Novembro 13, 2024
Há mais espaços culturais desaparecendo em Lisboa: além da Casa Independente, Zona Franca dos Anjos e Arroz Estúdios em risco de fechar
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Há mais espaços culturais desaparecendo em Lisboa: além da Casa Independente, Zona Franca dos Anjos e Arroz Estúdios em risco de fechar #ÚltimasNotícias #lisboa

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A Zona Franca dos Anjos se junta à lista cada vez maior de espaços culturais e associativos de Lisboa em risco de fechar, ou que já fecharam, devido à pressão imobiliária que afeta a cidade.

Funcionando há 12 anos no térreo de um prédio na Rua de Moçambique, nos Anjos, a Zona Franca dos Anjos terá de deixar o espaço até 31 de dezembro, já que a senhoria decidiu não renovar o contrato de aluguel, contou à agência Lusa a presidente daquela associação cultural sem fins lucrativos, Patrícia Azevedo.

Quando receberam a comunicação de não renovação do contrato, por parte da nova proprietária (filha da anterior, que morreu no ano passado), os responsáveis ​​pela associação tentaram entender se haveria espaço para negociação. Eles estavam disponíveis para passar a pagar um aluguel de mil euros, em vez dos atuais 763 euros, por um espaço que está “bastante degradado”, e se comprometeram a realizar as obras necessárias. Mas a senhoria “não se interessou”.

Segundo Patrícia Azevedo, em um dos contatos a senhora disse a eles: “Para minha mãe não era um negócio”. Enquanto isso, os vizinhos do 1º andar “também receberam ordem de despejo”. Passado o choque inicial e algum tempo “assimilando a ideia”, os responsáveis ​​pela Zona Franca dos Anjos marcaram uma assembleia geral para decidir o que fazer. “Vamos resistir. Não faz sentido para nós sairmos sem nenhuma luta, baixar os braços. Sem ter alternativa de espaço, não saímos”, disse Patrícia Azevedo.

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A Zona Franca dos Anjos recebe concertos, exibição de filmes e ‘workshops’, sendo a maioria desses eventos “gratuitos ou de doação gratuita”. “Estamos prestando um papel social muito importante: damos palco para artistas sem espaço em outras salas”, ressaltou Patrícia Azevedo. O trabalho de Patrícia na Zona Franca dos Anjos, como as cerca de dez outras pessoas que comandam a associação, não é remunerado. “Somos todos voluntários”, disse ele. O aluguel e a manutenção do espaço são pagos com o valor cobrado pelas refeições que servem na cantina social, “um dos pilares” da Zona Franca.

A cozinha onde as refeições são preparadas é cedida às quartas-feiras para uma cozinha solidária para moradores de rua e, sempre que necessário, para a Cozinha Migrante dos Anjos, que costuma funcionar na Disgraça. Patrícia Azevedo apela para que se visite a associação, para entender o que está acontecendo por lá. “Venham conhecer o espaço”, desafiou.

O eventual fechamento da Zona Franca dos Anjos é mais um a se juntar aos que têm acontecido nos últimos anos em Lisboa, ou estão em vias de acontecer. Com o aumento dos preços do aluguel e da compra de imóveis, moradores e associações têm sido forçados a mudar de área da cidade ou fechar permanentemente. Foi o que aconteceu, por exemplo, com o Grupo Excursionista e Recreativo Os Amigos do Minho, na Rua do Benformoso, e o Sport Club do Intendente, no Largo do Intendente, há cerca de seis anos, e a Crew Hassan, na área dos Anjos, em 2023. E é o que pode acontecer com Arroz Estúdios, Casa Independente, Sirigaita, Sociedade Musical Ordem e Progresso (SMOP) e Academia de Amadores de Música.

A ‘Arroz’ é uma associação sem fins lucrativos que está ‘escondida’ atrás de um muro na Avenida Infante Dom Henrique desde 2019 e tem “uma programação praticamente diária”, que inclui sessões de cinema ao ar livre, shows, ‘live jams’ , eventos de música eletrônica, mercados e exposições. Além disso, estúdios de artistas estão instalados lá. O processo de venda do terreno onde a ‘Arroz’ está instalada “ainda está em andamento”. “Por enquanto, não temos uma data oficial de saída, mas pode acontecer a qualquer momento”, disse à Lusa a gestora dos estúdios e residências artísticas da Arroz Estúdios, Cátia Ciriaco. Os responsáveis ​​por este espaço estão “em contato com várias Câmaras Municipais, a fim de encontrar uma solução para a associação, porém sem sucesso”.

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Também tentando encontrar um espaço alternativo está a Casa Independente, que funciona há 12 anos em um prédio no Largo do Intendente e do qual tem de sair até março de 2026. “Estamos tentando que a Câmara Municipal de Lisboa nos ajude a encontrar um lugar para alugar, porque o mercado está absolutamente impossível”, disse à Lusa uma das sócias daquele espaço cultural, Patrícia Craveiro Lopes. Até o contrato acabar, a Casa Independente segue de portas abertas. “Estamos com esperança que a Câmara nos consiga ajudar a encontrar um espaço. Estamos com esperança, mas continuamos à procura”, disse a responsável, lamentando que Lisboa esteja “a perder pontos de encontro”.

A dois passos da Casa da Independente, na Rua dos Anjos, há outro espaço em risco de fechar: a Sirigaita, associação que acolhe grupos e projetos coletivos. Aquela associação, onde todos são voluntários, recebeu uma carta do dono do prédio para deixar, até fevereiro deste ano, o térreo que ocupa desde o fim de 2018.

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“Em fevereiro não entregamos as chaves, e continuamos a pagar a renda”, disse à Lusa Marco Allegra, membro da Sirigaita, referindo que têm tentado encontrar um espaço alternativo, “seja no mercado ou falando com a Câmara de Lisboa e juntas de freguesia “, mas “sem sucesso”. “O mercado é impossível. Fizemos umas tentativas sem êxito: os preços são mesmo muito elevados, cada vez mais – e sinceramente não gostamos da ideia que o dinheiro que recolhemos dos nossos sócios seja destinado a alimentar a especulação imobiliária que estamos a ver hoje em Lisboa”, disse Marco Allegra. Eles sentem que o trabalho que fazem é “muito valorizado” pelo governo local. “Mas ninguém quer disponibilizar espaços para nós –e, mais em geral, para muitas coletividades em risco”.

Em outra região da cidade, perto da Rua das Janelas Verdes, o plano da SMOP é também resistir. “Esse espaço foi comprado há coisa de um ano e pouco por um grupo. Querem despejar todo mundo para fazer um Hostel“, contou à Lusa, em outubro do ano passado, o presidente da SMOP, fundada em 1898 e que está no primeiro andar de um prédio na Rua do Conde desde 1892-93, antes mesmo da formalização da coletividade.

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Naquela área da cidade “tinha uma série de comunidades, mas hoje em dia só tem duas ou três, fecharam quase todas por conta dessa política de locação”, lamentou Carlos Melo. A SMOP é uma coletividade sem fins lucrativos, que “trabalha para a comunidade, não só no esporte como na cultura”. Contactados esta semana pela Lusa, os responsáveis ​​da SMOP deram conta que “há uma ação a decorrer em tribunal”.

No Chiado, a Academia de Amadores de Música terá de deixar, até agosto de 2025, o espaço onde funciona desde 1957, porque a renda vai aumentar de 542 para 3.728 euros. O presidente da direção da Academia, Pedro Barata, criticou a “inoperância” das entidades públicas para encontrar um local alternativo, em declarações à Lusa em novembro do ano passado. Um ano depois, aquela academia, que tem cerca de 300 alunos, a maioria no ensino articulado, ainda não tem solução à vista.

Nas páginas de Informações e Serviços da Câmara de Lisboa, na área do Diretório da Cidade, pode-se ler sobre a Academia de Amadores de Música: “Faz parte da rede de escolas do ensino particular e cooperativo, e oferece formação artística ao mais alto nível, preparando os jovens para a continuidade dos Estudos Musicais em nível universitário.”

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