes, a implementação de soluções que promovem o bom desempenho passivo (isolamento, orientação, sombreamento, vidros duplos), a garantia de que todas as habitações recebem pelo menos uma hora de radiação solar directa no período do ano mais desfavorável e a selecção de materiais sustentáveis.

O reforço do enquadramento legislativo para o cumprimento das exigências para a classificação nZEB (edifícios com quase zero consumo de energia), em concordância com o Regulamento de Desempenho Energético dos Edifícios da Habitação, resultou, no caso do edifício-piloto, na obtenção de classificação nível A+ no sistema LiderA. Não estão instalados quaisquer equipamentos de combustão e “os sistemas técnicos dos edifícios de habitação funcionam com recurso a sistemas centralizados e de produção de energia eléctrica para autoconsumo”.

A cobertura dos edifícios é composta por sistemas fotovoltaicos instalados em canópias, o que, em dias de chuva ou sol intensos, também funciona como protecção para os equipamentos instalados nas coberturas.

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OS SISTEMAS CENTRALIZADOS

Os sistemas de aquecimento centralizado não são novidade nos edifícios municipais para habitação pública. Para o coordenador do departamento de Manutenção da Gebalis, Pedro Cardoso, os critérios de desempenho energético e os investimentos em construção de habitação pública trazem consigo “uma aposta ainda maior na neutralidade carbónica das construções, sendo para isso indispensável a implementação de soluções activas como os sistemas de climatização e de aquecimento de águas quentes sanitárias”. E recorda que o primeiro sistema de aquecimento centralizado instalado remonta a 2017. Uma solução “composta por uma bateria de sete colectores solares, destinada exclusivamente à produção de águas quentes sanitárias das sete fracções que integram o edifício”. Até então, as soluções para os sistemas de águas quentes sanitárias tinham recaído, maioritariamente, em sistemas individuais (colectores solares) dos tipos termossifão (em que o depósito do painel solar fica instalado por cima deste no telhado) ou de circulação forçada (o depósito fica inserido dentro da habitação).

Em Entrecampos, a situação é diferente e a escolha passou por um sistema centralizado de produção de energia térmica. Ao contrário dos colectores solares térmicos, “estas instalações e [estes] equipamentos não tiram proveito directo da fonte solar; são formados por um conjunto de bombas de calor e de circulação, por depósitos de inércia e por uma rede de tubagens e equipamentos acessórios que distribui o calor produzido a partir de energia eléctrica aos diferentes apartamentos. Por complemento ao aquecimento de águas quentes sanitárias, esta solução permite o aquecimento ambiente através de radiadores hidráulicos integrados no circuito”, explica Pedro Cardoso.

O responsável acrescenta ainda que estes edifícios “estão também equipados com unidades de produção para autoconsumo, que minimizam o consumo de energia eléctrica da rede para o funcionamento de instalações e serviços comuns, como é o caso da iluminação, dos elevadores e dos sistemas de climatização e de aquecimento de águas quentes sanitárias”.

A APOSTA NO FOTOVOLTAICO

A cobertura dos edifícios é composta por sistemas fotovoltaicos instalados em canópias, o que, em dias de chuva ou sol intensos, também funciona como protecção para os equipamentos instalados nas coberturas. Estes sistemas produzem energia eléctrica para o aquecimento de águas e para o aquecimento ambiente.

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De acordo com o caderno técnico do projecto, “a energia excedente gerada pelos painéis fotovoltaicos, nomeadamente no Verão, é utilizada no edifício para outros usos comuns – como iluminação interior ou elevadores – ou injectada na rede”, sendo que é referida a possibilidade de, no futuro, este projecto vir a integrar uma comunidade de energia renovável.

128 HABITAÇÕES CONCLUÍDAS
Neste momento, já se encontra concluído o edifício-piloto (lote 4). Tem 128 habitações distribuídas por oito pisos, e um piso térreo, num total de 13 500 m2. A par do edifício-piloto, também os lotes 5 e 9 estão concluídos, com 64 unidades de habitação cada um e uma área bruta total de 5 640 m2.

Em curso encontram-se ainda as obras do lote 7, do lote 10 e das zonas de estacionamento e de jardim. Ao contrário dos outros edifícios, estes terão mais um piso acima do solo, sendo que o lote 7 será composto por 152 habitações. Terá igualmente uma creche, uma lavandaria e um espaço para comércio. A obra deste edifício deverá estar concluída em 2025. O lote 10 terá um total de 68 habitações.

AS DIFICULDADES ATRAVESSADAS

Existem várias dificuldades na gestão de um empreendimento como este. A dimensão, a novidade de algumas soluções e os entraves que ainda existem do ponto de vista técnico são algumas delas. A habitação pública tem características diferentes da habitação privada. Desde logo, não gera lucro, o que muda todo o balanço. No entanto, Pedro Cardoso recorda que é importante “encontrar um equilíbrio entre os benefícios de desempenhos energéticos excepcionais e os encargos da manutenção dessas instalações e [desses] equipamentos por forma a não desequilibrar a balança entre a receita e a despesa. O impacto económico das soluções definidas em projecto deve, por isso, considerar os encargos futuros associados à manutenção e à gestão dessas instalações”.

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Pedro Cardoso indica que gerir edifícios nZEB e os seus sistemas individuais e centralizados de produção de energia térmica não é uma tarefa livre de dificuldades. Ainda assim, prefere ver o copo meio cheio quando diz que essas mesmas dificuldades “são também os desafios e as oportunidades da Gebalis”. O desenvolvimento profissional e a aposta na formação, o trabalho junto das comunidades e o desenvolvimento de estratégias de gestão sustentáveis e rentáveis são os maiores desafios associados à coordenação destes edifícios.

“Existem dificuldades associadas à gestão técnica e permanente das instalações e [dos] equipamentos e ao rigoroso cumprimento dos planos de manutenção preventiva, essenciais à segurança, à longevidade e ao bom funcionamento dos sistemas”, refere. A transição energética é um processo complexo e que implica conhecimento especializado. Tendo isto em conta, a escassez de mão-de-obra qualificada é um factor que, segundo o coordenador do departamento de Manutenção da Gebalis, “contribui para procedimentos de concurso pouco participados e níveis de serviço desadequados, sobretudo no que respeita aos tempos de resposta”.

Pedro Cardoso considera que a gestão de energia é uma dificuldade e, simultaneamente, uma oportunidade para a sensibilização de comunidades com vista à alteração de comportamentos. Afinal de contas, “de pouco serve a elevada eficiência energética dos equipamentos
se a utilização não for cuidada e ambientalmente sustentável”. Um outro desafio para a Gebalis, no que diz respeito à gestão das instalações, tem a ver com os perfis de consumo dos moradores: “é necessária uma atenção permanente e uma adequação dos princípios de funcionamento do sistema para que se produza na medida adequada e no tempo certo, antecipando as necessidades e compatibilizando-as com a produção em períodos com menor encargo energético na perspectiva ambiental e financeira”, explica.

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Outro aspecto que Pedro Cardoso faz questão de salientar é a ausência de regulamentação, orientações e incentivos à criação de comunidades de energia renovável, algo que, no seu ponto de vista, incrementaria os benefícios ambientais e económicos associados à actividade de produção de energia.

Fotografia de destaque: © Shutterstock

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