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É um guia turístico que te obriga a olhar 15 lugares de Lisboa com atenção redobrada. Relacionados ao colonialismo, a escravatura, as migrações, feminicídios, LGTBIfobia, epidemias ou guerras, os monumentos que são a base do roteiro turístico A Volta ao Mundo em 80 catástrofes – Especial Lisboa, dos Left Hand Rotation, será apresentado no dia 19 de outubro, às 18.45, no átrio do Museu de História Nacional de História Natural e da Ciência, em Lisboa (MUHNAC). “Sabemos que vai trazer muita polêmica, mas achamos que é realmente necessário esse olhar crítico sobre monumentos e memória coletiva”, diz o coletivo à Time Out.
Depois de, em janeiro, o grupo ativista ter disponibilizado (gratuitamente e em formato PDF) um “guia irônico” sobre Portugal, segue-se agora a mesma linha de raciocínio, sob a ideia de que o turismo, existindo, tem a obrigação de ser consciente. Como convite à reflexão, o novo guia sobre uma das cidades do momento, Lisboa, começa mostrando como o terremoto de 1755 levou à busca de madeira em outros continentes para reconstruir a cidade. Uma forma de dizer que há uma “predileção pela catástrofe” como motor da “operação lucrativa”, ou de chamar o que vivemos há séculos como “economia do desastre”, escreve Lorena Tabares Salamanca, da Colapso Plataforma Criativa, que colaborou nesse projeto.
Da violência de género ao monumento por existir
Nesta tour, a casa de partida é o monumento em homenagem às vitimas do 11 de Setembro, na Avenida dos Estados Unidos da América, em Alvalade, através do qual Augusto Cid tentou simular, a partir do metal, uma parte das ruínas das torres. Segue-se para duas placas colocadas no espaço público lembrando “violência doméstica”, termo que o coletivo Left Hand Rotation faz questão de corrigir para “violência de gênero”, pelo fato de ter sido exercida especificamente sobre mulheres. “Associações como a UMAR (União de Mulheres Alternativa e Resposta) publicam anualmente dados arrepiantes” sobre o fenômeno e, em 2012, colocou, com a Câmara Municipal de Lisboa, uma placa junto à Maternidade Alfredo da Costa. Nela, pode-se ler a seguinte frase de Luiza Neto Jorge: “Elas mortos irão fazer nascer.”
O guia segue pelos mortos da Grande Guerra (Avenida da Liberdade), vai até a intolerância homofóbica (Príncipe Real) – “ée existe uma revolução social na era contemporânea, é aquela que surge dos movimentos transfeministas e LGTBIQ+”, defende o coletivo –, não esquece os quatro homens assassinados a tiro pela PIDE nem as 100 mil vítimas do terremoto de Lisboa. Fica aa faltar uma peça , não no livro, mas na realidade: o memorial de homenagem às vítimas da escravidão, cuja localização tem sido muito discutida. Representando uma plantação de cana de açúcar, de autoria do artista angolano Kiluanji Kia Henda e com o apoio da Djass (Associação de Afrodescendentes), o projeto vencedor ficou parado com a mudança de governo local em 2023, apesar de ter sido aprovado por unanimidade em 2019″, criticam os autores. Vale lembrar que a proposta de criação do memorial foi uma das vencedoras do orçamento participativo da prefeitura, em 2017, mas ainda não foi concretizada (a Ribeira das Naus é a localização em cima da mesa, depois de se pensar no Campo das Cebolas).
Além da apresentação do guia, no dia 19, às 17.00, terá lugar a exibição do filme Monumento Catástrofe (2022), também da autoria do colectivo Left Hand Rotation, que o classifica como “um road movie em Portugal, uma viagem pelos espaços da catástrofe (colonialismo, guerras, escravidão, ecocídios, epidemias, feminicídios etc.), num movimento contra a dupla paralisia do desespero e da indiferença”. Às 18.00, acontece o debate “Erguer. Derrubar. Resignificar”, com a participação da ex-deputada Joacine Katar Moreira (ANASTÁCIA – Centro de Estudos e Intervenção Decolonial), de Susana Ferreira (York University, Toronto), de Lorena Tabares Salamanca (Colapso Plataforma Creativa) e do Left Hand Rotation. A moderação será assegurada por Marta Lourenço, diretora do MUHNAC.
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