O restaurante-museu com pratos inspirados na vida e obra de Amadeo de Souza-Cardoso
O Pena pertence à família do pintor. Acaba de estrear o novo menu de degustação, uma viagem pelo legado do artista.

Junta comida, bebida e muita arte
Mal a cliente entrou na quinta, aproximou-se da figueira, roubou um pequeno figo que comeu antes de chegar ao restaurante. No final da repasto, foi-lhe levada à mesa uma pequena caixa com nove figos, um para cada cliente.
“Mal viu, começou a chorar”, recorda Miguel Cardoso, proprietário do Pena, restaurante fundado nos periferia de Amarante em 2011 e gere desde 2017. “Confessou-me que nasceu na Turquia, no meio das figueiras, e que já não ia lá há vários anos — e que se lembrou de moradia ao sentir o olor dos figos.”
O gesto faz secção de um esforço de Miguel para gerar “um envolvente de hospitalidade único”, um tanto que só se encontra em alguns dos melhores do mundo. “Não somos um Michelin nem queremos ser, sabemos as nossas limitações, mas queremos mesmo superar as expectativas”usar
Nascente é somente uma das facetas do novo Pena, totalmente reimaginado nos últimos dois anos, sobretudo para virar o foco para a rica legado familiar que, até portanto, se mantinha relativamente ocultada. É que Miguel Cardoso é zero mais nem menos do que sobrinho bisneto do artista amarantino Amadeo de Souza-Cardoso. O próprio restaurante fica na Quinta da Pena, onde nasceu a mãe do pintor modernista que teve uma morte precoce aos 30 anos.
“Sempre houve qualquer pudor em associar o projeto ao nome de Amadeo, para que não pensassem que era vaidade ou oportunismo”, explica. Quando deixou a espaço do desporto, o empresário virou-se para a geração de um alojamento — leia mais sobre o projeto da Quinta da Azenha — e juntou-se à mãe no negócio da restauração. E com a ajuda da mulher Joana, profissional na espaço do branding e do design, uniram esforços para repensar o Pena e “abraçar Amadeo”.
“Sentimos que era nossa obrigação proteger o seu legado, porque se fosse espanhol, seria seguramente um artista de renome mundial. Por cá, no quadro pátrio, é um ilustre incógnito”, aponta. Criou portanto o concepção de “cozinha rústico histórica”, isto porque além de ser sítio de boa cozinha, quer também aportar esse sentido pedagógico, a principiar no novíssimo menu de degustação.
Mas antes, é preciso recuar na história, às origens do Pena, espaço criado pela mãe de Miguel, em virtude das origens na espaço da restauração. Entre projetos no Marco de Canaveses e um trajectória na espaço têxtil, em 2011 decide renovar a zona do lagar, do destilador e das cavalariças da quinta para ali gerar um espaço de cozinha tipicamente portuguesa.

As obras de Amadeo de Souza-Cardoso estão por todo o lado
A cozinha de raiz portuguesa ainda se mantém na missiva, embora com uma visão mais moderna e global. O exemplo paradigmático? O menu de degustação promete uma viagem às origens e à vida de Amadeo de Souza-Cardoso, em pratos que visitam sabores da sua história e acompanham as cores de algumas das suas obras. As pinturas chegam às mesas em versões miniatura, a seguir cada um dos seis a oito momentos da experiência, que pode custar 65 e 90€.
Num dos momentos, chega à mesa o prato de tamboril com espuma de bulhão pato, num prato que emula os azuis-escuros e negros do quadro de 1914, A Chaulpa. “É um paquete num mar tempestuoso. O prato é uma homenagem ao volta a Portugal a fugir da Primeira Guerra Mundial. Chegado cá, a arte não é aceite e é mesmo agredido numa exposição. É um período muito turbulento na vida dele, em que volta para junto do mar, onde se refugia em Espinho”, acrescenta sobre o tirocínio que é repetido a cada prato.
Servido somente aos jantares, é o complemento do menu à la carte, que compreende os clássicos inspirados nas viagens do artista, de Paris a Berlim, em pratos que são já os êxitos da moradia porquê o bife Wellington com cogumelos e couve-flor (29€) ou o arroz cremoso de lavagante e tamboril (75€ para duas pessoas).
Pode também provar o tártaro de vieira com gamba rosa e salicórnia (18€), a pá de cordeiro de leite assada (58€ para duas pessoas) ou o risotto de cogumelos com jus de cebola (24€), antes de saltar para os doces, onde pode escolher um petit gateau de jerimu (12€) ou as desconstruções de morango, sabugueiro e tapioca (9€) e texturas de chocolate com caramelo salso (9,5€).
Seguindo novamente a tradição — o pai de Amadeo de Souza-Cardoso foi “o primeiro exportador de vinho verdejante tinto para o Brasil”, salvaguarda Miguel —, o Pena presta homenagem ao vinho, com expositores de museu que exibem as garrafas no meio da sala, pretexto para o evento mensal com diversos produtores sobretudo do Douro, onde as suas referências são colocadas em foco, num pairing com os pratos habituais da missiva.
A novidade iteração do Pena trouxe também as telas de Souza-Cardoso às paredes de granito, enfeitadas com réplicas de várias obras do pintor. Entre as várias salas, num espaço que combina os materiais rústicos do prédio com mobiliário e louça de linhas mais arrojadas, há espaço para mais de 60 pessoas. Lá fora, uma enorme e fotogénica mesa sob uma ramada de jasmim — e naturalmente, o espaço pode ser reservado para eventos. E caso fique com uma das obras por baixo de olho, saiba que pode levar consigo uma das muitas réplicas das pinturas do artista amarantino.
Carregue na galeria para ver mais imagens do espaço e dos pratos.