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O almirante Gouveia e Melo volta a frisar que a teoria de um conflito alargado a outras nações europeias não deve ser descartada. Sobre o polémico caso que envolveu o navio NRP Mondego, o militar diz que foi necessário mostrar ao país que se tratou de um “ato de insubordinação”.
O almirante Henrique Gouveia e Melo intervém durante uma conferência no Auditório da Escola São Pedro, em Vila Real
PEDRO SARMENTO COSTA
O almirante Gouveia e Melo define a postura adotada aquando da polémica em volta do NRP Mondego porquê um “ato de clarificação” e que na profundeza veio a público transmitir a mensagem de que “estes atos não são aceitáveis em nenhuma instituição militar”. Nega a teoria de ter oferecido “um ralhete em público” e clarifica:
“O que houve foram considerações feitas sobre um ato de insubordinação e sobre o significado desse ato, quer para dentro das Forças Armadas, quer para a Marinha, quer até a níveis internacionais”.
Portugal “deve estar prestes para tutelar a Europa”
Sobre a possibilidade de um conflito que abranja mais países europeus, nomeadamente Portugal, o almirante diz que é uma teoria que não deve ser descartada:
“Não podemos é meter a cabeça debaixo da areia e expor: isso não vai suceder porque estamos cá neste cantinho. Antes a Europa toda vai ser conquistada e quando chegarem cá já não adianta defendermo-nos porque senão não somos aliados de zero”, atira o militar, que acrescenta que Portugal deve estar prestes para a urgência de “tutelar a Europa”.
Nesse sentido, explica que quando diz que o país deve estar capaz para tutelar o seu território está também a referir-se ao “espaço europeu”.
“Podem ter a certeza absoluta de que, se a Europa for atacada e a NATO nos exigir, nós vamos morrer onde tivermos de morrer para tutelar a Europa, que é a nossa moradia generalidade”, garante.
Seguimento de navios russos quadruplicou em três anos
Na mesma entrevista revela que o número de missões de comitiva de navios russos durante a passagem por águas portuguesas quadruplicou nos últimos três anos.
“Há três anos o número de acompanhamentos que fazíamos era subordinado a uma dezena por ano. Só no ano pretérito fizemos 46 e já levante ano fizemos 14. Esses navios da Federação Russa, que podem ser militares ou mercantes mas com atividade militar conhecida, podem transitar nas nossas águas no sentido de irem da posição A para a posição B ou logo podem ter interesses nas nossas águas. E as duas coisas acontecem simultaneamente”, revela.
Gouveia e Melo contextualiza, afirmando que a invasão que a Federação Russa fez à Ucrânia veio mudar o comportamento internacional.
“Essa mudança pode ser de tal forma estruturante que pode destruir as bases que temos hoje. Destruindo essas bases, tudo o que hoje consideramos porquê reservado, que é a segurança na Europa, a NATO, a União europeia, que são pilares essenciais para a nossa segurança e para a nossa prosperidade, podem ser postos em motivo”, refere.