Sandrine Dixson-Declève está muito preocupada com as consequências das alterações climáticas no planeta. “Já estamos quase a ultrapassar os 1,5 graus [Celsius]”, afirmou, num tom inquieto, num debate na conferência We Choose Earth Tour, organizada pela EDP, em Munique, na Alemanha. A observador profissional em envolvente, sustentabilidade e finanças referia-se à meta definida no Tratado de Parisem 2015, em que a comunidade internacional se comprometeu a limitar a subida da temperatura muito “aquém dos dois graus Celsius” e a prosseguir esforços para “limitar o aumento da temperatura a 1,5 graus Celsius” em relação aos níveis pré-industriais. Tudo para evitar as consequências mais graves das alterações climáticas.
“Estamos a observar fenómenos extremos em todo o mundo”, assinalou a co-presidente do Clube de Roma, uma plataforma criada para se reflectir e promover soluções para as causas mais urgentes no planeta, porquê o aquecimento global. Sandrine Dixson-Declève mencionava as ondas de calor e as cheias, que estão associadas a alterações climáticas, e que têm causado a morte de milhares de cidadãos em todo o mundo. “O impacto já chegou às pessoas.”
Até há muito pouco tempo, Sandrine Dixson-Declève fez secção do Grupo de Especialistas em Impacto Poupado e Social da Percentagem Europeia e do juízo universal da EDP. Tem sido também presença assídua em conferências sobre envolvente e sustentabilidade. Ao longo da conversa em que participou em Munique, esta quinta-feira, disse que “não temos feito o suficiente pelo envolvente”, mas deixou uma nota de esperança: ainda vamos a tempo. Para o conseguir, pediu que todos fossemos activistas pelo climadesde políticos, aos cidadãos, até empresas. À margem da conferência, que decorreu pela segunda vez nascente ano, o PÚBLICO fez-lhe algumas questões sobre alterações climáticas e transição energética.
Ainda vamos a tempo de suavizar as consequências mais graves das alterações climáticas no mundo?
Neste momento, não estamos, de todo, a caminho de executar as metas que tínhamos estabelecido. [Nos últimos anos] a temperatura média do planeta já subiu 1,3 graus Celsius a mais [relativamente aos níveis pré-industriais]. Vai ser muito difícil executar as metas do Tratado de Paris, em que se queria limitar a subida da temperatura supra de 1,5 graus Celsius [em relação aos níveis pré-industriais]. O que ainda é mais preocupante é que temos novos dados do Instituto Potsdam, da Alemanha, que mostram que, se ultrapassarmos esses 1,5 graus, iremos ter perdas de 10%, por ano, no PIB dos países. Estamos a ver os custos de não termos feito zero durante muito tempo. Embora em algumas partes do Setentrião da Europa tenha chovido durante seis meses, em Portugal, Espanha e na Grécia foram atingidas as temperaturas mais altas de que há registo. Já estamos a viver as alterações climáticas.
Max Württemberger
O que é mais preocupante relativamente às consequências das alterações climáticas?
As pessoas mais vulneráveis são as mais afectadas pelas alterações climáticas em todo o mundo. Por exemplo, na Índia e no Brasil têm-se verificado muitas mortes devido a elevadas temperaturas. Quando digo temperaturas elevadas, refiro-me a valores entre os 45 e os 50 graus Celsius. Porquê essas pessoas não têm aproximação a ar condicionado, não conseguem sobreviver ao calor extremo. Por isso, têm aumentado as taxas de mortalidade relacionadas com as altas temperaturas. Também estamos a verificar que há cada vez mais transmigração ligada ao aumento de temperatura, tanto da América Latina para os Estados Unidos porquê de África para a Europa, o que criará uma maior instabilidade nos sistemas políticos. Tudo isto é muito preocupante porque está a fabricar instabilidade em todo o mundo.
Na sua opinião, o que deve ser mais urgente para minimizar os efeitos mais graves das alterações climáticas?
Temos mesmo de ultimar com a vontade proveniente dos combustíveis fósseis. Precisamos de substituir os combustíveis fósseis o mais rapidamente verosímil e já temos soluções com as energias renováveis. Mesmo assim, há investidores que continuam a expor: “Podemos inaugurar a investir, aos poucos, nas energias renováveis, mas continuamos ainda a queimar combustíveis fósseis.” Mas quanto mais queimarem combustíveis fósseis, mais emissões de gases com efeito de estufa estão a ser emitidas para o planeta.
Trabalhadora rústico na região de Androy, em Madagáscar, que tem sido aparente por fenómenos extremos ligados às alterações climáticas
ALKIS KONSTANTINIDIS
Tem participado nas Conferências das Partes (COP), das Nações Unidas, onde se discute porquê se podem reduzir as emissões de gases com efeito de estufa e foi conseguido o compromisso do Tratado de Paris em 2015. Está satisfeita com as últimas metas estabelecidas nessas conferências?
Evidente que não e até já apoiei uma das primeiras propostas de reforma para as COP, juntamente com outros cientistas e economistas. As COP tornaram-se feiras de negócios, porque permitiram que as empresas de petróleo participassem em grande graduação e promovessem lá os combustíveis fósseis. Porém, penso que têm de continuar a ser feitas. Embora não deva ir à próxima COP, porque estou a permanecer um pouco cansada.
Temos de nos esforçar mais do que estamos a esforçar agora e estou sobretudo a falar dos decisores políticos. Neste momento, estou a ajudar alguns países para que possam fazer a transição energética: tanto estou a estribar assembleias de cidadãos para que percebam que essa transição é realmente importante porquê estou a trabalhar com economistas em novos modelos e com empresas para que se melhorem as novas tecnologias em prol do envolvente. Temos de ter uma abordagem multidisciplinar.
Tem feito secção de conselhos universal de empresas porquê a EDP e a BMW. Estas empresas estão a fazer o suficiente para minimizar os efeitos das alterações climáticas?
A EDP comprometeu-se a substituir a vontade proveniente dos combustíveis fósseis por energias renováveis. A BMW e outros fabricantes têm ainda de aumentar a electrificação dos seus automóveis. Há um problema em todas essas empresas: os Governos têm de compreender as necessidades de investimento e facilitar o processo de licenciamento para que se avance com a transição energética de forma mais rápida. Se a União Europeia quer competir com os Estados Unidos e a China nesta dimensão, tem de se melhorar o trabalho em conjunto dos Estados-membros, muito porquê aumentar o investimento em infra-estruturas ligadas à transição energética.
A transição energética pode também ter as suas consequências: porquê casos em que se têm de trinchar árvores para usar terrenos para infra-estruturas de vontade renovável. Quais podem ser essas consequências e porquê podem ser minimizadas?
A decisão tem de ser sempre acompanhada por uma avaliação de impacte ambiental. Só assim se perceberão os impactes no envolvente e na sociedade. Até que ponto é que essas árvores [que vão ser cortadas] são compensadoras de carbono? E de que forma precisamos da infra-estrutura de vontade renovável que vai ser construída?
Mas porquê podem ser minimizadas as consequências?
As empresas têm de ter mensagens mais fortes dos decisores políticos. Têm de saber, por exemplo, se a União Europeia sempre prosseguirá com o Pacto Ecológico Europeu ou se investidores continuarão a estribar as mudanças para a vontade limpa. É preciso perceber que o espeque dos Governos continua a ser oferecido. Aliás, os cidadãos precisam de compreender isso: as empresas de combustíveis fósseis fizeram uma grande campanha para mostrar que o aumento do dispêndio da vontade aconteceu devido às energias renováveis. Isso não é verdade. O dispêndio da vontade aumentou devido à invasão ucraniana e à situação em Gaza. O dispêndio da vontade aumenta porque o nosso mercado está ainda ligado ao preço do gás. Portanto, há muitas falácias sobre os novos produtores de vontade, porque aqueles que estão no poder – as empresas de combustíveis fósseis – estão a tentar fabricar essas narrativas.
A Europa quer tornar-se o primeiro continente com impacte neutro no clima até 2050 e com cortes de mais de 50% nas emissões de gases com efeito de estufa até 2030. É alcançável com a informação que temos neste momento?
Estamos a caminho de atingir essas metas. Mas, se recuarmos de alguma forma, não vamos conseguir. A esse nível, estou muito preocupada com o prolongamento dos partidos de extrema-direita na Europa. A extrema-direita criou uma narrativa de pavor sobre a transmigração e as alterações climáticas, que é falsa. O meu apelo é que o Pacto Ecológico Europeu continue a ser o nosso horizonte e que nos oriente numa transição energética justa. Também temos de aumentar a tributação dos lucros das empresas petrolíferas e de gás. E, evidente, têm de ser aprovadas novas infra-estruturas ligadas às energias renováveis, porquê postos de carregamento. Há muito trabalho pela frente.
O PÚBLICO viajou a Munique a invitação da EDP