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Rui Sanches, também em suas notas manuscritas publicadas em 2005, refere-se a um depoimento do filho de Fernando Santos e Castro, José Ribeiro e Castro, ao jornal O Diabo de 23 de maio de 1995, que aqui é oportuno transcrever:
«Lembro bem da ocasião dessa conversa e da satisfação que meu pai sentia na época, e que expressava de forma exuberante, com o entusiasmo que lhe era característico. Foi após uma longa conversa com o então Presidente do Conselho, por ocasião de uma rápida vinda de meu Pai a Lisboa por motivos de natureza familiar, em meados de fevereiro. A ideia clara que retenho é que, em suas palavras, o professor Marcello Caetano lhe transmitira a garantia de que, se sentisse que perderia o controle das coisas na então Metrópole, avisaria a tempo o Governador-Geral de Angola para que as muito jovens e emergentes instituições angolanas pudessem avaliar e considerar a situação e, na medida do que julgassem, tomar seu destino e o de Angola em suas próprias mãos.»
E prossegue:
«As coisas não correriam de feição, pois Marcello não cumpriu o prometido pré-aviso a Santos e Castro».
O Eng. Rui Sanches, em suas notas, acrescenta esta dramática tirada, referindo-se ao depoimento de Ribeiro e Castro:
«Mas a verdade é que esse aviso nunca foi dado. E também a verdade é que, entre essa conversa e o 25 de Abril, não se passaram mais de dois meses, com o 16 de Março no meio. Meu pai, aliás, acabaria falecendo em 1983 sem nunca ter sabido por qual motivo Marcello Caetano não cumprira ou pudera cumprir a garantia que lhe dera. Várias vezes, em vários contextos, ouvi esse desabafo dele; mas o fato é que, embora leal a Marcello Caetano até o último de seus dias, jamais voltou a encontrar-se com ele, nem fez o menor esforço para consegui-lo. Minha interpretação é que foi por desgosto.»
Conheci bem alguns dos principais independentistas de Angola (Fernando Falcão, Joaquim Fernandes Vieira, Venâncio Guimarães Sobrinho, Eng. Castilho, entre outros), cuja opinião era conhecida. Hoje posso dizer que ouvi apenas vagas conversas sobre esse assunto, a esses e outros atores com algum poder, que considerei então carentes de fundamentação estratégica suficientemente ponderada, notadamente quanto ao insondável e negligenciado posicionamento em relação às potências estrangeiras (estávamos em plena Guerra Fria).
O enquadramento político e prático daqueles independentistas não aparentava ser consistente, nomeadamente quanto ao poder negro exclusivo, reclamado, com adiantos e recuos, pelos movimentos de libertação, que os desconsideravam.
Assim, apesar de sonharem com uma proclamação unilateral da independência de Angola, não apresentavam uma estrutura nacional angolana plausível, nem suporte internacional formatado e, muito menos, negociado. Reconheciam aliás a sua própria fraqueza.
Na opinião de muitos, a falta de apoio financeiro significativo e diversificado, a fragilidade na congruência política e a inexistência de liderança e de vetores de apoio poderosos teria votado o projeto da independência unilateral de Angola a um bem provável fracasso. No decorrer de 1974 e 75, alguns ainda tentaram criar partidos e alianças com Daniel Chipenda e com Jonas Savimbi, mas com desenlaces nada felizes.
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