Na Bola de Ouro falou-se de classe: Rodri mostrou muita, o Real Madrid nem por isso | Futebol internacional #ÚltimasNotícias #Portugal

“O Real Madrid manda nisto tudo”. “A Liga dos Campeões define a Bola de Ouro”. “Um jogador defensivo dificilmente ganha o prémio”. Estas são três premissas banais sobre a Bola de Ouro, galardão que premeia o melhor jogador do mundo. Nesta segunda-feira, todas foram abatidas.

Rodri, meio-campista espanhol do Manchester City, recebeu o prêmio concedido pela França Futebol, em uma votação de jornalistas dos 100 primeiros países do classificação FIFA. Rodri não é do Real Madrid. Rodri não foi importante na Champions. Rodri é um jogador defensivo. E Rodri foi considerado, apesar de tudo isto, o melhor jogador do mundo na temporada 2023/24.

Antes de irmos aos critérios que justificarão essa distinção há algo claro que sai dessa gala: é que, no Théâtre du Châtelet, em Paris, se falou de classe.

Classe, porque é isso que define Rodri, jogador elegante, calmo, eficaz, discreto e globalmente correcto. E classe, porque a falta dela define também a postura de Vinícius e do Real Madrid.

Nesta segunda-feira, tendo sabido por meios não oficiais que o prêmio não seria do amplamente favorito Vini, o clube espanhol decidiu cancelar a viagem a Paris, provavelmente com o orgulho e o sorriso pérfido de quem monopolizou uma tarde que seria de festa pelos que lá foram ganhar, mas passou a ser de conversa sobre os que não quiseram lá ir perder.

A delegação de 50 pessoas ficou em Madri, incluindo Vini, o favorito para triunfar na Bola de Ouro, Bellingham, outro possível candidato, Carvajal, uma escolha mais “fora da caixa”, e outros possíveis premiados em prêmios secundários, como Lunin , Arda Guler e Carlo Ancelotti.

Real faltou

Estas pessoas guardaram os smokings e vestiram seus pijamas para assistir à gala no sofá. Numa demonstração de tudo o que não deve ser o futebol, mostraram que os exemplos passados ​​de jogadores como Cristiano Ronaldo, o precursor, e Lionel Messi, um fiel imitador, banalizaram esse tipo de atitude.

Até o ano passado, tornou-se aceitável um jogador faltar deliberadamente a uma gala na qual sabia que não ganharia o prêmio, atitude que nada mais era do que o pináculo da vaidade e da falta de desportivismo, pela incapacidade de assistir à glória alheia .

Em 2024, subiu-se um patamar. Já não foi um jogador de ego ferido a decidir ficar no sofá, mas um clube, por inteiro, a aplicar a receita ditatorial de impedir jogadores, staff e dirigentes de irem à gala.

Segundo a imprensa espanhola, o clube acredita que a Bola de Ouro perdeu seu valor. “Trocado por miúdos”, o que o Real Madrid parece pensar é que prêmios dados a seus jogadores são justos e prêmios aos demais não são. E que o maior clube do mundo só comparece às galas se seus atletas forem amplamente glorificados. E o clube também decidiu cancelar a transmissão especial da Real Madrid TV sobre a Bola de Ouro.

Rodri contra Vinícius

Apesar da ira do Real, Rodri está longe de ser um vencedor inexplicável, já que há bons argumentos para defender o prêmio de Vinícius, mas também há para sustentar o triunfo do espanhol.

Essa distinção significa, entre outras coisas, que os eleitores deram mais peso ao Europeu de seleções do que à Liga dos Campeões – Rodri foi campeão europeu pela Espanha, Vini pelo Real Madrid. Individualmente, Rodri foi o melhor jogador da Eurocopa e Vinicíus foi decisivo na Champions, inclusive com gol na final.

Internamente ambos venceram os campeonatos na Inglaterra e na Espanha, mesmo que Rodri possa adicionar eventos menores como o Mundial de Clubes e a Supercopa europeia.

Diante do equilíbrio global, a tendência de voto pode ter sido desequilibrada por fatores habitualmente desconsiderados. Por um lado, Rodri é indispensável em seu time – evidente nas derrotas do City quando o espanhol não jogou –, mesmo que sem a queima de fogos de quem dribla, marca e aplica magia. Do outro, Vinícius é a cara da espetacularidade, do gol e da criatividade, fatores tradicionalmente mais valorizados nesses prêmios.

Outro prisma interessante é o peso do critério do jogo limpoque para França Futebol definiu como o terceiro, depois dos desempenhos individual e colectivo.

É impossível dizer que peso terá tido, mas é fácil adivinhar que quem o levou em conta para fins de decisão terá pendido para Rodri, em detrimento de um atacante cujo perfil brigão e provocador não constitui um exemplo de desportivismo.

No fundo, Vinícius poderá ter sido vítima de si próprio, ainda que deva ser tido em conta que o espectro de racismo no qual o brasileiro teve de caminhar frequentemente, em vários estádios, não é uma preocupação para homens brancos como Rodri.

Bom dia, mais uma vez

Não o setor feminino, França Futebol premiou Aitana Bonmatí, que repete o prêmio de 2023. A jogadora do Barcelona mantém o domínio espanhol nos últimos anos, já que antes dela havia sido Alexia Putellas quem ganhou duas vezes o prêmio.

Bonmatí confirmou o favoritismo, já que o título de campeã da Europa, com golos em todas as partidas a eliminar, não deixava grande margem para dúvidas.

Aos 26 anos, Bonmatí já tem um currículo bem recheado individual, algo alavancado por constantes títulos coletivos pelo Barcelona.

Caroline Hansen, também do Barcelona, era outra boa candidata, pelos golos na Champions e na Liga espanhola, mas a ausência nos Jogos Olímpicos poderá ter pesado.

Nos demais prêmios, houve distinções para Carlo Ancelotti, o melhor técnico, Lamine Yamal, o melhor sub-21, Emiliano Martínez, o melhor goleiro, o Real Madrid, o melhor time masculino, e o Barcelona, ​​o melhor time feminino.

Nota também para o prêmio dado a Jenni Hermoso, o troféu Sócrates, que distingue um jogador de futebol que se destacou pelo seu compromisso com a sociedade e na promoção de um mundo mais equitativo e inclusivo.