O que é fracking, tecnologia que Kamala Harris já quis banir | Mundo #ÚltimasNotícias #Portugal

Trump acusou Kamala de ser contra o fraturamento hidráulico — posição que havia sido adotada pela vice-presidente dos Estados Unidos durante sua campanha presidencial em 2019. A candidata agora se posiciona a favor do método, inclusive durante o debate, e reiterou, através de sua campanha, que não baniria a forma de extração de petróleo e gás natural.

A técnica do fracking, por sua vez, se distingue da extração do petróleo e do gás convencional, como explicou ao Valentia o pesquisador e doutor em geografia Alessandro Donaire de Santana. “Na prática, o fracking é a técnica utilizada para a extração do petróleo e gás não convencionais. Eles são chamados de não convencionais porque são formados em rochas de baixa permeabilidade e são mais difíceis de serem extraídos, demandando esta técnica específica. O petróleo e o gás natural convencionais, ao contrário, estão acondicionados em rochas de alta permeabilidade e, por conta disso, são mais facilmente extraídos”.

Segundo Santana, o processo do fracking é dividido em etapas. “Primeiro, é feita uma perfuração vertical profunda até alcançar a rocha que contém petróleo ou gás. A partir desse poço vertical podem ser perfurados outros vinte poços na horizontal. Um tubo, então, é inserido no poço, e uma mistura de água, areia e produtos químicos é bombeada para dentro da rocha a alta pressão. Isso faz com que a rocha se rompa (ou “frature”), criando fissuras que permitem que o petróleo ou gás possam fluir. O petróleo ou gás sobem pelo tubo até a superfície, onde são coletados”.

O fracking é um dos temas de grande relevância dentro da política americana, especialmente na Pensilvâniao segundo maior produtor de gás natural do país e local onde foi realizado o debate. O Estado é um ponto de conquista chave para ambas as campanhas, por ser um dos swing states (estados indecisos).

Como parte de sua campanha, Kamala tem se mostrado a favor da extração de petróleo e gases naturais. A vice-presidente ainda comemorou que o maior aumento na produção norte-americana de petróleo da história aconteceu durante o mandato de Joe Bidenatual presidente dos Estados Unidos.

Ainda assim, o posicionamento de Kamala acontece na contramão de políticas ambientalistas do governo Biden. O presidente sancionou, há dois anos, o Lei de Redução da Inflação (IRA)um projeto que estimava fornecer US$ 370 bilhões em apoio a programas de redução de emissões de gases.

As acusações sobre o fim do fracking têm sido uma tática dos republicanos contra os políticos democratas. Em 2020, os copartidários de Trump alegaram que Biden, que é natural de Scranton, na Pensilvânia, pretendia “proibir” ou acabar com a extração nacional de gás. Essa não era a posição oficial do presidente.

Fracking levou EUA ao topo da produção

O fracking foi criado na década de 1940. No entanto, o método ganhou mais destaque após o aumento do preço do petróleo em 1990, que levou a maior procura pelo gás natural e ao desenvolvimento das técnicas de perfuração mais atuais.

A adoção ao fracking permitiu que os Estados Unidos deixassem de depender de exportações de outros países para adquirir essas commodities. De acordo com informações do “The Wall Street Journal”, em 2009, os EUA estavam em terceiro lugar na produção global de petróleo, atrás da Arábia Saudita e da Rússia.

Em 2019, uma década depois, os norte-americanos lideraram, e ainda lideramo mundo em produção de petróleo e gás natural, tendo mais que dobrado a quantidade de petróleo bruto que bombeia, ao mesmo tempo em que aumentou a produção de gás em cerca de dois terços.

Segundo o jornal, a razão para isso é o fracking. Ainda assim, apesar da importância geopolítica para os Estados Unidos, a prática de perfuração não é um consenso entre os políticos e os eleitores norte-americanos, em parte devido aos prejuízos ambientais que este método traz.

Danos ambientais do fracking

Um dos principais pontos negativos do fracking são os danos ambientais que a técnica pode causar. “Parte da água usada no processo volta para a superfície cheia de produtos químicos e partículas, enquanto a outra parte permanece em subsolo”, ressalta Santana.

O pesquisador explica que, se a água da superfície não estiver em um local de contenção adequado, pode haver vazamento e, por consequência, a contaminação do solo e mananciais. Também há a preocupação com a água que fica no subsolo, já que pode haver a contaminação dos aquíferos subterrâneos.

“Quando você fratura a rocha, ela pode ter uma série de elementos que vêm junto com o gás. Até mesmo elementos radioativos. Mas isso também pode acontecer em uma usina de urânio ou usina atômica, não é exclusivo do fracking”, ressalta Daniel Pasinprofessor do Instituto Brasileiro do Petróleo – IBP (UNIBP) e do Departamento de Geologia Aplicada da Universidade Estadual do Rio de Janeiro (UERJ).

O uso de água para o fracking na Pensilvânia, por exemplo, aumentou de 2 a 7 milhões de galões de água por poço em 2008 para 14 a 39 milhões em 2019.

Em 2010, o documentário “Terra do gás”, que adota uma posição crítica ao fracking, gravou uma torneira de cozinha cuspindo chamas em Fort Lupton, sem Colorado. A obra, que chegou a ser indicada ao Óscardesencadeou uma série de publicação de vídeos semelhantes online.

Tais eventos foram ligados ao fracking, que pode perfurar bolsões de gás previamente desconhecidos localizados perto de aquíferos, permitindo que o gás metano permeie a água do poço em concentrações maiores do que o normal.

“Você pode ter a migração do metano para essas áreas. Além disso, há locais locais onde o fraturamento joga partículas radioativas em formações subterrâneas ou até próximo a superfície, como um lago por exemplo”, explica Pasin.

Ocorrências como vazamentos de canos, lagoas de decantação rompidas e descargas ilegais em rios e córregos já foram registradas. O fraturamento também produz vibrações que podem ser detectadas por instrumentos sísmicos, podendo gerar até terremotos leves, de magnitude 4.0 ou superior.