Maio 9, 2025
segunda temporada tem mais dragões e mais sangue, mas repete erros antigos  – Observador

segunda temporada tem mais dragões e mais sangue, mas repete erros antigos  – Observador

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Juízo prévio: para recordar quem é quem neste universo de triliões de anos, quem matou quem, quem casou com quem, quem matou quem para matrimoniar com quem, tem de rever a primeira temporada ou, no mínimo, um resumo desses que povoam o YouTube. Se a prelecção não estiver fresca, é difícil seguir a árvore genealógica de House of the Dragon, que regressa a 17 de junho (agora na Max), em seguida murado de dois anos de pausa.

Despachado o TPC, a história não perde tempo e recomeça logo em seguida os eventos que encerraram a temporada anterior (e ainda nos brinda com um som muito familiar no genérico). Luke, fruto de Rhaenyra (Emma D’Arcy), é morto por Aemond Targaryen (Ewan Mitchell) e ela acaba presa num luto que deixa em pausa todo o drama da sucessão ao trono de ferro. Porém, é bom que ela não se demore muito nessa letargia, já que de um lado e do outro há demasiados abutres a rondar em procura de um pedaço de poder.

As críticas à primeira temporada da prequela de A Guerra dos Tronos (que rebobina a história murado de 100 anos) não foram unânimes. Houve saltos temporais precipitados, arcos narrativos confusos, personagens pouco desenvolvidas e incapazes de gerar empatia no testemunha. A segunda temporada divide-se em oito episódios (menos dois do que a anterior) e corrige alguns problemas — os acontecimentos desenrolam-se no espaço de poucas semanas, deixando a história gerar raízes mais sólidas — mas repete outros, porquê a aposta numa geração mais novidade de Targaryen que balançam entre imaturos, irascíveis e ingénuos e ficam muito aquém de uma Arya Stark ou de um Joffrey Baratheon (as comparações são inevitáveis), personagens tenazes ou odiosas, mas pelo menos com carisma.

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Nos primeiros quatro episódios (aqueles que foram disponibilizados para sátira), a adaptação muda algumas coisas do livro Sangue e Lume (de George R. R. Martin) que lhe deu origem, tem plot twists, mais sangue e mais batalhas. A lista de pessoas do qual nome não podemos mencionar, de cenas cujos detalhes não podemos referir e, (praticamente) de vírgulas que não podemos usar, é extensa, mas podemos manifestar, sem spoilers, que vingança é a vocábulo que vai guiar a temporada toda, num pingue-pongue sem término entre os dois lados dos Targaryen.

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De um lado, em Kings Landing, o importuno Aegon (Tom Glynn-Carney) é agora rei e, embora tenha sido a mãe, Alicent (Olivia Cooke), e o avô e mão do rei, Otto (Rhys Ifans), os responsáveis por essa sucessão, as coisas estão a fugir-lhes do controlo. No término de contas, acabamos a ver um imprevisível e pouco inteligente miúdo a divertir aos reis, a despachar vinho e bordéis porquê se não houvesse mais zero para fazer, e a tomar decisões sem qualquer noção das consequências. A rondar, taciturno porquê uma serpente, está o irmão, Aemond (Ewan Mitchell), o miúdo gozado e desdenhado que agora é, surpresa ou talvez não, um psicopata perigoso.

© DR

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Do outro lado está Rhaenyra, a legítima herdeira, que reivindica o trono desde que o pai morreu e que agora, com um dos filhos mortos, poucas desculpas tem para não hostilizar os meios-irmãos e a antiga amiga de puerícia.

Emma D’Arcy e Olivia Cooke afirmam as suas personagens porquê as mais sólidas da narrativa, duas mulheres inteligentes, empáticas e cheias de remorsos que sabem perfeitamente, no entanto, que o bom siso de ambas nunca será suficiente para travar meninos-homens com sede de guerra.

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Se em A Guerra dos Tronos, passamos temporadas a ouvir que o inverno estava a chegar, cá é a guerra que está iminente — e não serão precisos anos para se trucidarem todos no campo de guerra.

Cabeças degoladas? Há. Barrigas esventradas? Há. Soldados chacinados? Também. Dragões a cuspirem queima? Simples. A produção fez tudo em duplo desta vez — até as perucas platinadas parecem viver em maior quantidade e mais brilhantes. Porém, quantidade (ou uns milhões a mais para gastar em cenas teoricamente espetaculares), muito sabemos que não significa qualidade. Há tantos arcos narrativos sem nexo, confusos ou irrelevantes que fica no ar a pergunta: será que não aprenderam com os erros da primeira temporada? Até os nomes se confundem: Rhaenys, Rhaena, Rhaenyra. Precisávamos de umas horas de base ao estudo só para decorar o lugar de cada um.

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Há lordes, conspiradores e aliados que fazem cá uma perninha e que, se já tinham aparecido antes, ninguém tinha oferecido por eles. Completamente prescindíveis, não acrescentam zero à história. Por outro lado, as personagens mais complexas cujos próximos passos ansiavamos estão completamente apagadas nestes episódios iniciais. Daemon (Matt Smith) é subaproveitado — restando uma única esperança, a de ter um pouco espalhafatoso reservado para a segunda metade da temporada. O mesmo é válido para lorde Larys (Matthew Needham), o vira-casacas astuto incompreensivelmente relegado para 15.º projecto.

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É preciso reconhecer que House of the Dragon é, tal porquê da primeira vez, teor viciante e entretenimento competente que nos agarra e nos faz escolher lados e torcer por uns ou por outros porquê se fosse tudo preto no branco e só pudéssemos pertencer a uma equipa. Não é A Guerra dos Tronos, mas o facto de ser uma prequela não é desculpa para não lhe chegar aos calcanhares. O objetivo era ser melhor e mais grandiosa do que a produção mãe. Ainda não o conseguiu e a janela de oportunidade para isso intercorrer começa a ser cada vez mais curta.

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Até lá chegar (ou falhar redondamente), podemos encontrar fascínio no facto de estarmos a observar a uma guerra sangrenta e sem escrúpulos dentro de um só clã. Se n’A Guerra dos Tronos havia diferentes famílias em luta pelo trono, cá são todos Targaryen. A relação de sangue pode valer tudo ou ser ainda mais traiçoeira, a lealdade e a ganância andam de mãos dadas. Quando se mata por interesse as pessoas que deviam estar mais próximas, onde é que fica o limite? Se não existe, House of the Dragon tem espaço para malparar e surpreender. No entanto, terá de saber controlar o seu impulso de grandiosidade tão muito quanto os Targaryen controlam os respetivos dragões.

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