A poetisa e dramaturga Maria Quintans morreu no sábado à noite no Hospital de São José, em Lisboa, onde se encontrava internada, confirmou oriente domingo à Lusa manadeira próxima da família. O internamento, registado no dia 8, surgira na sequência de um aneurisma cerebral, disse a mesma manadeira.
A autora nasceu em Lisboa em 1955. Esteve na geração da revista Inútilde que foi directora editorial, e criou as editoras Hariemuj, Leito de Gato e Edições Guilhotina. Os seus livros de verso incluem Apoplexia da Teoria, Labareda-me Constança, O Silêncio, Febre e Suporte. “Interventiva e entusiasta, recorda-se a sua notável voz poética, capaz de chegar a diferentes leitores”, escreve numa nota de tarar o gabinete da ministra da Cultura, Dalila Rodrigues.
Iniciou-se na escrita de dramaturgia em 2015, com o solilóquio Décimo Terceiro Curso. Escreveria Isso é Não Sou Euuma peça infanto-juvenil, no ano seguinte, muito uma vez que A Síndrome da Culpa, em 2019. Vários poemas da autora estão incluídos em antologias e revistas portuguesas e brasileiras. Em 2019, editou pela Assírio & Alvim o livro de poemas Se Me Empurrares Eu Vou.
Os Demónios Não Gostam de Ar Frescotexto para teatro editado pela Húmus, esteve em cena no São Luiz, em Lisboa, em Abril, num espectáculo dirigido por Albano Jerónimo e Cláudia Lucas Chéu. A peça pode ser definida uma vez que uma viagem ao imaginário de Ingmar Bergman, emblemático realizador e dramaturgo sueco, evocando obras e personagens do seu trabalho. “Depois de muitas visualizações dos seus filmes e pesquisa das suas questões sobre o mais profundo de nós, humanos, concluo que Bergman encontrou na literatura e nas artes cénicas uma forma de recriar e questionar a quesito humana. Foi um obsessivo e perfeito investigador da espírito humana e retirou do palco muito do material de que precisou para os seus 56 filmes”, escreveu Maria Quintans em Junho de 2021, num texto que viria a integrar a folha de sala do espectáculo.
A portuguesa chegou a grafar a Liv Ullmann, com quem partilhou o texto. A actriz e antiga companheira de Bergman incentivá-la-ia a candidatar-se a uma residência artística no Bergman Center, na ilhota sueca de Fårö, onde o cineasta viveu e trabalhou durante murado de 40 anos. Quintans até foi seleccionada pelo júri, só que acabou por não seguir em frente. Acabaria por fazer uma visitante à mítica mansão do dramaturgo e cineasta na companhia da equipa artística que levou o texto à cena.
“No fundo, durante toda a peça, Bergman está a falar consigo próprio”, dizia a escritora.