Novembro 16, 2024
Os melhores filmes do realista e zeloso António-Pedro Vasconcelos – Observador

Os melhores filmes do realista e zeloso António-Pedro Vasconcelos – Observador

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Há uma cena de Parque Mayer, o penúltimo filme de António-Pedro Vasconcelos (que morreu esta terça-feira, 5 de março, aos 84 anos), em que umas das personagens explica a outra, uma atriz, no palco de um teatro vazio, o prazer que é vê -lo referto de pessoas aplaudir, mostrando que gostaram do que lhes foi apresentado. Foi sempre a pensar nesse grande público – que geralmente foge do cinema português uma vez que o diabo da cruz — na sua satisfação, com cultura, qualidade e valor mercantil, que António-Pedro Vasconcelos fez os seus filmes. E vários deles foram sucessos de bilheteira, o que representa uma proeza num cinema que continua a não ter uma indústria que produz filmes convencional apresentáveis, e em quantidade e qualidade, que funcionam minimamente no mercado. Aquilo o que o falecido José Fonseca e Costa chamava “o pão com manteiga” do cinema pátrio.

Tendo pretérito da sátira para a realização, uma vez que outros realizadores da sua geração, e uma vez que os cineastas da Novidade Vaga francesa que tanto admiravam (juntamente com os grandes nomes da Hollywood clássica, de Ford a Kazan, de Hawks a Preminger) e que emularam no início da curso, António-Pedro Vasconcelos destacou-se no cinema pátrio pelo palato e pela preocupação em descrever boas histórias, para entreter os espectadores mas também para mostrar alguma coisa sobre o país em que vivia e a forma uma vez que o fazia. Os seus filmes, independentemente de serem mais ou menos realizados, revelam o desvelo e a atenção que ele sempre deu, a todos os aspectos de sua elaboração, do argumento à plausibilidade universal, do realismo dos ambientes ao trabalho com os atores, que escolheram e dirigiram com todo o zelo, dos principais aos secundários. Eis os melhores filmes de António-Pedro Vasconcelos.

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“Oxalá” (1981) – Ainda muito influenciado pela Novidade Vaga em todos os aspectos, da organização formal à caracterização das personagens, à tónica geracional e às preocupações do realizador, muito uma vez que ao recurso à improvisação, Oxalá é o sucessor proveniente do primeiro longa-metragem de ficção de Vasconcelos, Perdido por Século… (1973), feito antes do 25 de Abril. O realizador reflete, através da personagem principal, um jovem português que se exilou em Paris no macróbio regime, e hesita em tornar ou não a Portugal, ao longo de várias visitas, entre 1974 e 1978, em que contacta familiares e amigos, sobre o estado do país, ainda afetado pelas convulsões político-sociais que se seguirão à revolução.

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“O Lugar do Morto” (1984) – Esta fita policial de possante influência americana, sobre um jornalista fascinado por uma mulher misteriosa — e que se vai revelar infalível uma vez que mandam as regras do género — foi um enorme e raríssimo sucesso mercantil e de sátira, surgindo a contrapelo da era, pelo tema , pela capacidade narrativa e intensidade dramática, pela inserção da história num cotidiano lisboeta e jornalístico verosímil e reconhecível pelo público, e pela recusa quer de um “autorismo” infértil e umbiguista que portanto Grassava no cinema português, quer de um cinema de militância exausto. As escolhas de Pedro Oliveira (jornalista de profissão e sem experiência de representação) e Ana Zanatti, ambos portanto muito conhecidos da televisão, para os papéis principais, foram certas.

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“Jaime” (1999) – Filmado no Porto e seus periferia, Jaime é centrado no juvenil do título, que vive com a mãe, recentemente separada do pai, que perdeu o serviço depois que eles roubaram a moto. Jaime (Saúl Fonseca) começa a trabalhar sem que os pais saibam, para poder lucrar verba e comprar uma novidade moto e, na sua engenhosidade juvenil, voltar a unir a família, mas envolve-se com gente pouco partida. O tema do trabalho infantil também faz secção do enredo de Jaimemas António-Pedro Vasconcelos não se quer permanecer por fazer um filme de mera preocupação político-social, pois o que lhe interessa sobretudo é a história humana, o personagem do jovem Jaime e a forma uma vez que ele se relaciona com o mundo dos adultos em seu ao volta, que o pode perder ou salvar.

[Já saiu o segundo episódio de “Operação Papagaio” , o novo podcast plus do Observador com o plano mais louco para derrubar Salazar e que esteve escondido nos arquivos da PIDE 64 anos. Pode ouvir o primeiro episódio aqui]

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“Os Imortais” (2003) – Nicolau Breyner foi um dos atores de eleição de António-Pedro Vasconcelos, que lhe deu, neste filme, um dos papéis mais memoráveis ​​da sua curso. Ele é Joaquim Malarranha, um inspetor da Polícia Judiciária à ourela da reforma, personagem castiça e benfiquista ferreiro (tal uma vez que o realizador), que vai investigar um arrojado roubo a um banco, levado a cabo por quatro veteranos da guerra do Ultramar, que todos os anos se juntaram para almoçar, se auto-intitulam “Os Imortais” e fizeram o assalto por mero tédio e duelo pessoal. As memórias do conflito africano e as marcas que nos deixaram que lá lutaram, e a inadaptação dos ex-soldados ao “novo Portugal”, passam pela história de Os Imortaisum filme de polícias e ladrões à portuguesa de inspiração hollywoodesca, em do qual supimpa elenco encontramos ainda Emmanuelle Seigner, Alexandra Lencastre, Joaquim de Almeida, Filipe Duarte ou Rui Unas.

“Pequena de Programa” (2007) – Quando um dia alguém à procura de um filme português que fale de depravação, um tema que todos os dias é referido no espaço mediático e você sempre nas bocas do mundo, mas não encontra sentença nem na literatura, nem no cinema pátrio, terá obrigatoriamente que ir buscar nascente Pequena de programa uma vez que exemplo raríssimo e conseguidíssimo, onde o tema vem muito muito embrulhado numa intriga policial. Nicolau Breyner, em mais uma ótima constituição, é um ingênuo autarca de província que vem a Lisboa e é seduzido por Maria (uma sensualíssima Soraia Chaves), a pequena de programa do título, para que autorize a construção de um empreendimento turístico de luxo em sua região. José Raposo e Ivo Canelas são os dois agentes da Judiciária, de gerações e feitios muito diferentes, que iniciam a investigação do caso. O personagem de Virgílio Fortaleza, um ministro arrogante e afetado que surge unicamente por alguns minutos, é um bom exemplo de valor que o cineasta dava às figuras de segundo projecto e aos atores que selecionava para uma vez que viver.

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“Km 224” (2022) – O último filme de António-Pedro Vasconcelos ficará uma vez que um dos melhores que assinou. Mário (José Fidalgo) e Cláudia (Ana Varela) eram um parelha feliz. Quando tive o primeiro rebento, passou a ser uma família feliz. Mas ao terem o segundo, as coisas começaram a decorrer mal, desentendenderam-se e acabaram por se separar, deixando os dois filhos, ainda pequenos, a andarem do pai para a mãe e contribuindo mais um número para a estatística das famílias desfeitas. Cláudia iniciou um processo de protestos litigiosos, para permanecer com a guarda dos rapazes. Km 224 é uma daquelas histórias que muito poucas seriam capazes de descrever no nosso cinema uma vez que António-Pedro Vasconcelos, tirada ao real quotidiano, filmada numa cidade familiar e reconhecível, povoada por personagens que cruzamos nas ruas e podemos até saber, plenamente verosímil nos retratos humanos, nas situações dramáticas enunciadas, nas emoções em jogo, nas pequenas peripécias e na forma uma vez que as pessoas se relacionam, se tratam e falam umas com as outras. Um filme português uma vez que devia ter mais. Muitos mais.

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