Por isso, no mestrado, especializou-se em psico-criminologia. Passou por prisões de menores, os chamados Centros Educativos, pelo Chapitô, onde trabalhou na Acto Social e, depois, foi fazer voluntário para Moçambique.
Adoro o trabalho na comunidade, com mulheres, e ao tornar a Portugal foi em procura das comunidades africanas. Em Caxias, trabalhou no Batoto Yetu, mas o projeto que integrava terminou, deixando os miúdos sem resposta.
Ana Luísa Santos acabou por encontrar o caminho patente num sonho. Uma noite, sonhou que polícias e jovens estavam numa sala, em perfeita simetria, e foi esse sonho revelado que nasceu esta teoria de que “assenta numa mediação de proximidade”.
No fundo, trata-se de uma abordagem preventiva, agir antes de as crianças e jovens enveredarem pelo “caminho falso”.
O Projeto, 100% voluntário, assenta em três pilares fundamentais: ensino, empregabilidade e comunidade, abrangendo diversas valências da vida dos jovens.
Se no início houve resistências e desconfianças de segmento a segmento, hoje em dia, já vêm às festas mais de 70 familiares das crianças e jovens. As polícias brincam, jogam, acompanham os TPC das crianças e jovens. Depois da escola, têm na esquadra espaços muito coloridos para trabalhar, jogar, dançar. Aprenda regras e o convívio em grupo, e aprenda a falar de emoções.
“É preciso trabalhar os valores, as emoções e gerar oportunidades diferentes.”
Ana Luísa Santos pensa que “estas poderão ser as esquadras de horizonte, nos próximos, onde as pessoas possam ir, onde os miúdos possam aprender e desenvolver-se – já temos miúdos que querem ser policiais. Portanto, já mudou cá algumas das suas ideias, porque, depois, eles também conhecem várias vertentes da polícia: a polícia criminal, a polícia de trânsito (às vezes os miúdos vestem-se de polícia e fazem operações param), e eles acabam por ter cá uma visão de que por fim as polícias são pessoas porquê os outros, a diferença é que vestem uma farda azul, são pessoas que se preocupam, que nos ouvem…” Entretanto, os dois agentes Marco Silva e André Monteiro, diariamente nesta teoria , tornaram-se figuras de referência para Ana Luísa. E também para muitos destes jovens.
Sequaz do suplente de sucata [scrap da Ana] – um trabalho manual de gerar memórias com fotografias, papéis diferentes, botões e fitinhas – Ana Luísa quis fazer esse projeto com as miúdas. Foi mal encontrei a arte-terapia, uma forma de potencializar o desenvolvimento humano e a geração através do fazer artístico. Diz que “às vezes é mais fácil através de um gravura, de uma pintura, de uma geração 3D com plasticina, expressar aquilo que se está a passar connosco, do que falar sobre isso. E logo o nosso trabalho é, a partir daquilo que foi criado, ir procurar o que aquilo aí nos diz, para podermos ajudar aquela pessoa que está à nossa frente a trabalhar nas suas questões mais internas.
“Pessoas criativas são pessoas mais resilientes.”
Quando perguntamos o que falta ao projeto? “APOIOS FINANCEIROS”, responde Ana Luísa Santos, porque apesar de contarem com a aprovação do programa Escolhas, há cada vez mais crianças e jovens a integrar a Gira no Bairro, e os meios não chegam para tudo. No ano pretérito, pela primeira vez, não poderia levar os miúdos de férias…
Quem quiser saber o projecto só tem de visitar a 84ª Esquadra da PSP, em Caxias, Oeiras, ou velejar pelos Mundos de Papel.
E, porquê Ana Luísa Santos acredita que “ir ao psicólogo tem de ser uma coisa cada vez mais oriundo. E todos nós nos beneficiamos em passar por um psicólogo: é descobrir-me, considerar-me, ver-me de outras perspectivas”, cá ficam mais umas ideias.
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