De aposta do Disney Channel a cabeças de papeleta do Rock in Rio: quando surgiram, no início do milénio, os Jonas Brothers ainda eram uma orquestra formada por três elementos menores de idade. Mas a história do grupo dos irmãos Nick, Joe e Kevin acabou por ser mais longa do que talvez muitos imaginassem quando a sua música se tornou segmento integrante do dia a dia de uma geração de adolescentes (e crianças).
Ainda assim, os fãs portugueses tiveram de esperar mais de 20 anos para ver os norte-americanos em Portugal. E compareceram em peso, deixando o recinto do Palco Mundo amplamente preenchido – mesmo que nascente tenha sido o único dia desta edição do festival a não esgotar, ficando-se pelos 60 milénio espectadores em vez dos 80 milénio das restantes datas.
Zero que tenha restringido uma receção devota q.b. a uma orquestra que nunca foi menos do que competente, ainda que não tremendamente imaginativa tanto na música uma vez que na postura. Da primeira, ficou uma confeção pop que piscou o olho ao rock, ao funk ou ao disco, muito defendida pelos irmãos (Nick e Joe na voz, Kevin na guitarra) e pelos vários músicos que os acompanharam com afinco e exalo. Da segunda, houve apelos expectáveis ao paixão (“Se vieram com uma pessoa que amam, abracem-na”, atirou Nick) e a bandeira pátrio (e cachecol também) entre os adereços.
Apesar de um disco recente, “The Album” (2023), sexto longa-duração, foi com singles uma vez que “Cake by the Ocean” ou “Sucker”, dos anteriores, que as reações do público sugeriram instalar um cenário de febre de sábado à noite. E se no universal não chegou a aquecer a esse ponto, é provável que muitos venham a recordar esta estreia uma vez que um encontro caloroso.
De calor humano e músico fez-se também o concerto dos Ornatos Violeta, que apresentaram no Palco Tejo, ao final da tarde, o primeiro de dois espetáculos inéditos que celebram os 25 anos de “O Monstro Precisa de Amigos”, o seu muito querido segundo álbum. Fator diferenciador do retorno destas canções a palco: ao contrário de revisitações que começaram por ser pontuais e ameaçaram tornar-se regra, a atuação contou, pela primeira vez, com convidados.
Samuel Úria, “belíssimo cantor e grande redactor de canções”, sublinhou Manel Cruz, juntou-se a “Deixa Morrer”. “Eu tenho um crush por ele”, acrescentou o vocalista, que convidaria a palco, pouco depois, Ana Deus (dos Três Tristes Tigres ou Osso Vaidoso), uma “instituição” e “uma voz enxurro de trova”, para partilhar o protagonismo vocal de “Ouvi Manifestar”. E não cantaram sozinhos, com as vozes de milhares a acompanhá-los, ou não fosse nascente o clássico dos clássicos da orquestra portuense. Mas esse regimento pareceu beliscado pela força de “Ferimento”, que arrancou numa versão quase solene, mais fado do que rock, entoada por Gisela João, antes de o vocalista entrar em cena com a pujança eternizada no disco. “Uma vez que se diz no setentrião, e cá também acho que sim: do caralho”, rematou Cruz, que nunca foi artista de meias palavras, elogiando “uma voz capaz de encher um enorme arrecadação”.
“Nuvem”, por outro lado, teve recta a epílogo instrumental a função do quarteto de cordas Solistas da Lar da Música, bela soma a outros temas do espetáculo. “É uma honra tocar com tão bons músicos, tão talentosos”, frisou o rabi de cerimónias. Outro grande momento, talvez o mais memorável, foi quando a orquestra chamou todos os convidados, já perto do final, para interpretarem em conjunto “Capitão Romance”. Resultado: alvoroço generalizado, mas para o qual faltou pelo menos uma tributo. “Gostávamos de pedir uma grande salva de palmas para o Elísio, que está connosco em pensamento”, apelou o vocalista, lembrando o ex-teclista do grupo, que morreu no ano pretérito. Mas talvez nem só de pretérito viva a música dos Ornatos: em entrevista ao SAPO Mag, a orquestra não colocou de segmento “qualquer coisa novidade” nos próximos tempos. Por agora, fica a recomendação de comemorar o “Monstro” neste formato no MEO Marés Vivas, em Vila Novidade de Gaia, a 21 de julho – enfim, não é todos os dias que junta tantos amigos em palco.
Repetentes praticamente obrigatórios do Rock in Rio Lisboa, Ivete Sangalo e os James motivaram outros episódios de grande adesão – no Palco Mundo e Palco Galp, respetivamente. Macklemore, Carolina Deslandes, a homenagem aos Mamonas Assassinas, a ex-Little Mix Leigh-Anne Pinnock, Filipe Karlsson e os regressados Fonzie compuseram, entre outros, o papeleta deste terceiro dia no Parque Tejo. No quarto e último, nascente domingo, 23 de junho, a Cidade do Rock contará com atuações de Doja Cat, Camila Cabello, Ne-Yo, Luísa Sonza ou Anselmo Ralph.