“Nós sabemos que somos superiores esteticamente, moralmente, politicamente, historicamente. Nós sabemos que somos superiores”. As palavras foram ditas por Rita Matias, no penúltimo dia de campanha, 7 de março, num jantar-comício em Santiago do Cacém, mas não se pode expor que sejam originais. “Apanhada” pelas câmaras da RTP , a deputada do Chega fez uma referência ipsis verbis ao seu ídolo de longa data, Javier Milei.
“Rita Matias, mas não pode imitar o oração de Milei. Conservadores são moralmente inferiores a Liberais. Conservadores mentem e prometem ao eleitorado uma economia liberal e restrições sociais. Quando muito muito sabemos que uma economia liberal trás [sic] liberdade individual com ela”, lê-se num “tweet” partilhado a 8 de março, dia em que o programa “Bom Dia Portugal” revelou um excerto da mediação de Matias na noite anterior.
A tendência da deputada do Chega para se inspirar outros líderes da direita radical já era conhecida: em 2021 a recém-nomeada dirigente do Chega plagiou um oração de 2019 proferido por Giorgia Meloni, agora Primeira-Ministra de Itália. Nesse ano, o processo de tradução foi mais trabalhoso. Nestas legislativas, a inspiração chegou em espanhol.
Desde 2021 que Javier Milei, líder do partido La Libertad Avanza e atual presidente da Argentina, é leal a um estilo disruptivo que lhe vale bastante vídeos famosos. Numa entrevista ao programa Viviana com Vos, Milei Comentei uma lista onde foram divulgados nomes, vínculos, fotografias e dados de alguns dos maiores “conservadores” da Argentina, onde estava naturalmente incluído: “Estamos a ganhar-lhes a guerra cultural. Somos superiores morais e esteticamente.”
O liberal só conseguiu retirar coisas positivas da lista: “Sabe o que é melhor no meio disto tudo? Porquê todos podemos errar, obrigamos-nos a ser melhores. Temos sido tão melhores do que eles, estamos a ganhar-lhes a guerra cultural e estamos a passar-lhes por cima. Somos superiores morais e esteticamente. Somos melhores em tudo e isso dói-lhes.”
Sobre o tópico, Rita Matias esclareceu: “Acusar de imitação ou plágio – apropriação indevida de propriedade intelectual – uma mediação de mais de 15 minutos no comício da campanha legislativa em Setúbal, pela semelhança de uma teoria transmitida numa entrevista de Javier Milei, é totalmente infundada.”
Segundo a deputada, “foi transmitido a superioridade da direita face à esquerda, enquadrando-a com o cenário de depravação e tráfico de influências que minaram todas as instituições democráticas portuguesas nos últimos meses”. Matias cita e promete continuar a “reportar Javier Milei”.
“O vídeo de Javier Milei em questão é, inclusive, uma das peças centrais de debate nas palestras que a Juventude Chega dinamiza nas Universidades, sendo projetado no início das mesmas para definir a guerra civilizacional que travamos. São diversas as publicações, fotografias e mensagens de espeque nas minhas redes a Javier Milei, por que não existe nenhum roubo de propriedade intelectual de alguém que admire pela compreensão da guerra que travamos”, explica sobre aquilo a que labareda “parafrasear”.
“Tendo em conta que me dedico a explicar o combate civilizacional que travamos é proveniente parafrasear e seguir as posições de políticas que também o identificam. Se eu disser ‘o povo é quem mais ordena’ estou a imitar Zeca Afonso? Ou se disser ‘eu “Tenho um sonho’ sou um plagiador de Martin Luther King? A retórica e a retórica no oração de campanha são obviamente influenciadas pelos lugares comuns dos valores políticos com que nos identificamos”, conclui a deputada.
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