Setembro 30, 2024
o terceiro dia de Rock in Rio Lisboa – Observador

o terceiro dia de Rock in Rio Lisboa – Observador

Mesmo que relegado para um palco secundário, o concerto inteiramente devotado a levante álbum icónico era ocasião privativo e a margem trouxe convidados para uma comemoração mais alargada do seu legado. Samuel Úria, Ana Deus e Gisela João foram os músicos chamados a palco para interpretações distintas de temas dos Ornatos Violeta — num concerto com um Manel Cruz particularmente focado, mas com a garra do uso, ou não tivesse, porquê é seu apanágio, despido a camisola logo nos primeiros temas, mal aqueceu a voz e a psique.

O melhor concerto da noite chegaria logo a seguir. Macklemore é um corpo estranho, um rapper pop mas ao mesmo tempo desalinhado, inconformado, que quebra com os piores padrões do género. Descrevendo Lisboa porquê uma das suas cidades favoritas e apelando ao público para que aproveitasse o momento, deixando os telemóveis no bolso depois de duas ou três fotografias ou vídeos, mostrou ser um tremendo artistatanto em momentos mais pop porquê Brechóssingle explosivo que lançou com Ryan Lewis; porquê em temas mais underground, próximos de uma estética mais crua e ligada ao rap da Costa Nascente dos anos 90, porquê Heróisfilete que o juntou ao insuspeito DJ Premier.

A palete de cores de Macklemore é surpreendentemente diversa e, do cimeira dos seus 41 anos, o rapper tem a experiência e o calibre para dominar uma imensa plebe de cima do palco, escoltado de uma margem e de alguns bailarinos que lhe conferiram musicalidade e teatralidade nas doses recomendáveis, com uma performance vários furos supra daquilo que se costuma ver em espetáculos hip hop desta dimensão.

“Não há zero melhor no mundo do que um festival de música”, atirou. “Pessoas diferentes a congregar em torno da música. Cá não importa a forma porquê te pareces, a tua orientação sexual, a cor da tua pele, a forma do teu corpo… Cá podes ser verídico, a pessoa que és a 100%.”

Rompendo com os padrões de masculinidade tóxica ou de insensibilidade social e política que muitas vezes abundam no meio hip hop — e que não se esperava serem quebrados num contexto tão pop porquê levante —, Macklemore interpretou Mesmo paixãoum tema de sensibilização que homenageia a desculpa LGBTQIA+; e apresentou a sua muito badalada e recente Salão de Hindmúsica pró-Palestina que aponta o dedo ao que o músico descreve porquê “atrocidades cometidas por Israel”, defendendo o reconhecimento daquele território porquê país de plenos direitos, posição de militância firme zero generalidade na esfera pop norte-americana. “I want a ceasefire, fuck a response from Drake/What you willin’ to risk? What you willin’ to give?/What if you were in Gaza? What if those were your kids?/If the West was pretendin’ that you didn’t exist/You’d want the world to stand up and the students finally did, let’s get it”.

Pelo meio, ainda houve tempo para invocar duas raparigas do público para um pequeno “danceoff”, uma improvisada competição de dança em palco que enalteceu ainda mais a componente de Macklemore porquê artista. O espetáculo terminou, evidente, com o hit Não posso nos segurarcom o rapper a descer junto do público para um momento final de catarse. “É isto que é suposto ser um festival de verão!”, exclamou em jeito de despedida, perante um público rendido à sua frente. É difícil determinar quem será a base de fãs de Macklemore por cá, mas manifesto é que é um daqueles artistas pop que não deixa indiferente quem o possa encontrar num festival.

A noite continuava, do outro lado da zona VIP, no Palco Galp, com os James. Velhos conhecidos do público português, a margem britânica veio aprofundar ainda mais a relação com um concerto que tinha porquê mote o novo álbum, Deliciosoeditado em abril, mas que naturalmente atravessou os grandes momentos da sua discografia, iniciada em 1986 com Titubear.

O palco parecia pequeno para todos aqueles que queriam observar ao concerto, até porque o som estava frágil e aquecido a partir da régie, mas os James, tal e qual os dinossauros experientes em que se tornaram, cumpriram com uma prestação segura e consistente que não surpreendeu, mas que também não tinha qualquer desejo nesse sentido. Para os fãs, entregaram exatamente aquilo a que se propunham. Temas porquê Ela é uma estrela ou Disposto foram muito acompanhados pela audiência, que procura nos James uma sensação de conforto que o rock dos anos 90 tão muito pode proporcionar, sobretudo para corações (e ouvidos) saudosistas.

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