Novembro 16, 2024
OPINIÃO Não há mulheres feias, somente homens com mau palato

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«É mais fácil morrer por uma mulher do que viver com ela todos os dias» – Lord Byron. Do Livro do Desassossego de Jorge Pessoa e Silva

Assumindo o risco de não ser popular, devo revelar que não sou fã privado do Dia Internacional da Mulher. E que se fosse mulher teria de recusar sumariamente por não concordar trocar os 365 dias de cada ano pelo 8 de março. E isso não impedia de, todos os dias, evocarmos a memória das mulheres que, em 1909, se rebelaram pelo recta ao voto nos Estados Unidos, ou, em 1917, marcharam na Rússia contra a rafa e a I Guerra Mundial, maravilha também na génese da Revolução Russa e, ambos, do Dia Internacional da Mulher.

No dia 8 de março eu fico em silêncio. Pelo menos ninguém me pode acusar de hipocrisia. Não vou gostar de muitas das declarações que vou ouvir a boca dos homens. Se eu fosse mulher, mandava-os silenciar. Nenhum varão deveria poder falar amanhã, muito menos sobre a Mulher. Já chega de paternalismo…

A minha missão porquê varão não é patrono das mulheres, elas fazem isso muito melhor do que eu. O meu papel porquê varão é ama-las, forma superior de reverência. Não tenho de compreender, não tenho de saber o que é melhor para eles. Quando se patroa, dá-se toda a resposta que a mulher precisa e, não menos importante, que não precisa.

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Assumindo o risco de não ser popular, devo revelar que não sou fã privado do sistema de cotas para a mulher. E que se fosse mulher teria de o recusar sumariamente. Acho até um insulto, porquê se qualquer mulher precisasse de cotas para ter aproximação a cargas para os quais estão tão ou mais comprometidos do que um varão. A mulher não precisa de benefícios, precisa somente que se reconheça o que é seu por méritos e que a deixe seguir o seu caminho. É que um varão, mesmo que muito intencionado, tem a tendência de estragar tudo ao transformar um recta numa benesse. Mas tudo o que o varão possa dar a uma mulher não é uma benesse. É uma reembolso.

Para Oscar Wilde, «a história da mulher é a história da pior tirania que o mundo conheceu: a tirania do mais fraco sobre o mais potente». Deixemos portanto que a mulher dê perpetuidade a essa revolução. 365 dias por ano. A revolução que se tornou muito visível nas universidades. Que a mulher assume o seu lugar. Não por ser mulher, mas por ser melhor. E que o dia 8 de março faça tanto sentido porquê assinalarmos o dia internacional da leito feita ao levantar.

«Luísa sobe, sobe a passeio»

O poeta britânico Lord Byron (1788-1824) escreveu que «é mais fácil morrer por uma mulher do que viver com ela todos os dias». Sorri ao ler a frase pela primeira vez. Ainda tentei encontrar alguma ironia masculina em relação ao feitio das mulheres que os homens têm dificuldade em entender. Mas, pensando muito, a única ironia que encontrei foi em relação ao feitio dos homens. Porque amar uma mulher é exigente, mas às vezes uma viagem de olhos vendidos em que temos de terebrar mão de tudo porquê única via para termos aproximação a tudo. Na verdade, Lord Byron, dar uma vida para uma mulher é mais fácil do que dar uma vida para uma mulher todos os dias.

Os heróis da minha vida não têm recta a divisa no 10 de junho. Não são notícias no jornal. Não se destacaram por atos heróicos. Ser um herói é fácil. Está ao alcance de qualquer um. Em situações extremas, somos mesmo capazes de atos heróicos, destruímos forças que nem sabíamos ter. Difícil é ser herói nos pequenos gestos do dia a dia. Quando não está lá ninguém para aplaudir, para ortografar a notícia no jornal, para nos dar uma medalha no 10 de junho.

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Os meus heróis estão retratados no poema Lajedo de Carriche, de António Gedeão, musicado por José Niza e interpretado por Carlos Mendes ou declamado por Odete Santos. «Luísa sobe, sobe a passeio, sobe e não pode, quer vai cansada».

Os meus heróis acordam às seis da manhã. Tomam banho e fazem o pequeno almoço para os filhos. Comem à pressa, levam-nos à escola e vão trabalhar. Ao final do dia, saem do trabalho, enfrentam o furor dos transportes públicos, vão às compras e estão à porta da escola para levar os filhos para lar. Dão-lhes banho, preparam o jantar enquanto os ajudam a fazer os trabalhos de lar. À noite, deitam os filhos na leito, contam uma história e dão um ósculo de boa noite. Sinto mesmo que lhe apeteça chorar. Entoam cantigas de embalar mesmo quando eles apetece gritar. Fazem a higiene pessoal e, já dormentes, adormecem exaustos. Todos os dias. 365 dias por ano. Assim são os meus heróis.

Por norma mulheres.

Um espelho nos olhos da Mulher

Não conheço mulheres feias. Exclusivamente homens com mau palato. Nunca fixei uma imagem de uma mulher fisicamente perfeita, com as medidas que alguém certas certas. Não me desperte curiosidade. Fixo mulheres que têm rugas e imperfeições. Que palato de percorrer com os dedos numa viagem de invenção permanente. Paladar de mulheres que têm histórias para eu recontar.

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A notável escritora britânica Virginia Wolf (1882-1941) escreveu que «as mulheres, durante séculos, serviram de espelho aos homens por possuírem o poder mágico e delicioso de refletirem uma imagem do varão duas vezes maior que o originário». É por isso que eu palato de me ver ao espelho dos olhos de uma mulher. Uma imagem que capturo em retrato e que me favorece sempre.

Assumindo o risco de não ser popular, devo revelar que não sou fã privado do Dia Internacional da Mulher que se assinala a cada 8 de março. É um péssimo negócio trocar um só dia pelos 365 de cada ano. O dia da mulher é também o dia do varão. Que celebro hoje, amanhã, depois de amanhã, segunda-feira… abril, maio, junho… 2025, 2026, 2027…

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