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A escritora sul-coreana Han Kang foi laureada com o Prémio Nobel da Literatura de 2024, “pela sua prosa poética intensa que confronta traumas históricos e expõe a fragilidade da vida humana”, anunciou a Academia Sueca ao final da manhã desta quinta-feira, em Estocolmo. É a 18.ª mulher a receber o Nobel da Literatura. Sucede ao norueguês Jon Fosse, que venceu no ano passado.
“Na sua obra, Han Kang confronta traumas históricos e normas invisíveis e, em cada um dos seus trabalhos, expõe a fragilidade da vida humana. A autora tem uma consciência única das ligações entre o corpo e a alma, os vivos e os mortos, e, com o seu estilo poético e experimental, tornou-se uma inovadora na prosa contemporânea”, considerou a Academia Sueca.
Han Kang nasceu em 1970 em Gwangju, na Coreia do Sul, no seio do meio literário — o pai é o reputado romancista Han Seung-won, nota a sua biografia disponibilizada pela Academia Sueca. A par da escrita, Kang “dedicou-se também à arte e à música, o que se reflete em toda a sua produção literária”.
É conhecida por ter uma prosa lírica e introspetiva, que explora temas como violência, o trauma, o corpo, e a fragilidade da condição humana. A escritora começou a carreira como poeta, em 1993, mas foi na prosa que encontrou o principal veículo de expressão. A estreia na prosa deu-se em 1995 com a coletânea de contos O amor de Yeosu (“Amor de Yeosu”, em tradução livre), seguida pouco depois por várias outras obras em prosa, tanto romances como contos. É também autora do romance suas mãos frias (“As tuas mãos frias”, em 2002). A vida de Han Kang mudou quando, em 2016, venceu o Man Booker International com o livro Um vegetarianolevando-a ao reconhecimento global. O livro de 2007, mas desconhecido no Ocidente até 2015, quando foi publicado no Reino Unido, conta a história de uma mulher que desafia as convenções, familiares e sociais quando decide deixar de comer carne. O júri do Booker classificou-o então como “conciso, requintado e perturbador”.

▲ A capa do livro “A Vegetariana”, editado em português pela Dom Quixote
Seguiu-se Atos Humanos (2017), sexto romance da autora e o segundo a ser publicado por cá, que recupera o massacre de 18 de maio de 1980 na região de Gwangju, na Coreia do Sul. Nesse dia, estudantes de norte a sul do país revoltaram-se contra o fecho de universidades e a falta de liberdade de expressão, mesmo sob regime ditatorial. Kang e a família deixaram Gwangju quatro meses antes dos massacres. O pai queria apostar na carreira de escritor e, por isso, mudaram-se para Seul. “Nenhum membro da família morreu. Mas a mulher de um ex-namorado da minha tia foi morta. Lembro-me de imaginar como teria sido se a minha tia se tivesse casado com ele, se ela fosse a mulher. E senti uma grande ligação”, recordou em entrevista ao Observador em 2017. Apesar de ter apenas nove anos quando os massacres aconteceram, a escritora tem memórias fortes sobre esse período.
“Cada livro que escrevo transforma-me, de certa maneira. Mas este livro transformou-me muito”, confessou, nessa passagem por Portugal, a propósito da Feira do Livro do Porto. “Os meus livros são sempre sobre as minhas questões. A questão em que estou a trabalhar agora é: o que é que nos faz humanos? Qual é limite da natureza humana? Quanto é que devemos amar para nos mantermos humanos?”
Kang (Han é o nome de família e Kang o nome próprio) prosseguiu para Livro Branco (2019)uma meditação sobre luto e memória, que confirmaram o talento da sul-coreana em criar narrativas que são ao mesmo tempo poéticas e perturbadoras — a obra foi finalista do Man Booker International Prize em 2018. Lições de Grego (2023), o seu último livro, conta a história de um professor de Grego que está a perder a visão e de uma aluna que está a perder a voz.
[Já saiu o segundo episódio de “A Grande Provocadora”, o novo podcast Plus do Observador que conta a história de Vera Lagoa, a mulher que afrontou Salazar, desafiou os militares de Abril e ridicularizou os que se achavam donos do país. Pode ouvir aqui, no Observador, e também na Apple Podcasts, no Spotify e no Youtube. E pode ouvir aqui o primeiro episódio.]
Han Kang, cuja obra é publicada em Portugal pela Dom Quixote (que este ano vai colocar nas livrarias o romance Despedidas Impossíveisoriginalmente publicado em 2023) é elogiada pela capacidade de combinar temas de violência com uma escrita sensível e profunda, estabelecendo-se como uma das vozes mais influentes da literatura contemporânea sul-coreana.
Tudo indicava que o Nobel de 2024 não fosse, como os dois anteriores, parar às mãos de um europeu, e assim foi. Mas Han Kang foi uma surpresa, já que a grande favorita das casas de apostas para a maior distinção literária do mundo era a chinesa Can Xue. Kang torna-se assim a primeira sul-coreana a receber este prémio.
Han Kang: “Cada livro que escrevo transforma-me”
O Nobel da Literatura é entregue desde 1901, ano em que a distinção foi atribuída ao poeta francês Sully Prudhomme. De acordo com Alfred Nobel, que criou o galardão, este deve ser entregue a um autor de qualquer nacionalidade que tenha “produzido o mais extraordinário trabalho de forma idealista” no campo da literatura. O prémio já foi entregue a 121 pessoas: 103 homens e 18 mulheres. Tem um valor monetário de 11 milhões de coroas suecas, perto de 950 mil euros.
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