Colunista do PÚBLICO desde Outubro de 2001, onde era um dos mais antigos autores de opinião, Santana Castilho morreu nesta quarta-feira de manhã em Lisboa. Desde o final de Março que a doença o impedia de ortografar. O velório decorre nesta quinta-feira na capela pequena da Basílica da Estrela, o funeral é reservado à família.
PÚBLICO de 6 de Outubro de 2001
Dr.
Quando a 6 de Outubro de 2001 começou a assinar uma pilastra com o título genérico “Prova escrita”, numa fundura em que só cobertura, contracapa e alguns anúncios eram a cores neste jornal, Santana Castilho deixava já evidente ao que vinha e uma vez que vinha e contra quem vinha. “Ano depois ano, ministro depois ministro, os problemas de fundo continuam intocáveis, sujeitos ao atavismo dos ‘pedabobos’ que influenciam a 5 de Outubro. Falando um erudito ‘eduquês’, essa galanteio tem imposto estereótipos pedagógicos ineficazes e vinculado tabus que vão conduzindo o país à desgraça, pela mão da permissividade e do facilitismo, únicos universos em que são competentes”, escreveu.
Não fosse a referência à avenida “5 de Outubro”, que deixou de ser a sede e sinónimo do Ministério da Instrução, e podia ser uma crónica de Santana Castilho dos últimos meses. Apesar do trajectória que o levou à Suécia, Finlândia, EUA, em estudo ou no desenvolvimento de estudos e projectos educacionais, ou de ter sido consultor da União Europeia, da UNESCO e do Banco Mundial, Santana Castilho sempre foi muito cáustico em relação às abordagens exacerbadamente técnicas da Instrução, com as modas, o “eduquês” e com quem ele via uma vez que porta-vozes destas tendências. Os últimos responsáveis pela pasta da Instrução foram vítimas dilectas dos seus adjectivos afiados e sarcasmo.
Nem o facto de já ter tido funções governativas o deixou mais compreensivo. Foi subsecretário de Estado dos Assuntos Pedagógicos e subsecretário de Estado Adstrito do VIII Governo, com Fraústo da Silva uma vez que ministro. Foi uma experiência de somente 8 meses, que Santana Castilho dizia ter concluído por não ter “vergado a pilastra”.
Nascido em Beja, a 7 de Junho de 1944. Manuel Henrique Santana Castilho foi professor durante mais de 40 anos em diferentes níveis de ensino. Foi presidente do Juízo Directivo da Escola Preparatória Francisco de Arruda, logo a seguir ao 25 de Abril, e presidente da direcção da Escola Superior de Instrução de Santarém e do Instituto Politécnico de Setúbal. Foi também consultor e orientador de quadros de várias empresas, tendo sido responsável de vários livros e inúmeros artigos, publicados em vários jornais e revistas, sobre Instrução.