Maio 12, 2025
Morreu o realizador António-Pedro Vasconcelos, “protector do cinema de grande público” – Observador

Morreu o realizador António-Pedro Vasconcelos, “protector do cinema de grande público” – Observador

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O realizador português António-Pedro Vasconcelos morreu esta terça-feira, aos 84 anos. A informação foi divulgada ao Observador pelo gabinete de notícia do Ministério da Cultura.

Figura de proa do Cinema Novo Português, o seu primeiro longa-metragem foi Perdido por Centena (1973). Notabilizou-se por ter sido responsável por alguns dos maiores sucessos de bilheteira do cinema vernáculo, uma vez que aconteceu com o filme Ó Lugar do Mortoem 1984, e Jaimeem 1999. Leste último valeu-lhe a Valva de Prata do Festival Internacional de Cinema de San Sebastián, e em Portugal, os Globos de Ouro para Melhor Filme e Melhor Realizador.

O seu filme mais recente foi Km 224em 2022, e Parque Mayer, em 2018, ano em que a Cinemateca Portuguesa lhe dedicou uma retrospectiva completa. Disse portanto, em entrevista ao Observador, que “o cinema português hoje é irrelevante”. Nos últimos tempos, trabalhei numa adaptação de Lavagantehistória truncado do noticiarista José Cardoso Pires, editado com título póstumo em 2008. António-Pedro Vasconcelos deixa dois filhos: a diretora de casting Patrícia Vasconcelos e o colecionador Pedro Jaime Vasconcelos.

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Nascido em Leiria em 10 de março de 1939, “APV”, {sigla} pela qual era habitualmente identificado, foi realizador, produtor, crítico, professor, tendo fundado o Meio Português de Cinema, uma vez que indica a biografia na Ateneu Portuguesa de Cinema.

A primeira bolsa da Instauração Calouste Gulbenkian em 1961 — a atribuída ao cinema —, levou-o a estudar na prestigiada Universidade de Sorbonne, em Paris. Chegou à capital francesa já com o libido de ser realizador. “A teoria se formou nos meus anos de estudante. Eu era sobretudo um voraz de livros. Eu lia, lia, lia e um dia descobri o cinema”, contava. De volta a Portugal, comecei por trabalhar em publicidade, a que se seguiram os documentários Exposição de Tapeçaria (1968) e Fernando Lopes-Perdão (1971).

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Os primeiros filmes de ficção (“O universo que me interessava era o universo da ficção”, sublinharia), Perdido por Centena… (1973), Adeus, até ao meu Revinda (1974) e Oxalá (1979), estabeleceram-no uma vez que voz importante da “segunda geração” do Cinema Novo, ao lado de Alberto Seixas Santos (1936-2016) ou João César Monteiro (1939-2003). Mais tarde, reconciliou o cinema português com o grande público, ao trabalhar continuamente com o produtor Tino Navarro em vitórias de bilheteira uma vez que Os Imortais (2003), Pequena de programa (2007), A Bela e o Paparazzo (2010), Os Gatos Não Têm Vertigens (2014). “O cinema é, e sempre foi, uma arte popular”, resumiu na mesma entrevista ao Observador.

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O cineasta, que completou 85 anos neste domingo, teve também um papel relevante na definição de políticas públicas para o setor. Foi presidente do grupo de trabalho para o Livro Virente da Percentagem Europeia sobre a indústria audiovisual e, entre 1991 e 1993, foi coordenador do Secretariado Pátrio para o Audiovisual. Criticava o boato da produção portuguesa na extensão do cinema de responsável, que acusava de ser “desligado da verdade”.

Se foi uma ficção que o celebrizou, António-Pedro Vasconcelos assinou ainda dois documentários sobre a êxodo portuguesa: Adeus, até ao meu retorno (1974) e Emigrantes… e Depois? (1976). Atualmente, estava a preparar uma série documental sobre os bastidores de 25 de Abril para a RTP. Uma Conspiraçãocom seis episódios, está previsto para se estrear oriente ano, lê-se numa notícia da Jornal das Caldas.

Figura habitual na televisão, nas últimas décadas, a APV envergava sempre um chapéu, inferior que viria a tornar-se a sua imagem de marca. “Uso chapéu já há muitos anos, porque o meu otorrinolaringologista achou que eu devia proteger a cabeça, pois sou atreito a constipações e tenho uma sinusite e uma rinite alérgica muito poderoso, que me incomoda em pessoal nas mudanças de estação…”, explicou à revista Caras em 2010. “Ando para ser operado há 30 anos e nunca arranjei tempo, preciso de parar uma semana e não tenho. Portanto, tenho diferido isso e o chapéu me protege. E hoje em dia, se não uso, sinto a falta. É já um hábito, não é por encontrar que me fica muito…” Leal à Chapelaria Azevedo Rua (Forbes, 2018), chegou a pôr a atriz Soraia Chaves a transpor da loja no Rossio, em Lisboa, numa das cenas do filme A Bela e o Paparazzo (2010).

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“Se os seus primeiros filmes foram filmes muito aclamados pela sátira, depois tiveram outros grandes sucessos aclamados pelo público. Seguiu sempre essa sua traço, misturada com a sátira de cinema e com as séries que também produzia e viabilizava para televisão”, recorda Paulo Trancoso, presidente da Ateneu Portuguesa de Cinema, à Rádio Observador. “Era um varão de grandes causas cívicas”, diz ainda. “Vamos permanecer mais pobres em termos de cultura e de cidadania, porque ele estava sempre cauteloso às grandes causas e tentava mobilizar as pessoas”.

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Pedro Mexia, velho subdiretor da Cinemateca, recorda também um varão “muito interventivo nas querelas do cinema português”. “A partir deO Lugar do Mortoque foi um grande sucesso de bilheteira, na profundidade o maior do cinema português, tornou-se o maior protector de uma certa teoria de cinema de grande público, que uma vez que se sabe não é consensual entre os cineastas portugueses”, lembra à Rádio Observador .

Ana Zanatti e Pedro Oliveira em “O Lugar do Morto” (1984)

António-Pedro Vasconcelos “foi sempre uma figura ligada aos filmes que fizeram e às polémicas que protagonizaram por pretexto dessa teoria, em termos de discussão de financiamento, de projeção internacional do cinema português. Foi uma figura muitíssimo presente quer uma vez que responsável, quer uma vez que militante de um notório entendimento do cinema”, continua Mexia, lembrando um responsável que preconizava “a teoria de que o cineasta também é um intelectual e também é uma figura cívica, que não se limita a fazer filmes no seu quina, mas está ligado aos movimentos sociais, às querelas e ele gosta disso”. António-Pedro Vasconcelos “gostava da polémica, gostava desse confronto público”.

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Também o Presidente da República recorda “um dos críticos e cineastas que prolongaram a esperança num cinema novo português, desalinhado do regime e desempenado com o cinema europeu”. Numa nota de tarar publicada esta manhã no site da Presidência, Marcelo Rebelo de Sousa presta homenagem a um “varão literato, frontal, interventivo e intempestivo, jocoso de literatura, da clara e acutilância da prosa de Stendhal, dos grandes mestres do cinema clássico americano , e envolve-se em campanhas políticas e em combates cívicos, ligados por exemplo à RTP e à TAP”.

António Pedro Vasconcelos liderou o protesto contra a privatização da RTP, e voltou a fazê-lo desta feita para a TAP, em 2015, por tutelar que estas duas empresas são “instrumentos preciosos e únicos” para vincular Portugal ao mundo da língua portuguesa e sobretudo aos portugueses da diáspora.

António-Pedro Vasconcelos: “O cinema português hoje é irrelevante”

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Voz ativa no debate público, assinava com frequência artigos de opinião, tendo sido o último publicado em Outubro no jornal Público (Para que sirva um Ministério da Cultura?). Nele escreveu: “Não houve até hoje um único governo que definisse e pusesse na prática, com evidente, congruência e eficiência o que deve ser o papel do Estado na cultura, onde os criadores sofrem os efeitos de três condicionantes gritantes: falta de meios, de mercado e do Estado”.

“Foi além de tudo e antes de tudo, um cidadão hipotecado e inconformado, comprometido desde sempre com os rumores da democracia”, nota o ministro da Cultura, Pedro Adão e Silva, numa publicação no X. Na mesma rede social, Pedro Nuno Santos destaca “um dos grandes cineastas portugueses do nosso tempo”, que “deixa uma obra que fez dele uma figura incontornável da cultura portuguesa, com um trajectória notável nas áreas do cinema, do jornalismo e da docência” , relevando “a sua participação cívica na campanha presidencial de Mário Soares, de quem foi camarada próximo, e o manobra de cidadania do qual nunca abdicou”.

“Um varão da cultura e do benfiquismo devotado e sem limites”, assim é definido António-Pedro Vasconcelos na nota de tarar publicada esta quarta-feira no site do Sport Lisboa e Benfica. Publicado sequaz benfiquista, o cineasta português familiarizou-se junto do grande público da televisão precisamente enquanto comentador desportivo pelo clube da Luz.

“Comecei por redigir artigos sobre futebol, porque tinha lido um livro do Nelson Rodrigues de crônicas sobre futebol e liberado. Naquela era, a meio dos anos 90, pensei mesmo que minha curso uma vez que realizador de cinema tinha completado”, explicou o cineasta em entrevista ao Expresso em 2018. As crônicas acabaramiam no livro Porque é que as Mulheres não gostam de Futebol? (ed. Oficina do Livro, 2001). Pouco depois, foi convidado para fazer glosa desportivo na televisão, primeiro na SIC e, mais tarde, na RTP, inaugurando o programa Trio d’Ataque. “O glosa desportivo foi uma atividade que, basicamente, foi o meu principal modo de vida durante esse período”, recordou o realizador na mesma entrevista.

O realizador António-Pedro Vasconcelos com a atriz Maria do Firmamento Guerra enquanto o ator Nicolau Breyner estuda o guia durante a realização do filme “Os gatos não têm vertigens”, em 2013

Ser benfiquista fervoroso nunca beliscou a sua dedicação ao cinema, nem a mediação ativa em causas diversas, da privatização da TAP à RTP, da política cultural ao financiamento. “Considero que é uma obrigação que todos os cidadãos têm, mas ainda mais as figuras públicas, de se baterem por causas que não são do seu interesse súbito. Para mim, é procedente. O meu sonho era ter uma associação em que todas as pessoas que têm visibilidade pública, cantores, escritores, atores, entrassem — e cada um era a face de uma pretexto”, dizia ao Expresso em 2018.

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Em 2016, a editora Guerra & Sossego publicou um livro do realizador em diálogo com o noticiarista José Jorge Letria, com o título Um cineasta réprobo a ser livre.

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