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* este texto faz parte da série de especiais que o Viagem em Pauta publicou em comemoração aos 35 anos da queda do Muro de Berlim, em novembro de 2024
A aparência de um estado bem-sucedido já não conseguia ser mantida (nem para os alemães orientais, muito menos para o mundo).
População descontente, prisões lotadas, escassez de produtos, falta de energia e um estado falido eram os sinais de que o fim do Muro estava próximo.
Há 35 anos, no dia 9 de novembro, o mundo assistia à queda do símbolo máximo de um sistema político perverso que dividiu a Alemanha, entre 1961 e 1989.
Assim como descreve o escritor Ignácio de Loyola Brandão, no livro O Verde violentou o muro (1984), “um lado implantou a sociedade socialista, o outro adotou o american way of life, com investimentos vultosos e artificiais”.
Em silêncio, Leipzig fazia uma revolução.
A menos de 200 quilômetros de Berlim, a cidade foi considerada um dos principais pontos de oposição ao sistema imposto na Alemanha Oriental, endereço da histórica Revolução Pacífica. Desde 1982, assistia a manifestações sem violência, na Igreja de São Nicolau (Igreja de São Nicolau, em português).
No dia 9 de outubro de 1989, um mês antes da queda do Muro, 70 mil pessoas saíram às ruas da cidade, com velas nas mãos para protestar contra a ditadura imposta em toda a Alemanha, que presenciava uma manifestação de proporções únicas, pela primeira na sua história.
O Muro de Berlim chegaria ao fim de forma tão inesperada quanto a sua construção, 28 anos antes.
Na tarde do dia 9 de novembro de 1989, Günter Schabowskim, membro do comitê máximo do Partido Comunista, se encontrava em uma coletiva de imprensa na Alemanha Oriental quando começou a ler, pausadamente, um papel que continha um conteúdo desconhecido pelo próprio Schabowskim.
Ali, ele anunciava, entre uma série de medidas, a revogação da lei de 1988 que proibia viagens para fora da Alemanha Oriental, assim como a ordem de agilizar os pedidos de permissões de saídas e a abertura das fronteiras entre a RDA e a RFA.
– “Quando entra em vigor?” – um jornalista questionou.
Schabowskim voltou-se para seu emaranhado de papéis e devolveu, em seguida: “Pelo que entendi, imediatamente”.
Às 20 horas daquela longa noite histórica, os jornais já anunciavam que a Alemanha Oriental acabara de abrir suas fronteiras. Não demoraria para alemães começarem a se dirigir a postos fronteiriços.
Pouco depois da meia-noite, todas as fronteiras se encontravam abertas.
Por que o Muro de Berlim foi construído
No final da Segunda Guerra Mundial, a Alemanha nazista de Adolf Hitler estava em ruínas e dividida em zonas de ocupação administradas pelos Países Aliados vencedores da Segunda Guerra.
De um lado, Estados Unidos, França e Grã-Bretanha se ocupavam do lado ocidental capitalista. Do outro, soviéticos tomavam Berlim como espólio de guerra e começavam a transformá-la em uma espécie de satélite do comunismo.
Nem que para isso fosse preciso plantar um muro bem na porta da casa daquela gente.
Para evitar a contaminação do vizinho ocidental, a União Soviética dava início a uma série de ações que isolavam a Alemanha Oriental do resto do mundo não comunista.
Até então sem concreto ou vergalhões, o muro começava a ter seus primeiros arrimos erguidos por uma ditadura estabelecida pelo SED (Partido da Unidade Socialista da Alemanha), o Partido Socialista Unificado da Alemanha, o único no poder.
Em outubro de 1949, cinco meses depois da criação da República Federal da Alemanha (RFA), responsável pela Alemanha Ocidental, foi fundada também a República Democrática Alemã (RDA) ou, em alemão, República Democrática Alemã (DDR), cuja capital era Berlim.
Em 1952, o SED bloqueou passagens terrestres para a Alemanha Ocidental, forçando assim a saída dos Aliados, e documentos de identidade passaram a ser, rigorosamente, checados nas ruas.
A única fronteira aberta até aquele momento era Berlim, dividida entre soviéticos e ocidentais. De acordo com o Museu da Muralhaem Berlim, quase três milhões de pessoas aproveitaram a brecha para deixarem suas casas e seguirem para o setor ocidental do país, via Berlim, entre 1949 e 1961.
Enquanto a RFA se fortalecia com a chegada de fazendeiros e homens qualificados que passaram a contribuir para a ascensão econômica da Alemanha Ocidental, o lado comunista enfraquecia com o desaparecimento de sua população.
Até que um dia, em 1961, o líder comunista Walter Ulbricht soltou a seguinte frase, durante uma coletiva de imprensa, em que uma jornalista o questionou sobre como seria a nova fronteira nacional:
– “Ninguém tem a intenção de construir um muro”, respondeu Ulbricht, vítima de um golpe de traição do próprio inconsciente que anunciava o que viria pela frente.
Em um domingo de verão, dois meses depois, Berlim amanhecia cercada por rolos de arames farpados e dezenas de cruzamentos bloqueados, entre as Alemanhas Oriental e Ocidental.
O líder comunista da Alemanha Oriental seria o responsável pela construção do futuro muro, colocando seus homens na fronteira, a fim de controlar os acessos entre o Oriente e o Ocidente.
Nas semanas seguintes, obstáculos começaram a ser erguidos para bloquear veículos, torres de observação e um… muro provisório.
Construções eram derrubadas para dar lugar a novas faixas de isolamento e edifícios que ficavam ao lado das fronteiras eram lacradas com cimentos, enquanto os moradores dos apartamentos orientais vizinhos pulavam de suas janelas para a rua, já em território ocidental.
Uma das cenas mais marcantes da época são as de residentes da rua Bernauer que tinham seus corpos puxados, simultaneamente, por policias orientais que tentavam colocá-los de volta no interior do prédio e por ocidentais na rua que insistiam em trazê-los para o mundo da liberdade.
Outros métodos de resgate, como cordas e lonas de bombeiros ocidentais, eram usados também para retirar berlinenses daqueles prédios que acabariam se transformando em fronteira.
Berlim Ocidental se tornava uma ilha capitalista cercada por um mar socialista, isolada do resto do mundo, entre 1961 e 1989.
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