Começa esta quinta-feira o Rali de Portugal com um plantel de luxo nas estradas. São sete os antigos vencedores (Elfyn Evans, Thierry Neuville, Kalle Rovanpera, Ott Tanak, Sébastien Ogier, Kris Meeke e Armindo Araújo) e três campeões do mundo (Sébastien Ogier, Ott Tanak e Kalle Rovanpera). A Renascença falou com Rui Madeira, um histórico dos ralis que ainda tentou voltar à prova mítica oriente ano, mas a quem faltaram os apoios suficientes, ele que carimbou o seu nome na lista de vencedores (1996) e que deixa uma aposta para 2024: Kalle Rovanpera.
O Rali de Portugal 2024 apresenta sete antigos vencedores e três campeões do mundo. É um elenco de luxo.
Sem incerteza nenhuma. Há reforços de peso na lista de inscritos. À partida não seria previsível, em face da decisão do Kalle Rovanpera e do Sebastien Ogier não fazerem o campeonato completo, mas o que é visível é que a Toyota traz a armada toda e a Hyundai também, com o Dani Sordo. Vai ser um Rali muito competitivo. Em relação à luta pela vitória acho que vamos ter uma prova muito boa de seguir. Vai ser um Rali magnífico e o tempo vai ajudar e, portanto, temos todos os condimentos para ter uma magnífico prova.
São nove carros oficiais. A Toyota parece vir com as armas todas.
Exatamente. A Toyota vem com as armas todas. Também a Hyundai tem um carruagem melhor que no ano pretérito, o que terá obrigado a Toyota a invocar dois reforços de peso, com o Ogier e o Rovanpera, dois pesos pesados, para conseguir controlar o campeonato do mundo de construtores, que é o grande objetivo da Toyota. A Hyundai também tem um reforço de peso – o Dani Sordo.
Se tivesse de apostar num predilecto, quem seria?
Vou apostar no Kalle Rovanpera. Foi o vencedor das últimas duas edições. Diz o ditado que não há duas sem três. Acho que poderá ser entre ele ou o Ogier. Mas vai depender muito da primeira lanço. No ano pretérito houve uma grande surpresa, o Rovanpera foi a perfurar a estrada e chegou ao final de Arganil e avante. Mesmo partindo de trás, numa situação de desvantagem, conseguiu lucrar. Ele gosta muito do Rali de Portugal, tem uma inclinação para a nossa prova e vai pensar em lucrar, uma vez que fez no Rali Safari, em que fez um rali à segmento dos outros pilotos.
Há alguma classificativa que possa ser decisiva ou vai ser um rali equilibrado até ao término?
Depende de muitos fatores e depende do primeiro dia, que vai ser um dia de lotaria, com mais uma classificativa. Vai possuir dois rounds em Mortágua, Lousã, Góis e Arganil e a segunda passagem pode ser muito demolidora. Prevê-se muito calor e o fator pneus e o fator resistência dos carros e a forma uma vez que vão abordar essas oito classificativas na sexta-feira poderá fazer a diferença. De qualquer das formas, a classificativa maior do Rali será Amarante, uma classificativa muito extensa, com grande variedade de pisos, e na segunda passagem costuma dar volte face nas classificações, será a classificativa que poderá sentenciar.
Entre os portugueses, o Armindo Araújo é o que provavelmente terá as melhores condições. Tem um carruagem na segunda categoria [WRC2), que tem dezenas de inscritos. Ganhar a sua categoria e um top 10 final é realista?
Será muito difícil porque há pilotos no WRC2 muito bem apetrechados. No primeiro dia, as classificações contam para o campeonato nacional e o ano passado foi o Ricardo Teodósio o primeiro classificado, mas no global do Rali costuma ser ele o melhor português. Tem a vantagem de ter muita experiência, normalmente o Rali sai-lhe muito bem, tem uma excelente equipa, não basta só o piloto e o navegador, é preciso ter uma grande estrutura e a Hyundai parece-me que é o melhor carro do WRC2. Mas vêm muitos pilotos, há concorrência feroz que já conhecem o Rali de Portugal e vão andar da melhor forma possível.
Com tantos WRC [9 da categoria principal] será mais difícil um top10, mas um lugar nos 20 primeiros pode ser muito provável, mas depende muito do que vai sobrevir em termos de desistências e vai depender também da forma uma vez que ele vai encarar a prova. Passando a primeira lanço não faz sentido tutelar só o melhor português na classificação, mas marchar um bocadinho mais depressa e obsequiar os espetadores portugueses com um curso mais possante, mas há outros pilotos que vão fazer o mesmo e vai ser preciso um bocadinho de sorte.
Há qualquer jovem que esteja a despontar que possa ser o próximo “Rui Madeira”?
Há uma aposta cada vez maior dos pilotos mais jovens nos troféus, o troféu Peugeot, o troféu Toyota onde surgem pilotos novos, sobretudo em Espanha. Em Portugal, infelizmente, não tanto. Temos pilotos jovens uma vez que o Gonçalo Henriques – que é vencedor em duas rodas motrizes -, um piloto com 26 anos – já começa a ser tarde – mas temos um outro que está a debutar agora, que é o Rafael Rego, que tem 18 anos, mas já com uma longa experiência no rali-crosse. Tem de se debutar por essas idades porque hoje em dia já se chega ao Campeonato do Mundo com 19 anos com muita experiência de provas. Nunca devemos perder a esperança que isso venha a surgir, mas realmente a cultura em Portugal em relação ao Motorsport não é a que deveria ser, deveria possuir mais apoios, que não têm surgido e, assim, torna-se muito difícil surgirem novos valores, até porque oriente é um desporto custoso e tem de possuir um conjunto de fatores que apoiem jovens.
É de louvar que a Federação está a fazer há três anos o FPAK Júnior Team. O Gonçalo Henriques é um desses pilotos, temos também o Hugo Lopes, que estão a conseguir lucrar categorias e provas, mas o importante é debutar pelas bases e debutar os pilotos muito jovens para que daqui a uns anos possamos ter alguém num campeonato do mundo. Sabemos que é um bocadinho utópico neste momento, mas não quer proferir que no porvir não venha a surgir esse pedestal aos bons valores, que depois precisam de meios para seguir. Não temos a cultura de Espanha ou da Finlândia, que apoiam fortemente oriente desporto, mas esperemos que isto mude.
Na Fórmula 1 há uma equipa (a Red Bull) que tem escravizado. Entre as marcas principais dos Ralis (Toyota, Hyunday, Ford) há diferenças substanciais? Ou por exemplo há carros que se dão melhor em terreno ou no asfalto por exemplo?
Neste momento é muito equilibrado. O ano pretérito havia qualquer desequilíbrio da Toyota em relação à Hyundai. Sobretudo nas provas de terreno, a Toyota fazia diferença. Leste ano tem-se notado uma grande evolução da Hyundai e o campeonato está mais equilibrado. Já houve vários pilotos a lucrar. Já ganhou o Ogier, o Rovenpera, o Neuville, o Lappi, vários pilotos da Toyota e Hyundai que têm lucro entre eles e nota-se que há uma grande paridade de meios.
Evidentemente que o campeonato ainda vai muito no início e vão surgir provas novas no Campeonato do Mundo, que poderão fazer a sua diferença. Vamos ver o que nos espera, mas nos ralis continua a não possuir nenhuma marca totalmente dominadora, tem sido muito repartido.
O público em Portugal é muito entusiasta, mas de quando em vez há notícia de acidentes com pilotos ou público. Nos últimos anos a segurança tem vindo a ser uma preocupação das organizações. Imagino que seja importante para os pilotos sentirem essas condições de segurança para poderem aventurar?
Sem incerteza nenhuma. É de louvar essa atitude de todos os organizadores, em consonância com a própria FIA. É feito um caderno de encargos para todas as provas que zero tem a ver com antigamente. As exigências são muito grandes. Aquelas loucas imagens dos anos 80, a ver as pessoas perto dos carros a fotografar, deixou de ser provável. Os fãs podem estar perto da emoção, mas longe do risco. É esse o diapasão pelo qual se tem regido a FIA e em Portugal – e a nível mundial – os adeptos já se conseguem comportar de forma digna e só assim poderá possuir espetáculo.
E mesmo para a transmissão televisiva, as “super-especiais”, em rodeio fechado, facilitam. As pessoas estão em segurança na bancada, veem a corrida toda e não só aqueles dois segundos em que o carruagem passa.
Nesse aspeto tem havido uma grande melhoria e, para possuir espetáculo, cada vez mais será o porvir as super-especiais. É necessário que haja televisão e que o público esteja perto, com boas classificativas. E sem incerteza nenhuma que um espetáculo uma vez que Lousada, que faz as delícias do público e dos pilotos, cada vez é mais importante para invocar mais patrocinadores e para divulgação da modalidade. E são etapas muito menos arriscadas para pilotos e espetadores verem um bom espetáculo.
O Rui Madeira foi vencedor do mundo na classe produção em 1995, ganhou o rali de Portugal em 1996, foi cinco vezes o melhor português, fora todas as outras provas. Curriculo impressionante… que destaca?
Sem incerteza que o título mundial FIA, que foi o primeiro em Portugal. Na profundeza difícil, diziam que era uma utopia tentar. O visível é que não se deve desistir dos nossos sonhos. Estávamos na equipa certa na hora certa – sem isso zero se consegue – mas sem incerteza nenhuma que o Rali de Portugal faz segmento do nosso currículo e daquilo que nos orgulhamos. Jogávamos em lar, estávamos perto dos nossos adeptos e proporcionar espetáculo. Sem incerteza nenhuma que fica sempre na nossa memória os bons momentos do Rali de Portugal, no tempo áureo dos ralis, com McRae, Makkinen, Kankunen, Sainz, aqueles pilotos com quem lidámos. Não são melhores nem piores que os que hoje em dia disputam as vitórias no Mundial.
Mas há diferenças
Os meios não eram os mesmos, os carros são muito mais desenvolvidos, há muito mais eletrónica, muito mais ajudas tecnológicas aos pilotos. Todavia, fazendo um balanço é sempre um Rali que ficará entre as boas recordações. O Rali de Portugal acaba por ser uma sarau, um evento não só a nível turístico, mas também de projeção do nosso país além fronteiras
Mais de 30 anos de curso e ainda anda por aí nas corridas. A adrenalina não se esgotou. Está para resistir o Rui Madeira piloto?
Não sei. Leste ano já vamos na terceira participação e enquanto tiver anelo que posso ser competitivo e que terei palato, lá estarei. A partir do momento que não sentir capacidades, é profundeza de despovoar. Leste ano ainda tenho algumas provas para fazer, o porvir logo se verá, mas em termos competitivos a maioria será em provas ‘Legends’. Teremos de ver com os patrocinadores, que terão sempre a última vocábulo. Inclusivamente estive quase para participar no Rali de Portugal oriente ano – uma última participação – mas não foi provável porque os custos são enormes e porque eu acho que neste momento os pilotos portugueses não têm o retorno de outros tempos.
Há um caderno de encargos por segmento da FIA em termos de informação em que 99% do tempo televisivo é talhado ao WRC e os pilotos portugueses há uma grande diferença de retorno mediático e quando se anda no 20.º lugar os 25.º, com as dificuldades que se tem para seguir os pilotos que disputam o Campeonato do Mundo, é muito difícil termos retorno ou darem-nos o valor por aquilo que estamos a fazer. Esse é um dos fatores que eu acho que não faz muito sentido, o Rali de Portugal fazer segmento do campeonato pátrio. É verdade que faz só uma lanço, mas a projeção podia ser uma vez que antigamente, que era: dar destaque aos nossos pilotos durante todo o Rali e possuir um pouco mais de tempo de antena, que eles também merecem
Permita-me a farra, o Rui Madeira ainda daria luta aos pilotos de topo de hoje?
É muito difícil. Estes novos carros do WRC que disputam vitórias requerem adaptação. São carros com muita tecnologia e seria difícil seguir. Eles fazem milhares de quilómetros, conhecem os carros e têm de saber para conseguir aventurar e seria impensável poder seguir um piloto desse nível. Não é que me chame velho, mas teria de ter uma atividade muito maior e 100% focado nessa atividade e neste momento não tenho essa possibilidade, mas requeriria muito trabalho. Neste momento seria utópico encontrar que qualquer português poderia chegar lá – mesmo com todo o valor que possam ter – e seguir estes nove pilotos que estão no WRC.
Cresci com nomes uma vez que a Michelle Mouton, Mikkola Marko Allen ou Miki Biasion, Sainz, McRae. Seriam sempre pilotos de topo, mesmo hoje em dia?
Seriam, seriam, sem incerteza nenhuma. Os ralis antigamente faziam classificativas de 50/60 quilómetros, hoje em dia as classificativas maiores têm 38/40 sumo dos máximos e o Rali de Portugal chegou a ter 1000 quilómetros de classificativas, neste momento ter 330 quilómetros, é um mini-rali do Europeu. São situações completamente distintas. Os pilotos antigamente vinham treinar durante uma semana, às vezes 10 dias não chegava para passar as classificativas e neste momento têm um projecto de treino que é muito rigoroso, com controlo de passagens e velocidade limitada. Chegam a Portugal, segunda-feira fazem o teste, terça e quarta estão a treinar as classificativas todas do Rali – unicamente dois dias – e quinta-feira estão a fazer o shakedown e a preparar-se para o Rali. É tudo muito pequeno, o espetáculo é todo ele muito mais controlado. As classificativas também são todas arranjadas, coisa que no pretérito não era assim. Os pilotos hoje em dia arriscam, mas não tanto uma vez que no pretérito.
A 57.ª edição do Rali de Portugal decorre entre 9 e 12 de maio e abre a período de terreno europeia do campeonato. O trajectória tem um totalidade de 1.690,12 quilómetros de extensão e 337,04 quilómetros cronometrados, distribuídos por 22 classificativas. O ponto de partida é a Figueira da Foz e termina em Fafe.