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Um dos aspectos mais peculiares do apelo político de Donald Trump é o seguinte: muitas pessoas estão felizes em votar nele porque simplesmente não acreditam que ele fará muitas das coisas que diz que fará.
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O ex-presidente falou sobre armar o Departamento de Justiça e prender oponentes políticos. Ele disse que eliminaria os não leais ao governo e que teria dificuldade para contratar qualquer pessoa que admitisse que a eleição de 2020 não foi roubada. Ele propôs “um dia realmente violento” no qual os policiais poderiam ser “extraordinariamente duros” com impunidade. Ele prometeu deportações em massa e previu que seria “uma história sangrenta”. E, embora muitos de seus apoiadores vibrem com essas falas, há muitos outros que acham que tudo isso faz parte apenas de uma grande atuação.
Há, é claro, evidências do contrário. Durante o mandato de Trump, parte de sua retórica autocrática se tornou realidade. Ele realmente colocou em prática a proibição de muçulmanos; ele realmente ordenou investigações de seus adversários; ele realmente fomentou uma multidão quando a eleição não foi a seu favor. Mas, em outros casos, ele foi impedido, e muito de seu lero-lero de homem forte não passou disso.
É assim que alguns de seus eleitores acham que um novo mandato pode funcionar. É assim que eles racionalizam sua retórica, concedendo a ele o benefício reverso da dúvida. Eles duvidam; ele se beneficia.
Na última quinta-feira, dentro de uma pequena casa de shows no centro de Detroit, no meio do dia, era possível ver esse fenômeno ganhando vida claramente. Trump estava lá para discursar no Detroit Economic Club. Os presidentes Richard Nixon, Jimmy Carter, Bill Clinton, George W. Bush e Barack Obama também foram a Michigan, em suas respectivas épocas, para falar a esse clube.
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Havia algumas centenas de pessoas lá. Elas não eram o tipo de pessoa que se encontra em um comício de Trump. Não eram trabalhadores da construção civil, motoristas de caminhão ou operadores de empilhadeira; carregavam cartões de visita e tinham páginas muito ativas no LinkedIn. Eles não usavam bonés vermelhos ou camisetas com imagens do rosto ensanguentado de Trump, mas paletós de terno de lona, mocassins e botões de punho bastante chamativos.
Eles não queriam ouvir sobre “um dia realmente violento” ou sobre o estado profundo ou os marxistas ou os fascistas ou qualquer uma das outras visões radicais ou antidemocráticas que Trump descreve em detalhes barrocos em seus comícios. Eles só queriam que dissesse a eles que ele seria bom para os negócios.
Então, ele disse. Por quase duas horas. Houve arestas em seus comentários e algumas conversas sobre uma eleição roubada, mas, na maioria das vezes, ele fez com que eles se sentissem satisfeitos com a escolha de votar nele. Eles riram de suas piadas autodepreciativas sobre sua idade, seu corpo, seu cabelo e sua riqueza. Ele falava sobre os muscle cars americanos e os presenteava com histórias de como enfrentou vários líderes mundiais e sobre seu novo amigo, Elon Musk. Eles se divertiram quando ele contou que sua filha Tiffany estava grávida e aplaudiram quando ele disse, embora improvável, que trabalharia com os democratas para fazer as coisas acontecerem. Essa era a versão de Trump na qual eles (e seus investimentos) queriam acreditar.
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Eles acharam fácil ignorar as outras versões dele.
— Acho que a imprensa exagera nas proporções para fazer sensacionalismo — disse Mario Fachini, 40 anos, de Detroit, dono de uma editora de livros.
Seu cabelo preto estava penteado para trás e ele vestia um terno preto quadrado listrado com um lenço de bolso dourado aparecendo. Havia pequenos globos de modelo pendurados em seus botões de punho. Ele ergueu o pulso e deu uma volta em um deles.
Tom Pierce, de 67 anos, morador de Northville, Michigan, não acreditava de fato que Trump reuniria imigrantes suficientes para realizar “a maior operação de deportação em massa da história”. Mesmo que essa seja praticamente a promessa central de sua campanha.
— Ele pode dizer coisas e deixar as pessoas chateadas — disse Pierce, acrescentando: — Mas depois ele volta atrás e diz: ’Não, não vou fazer isso’. É uma negociação. Mas as pessoas não entendem isso.
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Pierce, ex-diretor financeiro, acreditou que Trump realmente cobraria uma tarifa de 200% contra determinadas empresas? “Não”, respondeu ele, afirmando que “essa é a outra coisa. Às vezes, é preciso assustar esses outros países.” (De fato. Em uma entrevista na Fox News no domingo, Trump disse: “Estou usando isso apenas como um número. Vou dizer 100, 200, 500, não me importa”).
— Ele não é perfeito. E não me importo necessariamente com sua personalidade, mas aprecio o fato de termos tido paz e prosperidade.
Essa é a dinâmica que Trump tem com os eleitores desde que entrou no cenário político há nove anos, e ela perdura, mesmo que sua linguagem tenha se tornado mais sombria. Na última pesquisa do New York Times/Siena College, 41% dos prováveis eleitores concordaram com a avaliação de que “as pessoas que se sentem ofendidas por Donald Trump levam suas palavras muito a sério”.
— As regras normais simplesmente não se aplicam a Donald Trump, e já vimos isso várias vezes — disse Neil Newhouse, pesquisador republicano.
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Newhouse disse que descobriu, em suas pesquisas e grupos de discussão, que “as pessoas acham que ele diz as coisas para ter efeito, que está se gabando, porque isso faz parte do que ele faz, de seu truque. Elas não acreditam que isso realmente vá acontecer”.
Mas Trump e aqueles ao seu redor disseram que um segundo mandato seria diferente, já que ele finalmente tem um controle firme sobre seu partido e porque muitos dos obstáculos que o atrasaram antes foram pulverizados. Essa é uma parte fundamental do discurso da vice-presidente Kamala Harris para os eleitores.
— Entenda o que significaria se Donald Trump voltasse à Casa Branca sem barreiras, porque certamente sabemos agora que o tribunal não o deterá — disse ela durante o debate. —Sabemos que [o seu vice de chapa] JD Vance não vai impedi-lo.
Em um novo livro de Bob Woodward, o general Mark Milley é citado como tendo dito que o ex-presidente é “fascista em sua essência”. Milley é apenas mais um em uma longa linha de oficiais de alto escalão e líderes militares que trabalharam para Trump e depois contaram histórias sobre ter que trabalhar constantemente para impedi-lo de agir de acordo com seus impulsos mais antidemocráticos.
Em Detroit, Trump contou uma versão dessa realidade que não era totalmente diferente. Ele lamentou como foi seu primeiro mandato em Washington, admitiu que não sabia muito sobre como a cidade funcionava e que tinha que contar com pessoas em quem não podia confiar para realizar seus desejos.
— Agora conheço o jogo um pouco melhor — disse.
Mas ele também parecia estar ciente de que há muitas pessoas que se perguntam sobre algumas das palavras que saem de sua boca. Talvez algumas dessas pessoas estivessem presentes naquela mesma sala. Talvez seja por isso que ele saiu pela tangente sobre todas as maneiras pelas quais ele acha que os democratas estão estragando tudo e depois disse:
— Veja, essa é a verdadeira ameaça à democracia — pessoas estúpidas.
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