Março 19, 2025
Via-Sacra no Coliseu: as meditações de Francisco

Via-Sacra no Coliseu: as meditações de Francisco

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Nas meditações da Via Sacra, pensadas no Ano da Reza, Francisco propõe uma conversa face a face com Jesus e, nas quatorze estações, convida todos a se questionarem, olhando para si mesmos e para a própria consciência, mas também lançando um olhar para o mundo contemporâneo e suas distorções.

Tiziana Campisi – Notícias do Vaticano

É um diálogo com Jesus que o Papa Francisco desenvolve nas meditações da Via-Sacra da Sexta-feira Santa no Coliseu, uma conversa face a face com Cristo, feita de reflexões, interrogações, introspecções, confissões, invocações. Uma longa prece íntima que, neste Ano da Reza, prelúdio do Jubileu, deixa o coração humano falar. Nas quatorze estações, os sofrimentos de Jesus a caminho do Gólgota, os encontros ao longo da Via Dolorosa, o olhar amoroso de Maria que, sob a Cruz, torna-se Mãe de todos os homens, as mulheres capazes de gestos ternos e corajosos nos momentos mais dramáticos, o Cireneu pronto para oferecer sua ajuda ao nazareno réprobo à morte, José de Arimatéia que oferece aquele sepulcro onde Deus derrotará a morte, provocam um fiscalização de consciência que depois se prece torna, com uma invocação final que repete o nome de Jesus quatorze vezes.

O Papa introduz uma Via-Sacra, enfatizando que uma prece caracterizou cada um dos dias de Jesus, com diferentes nuances: uma vez que uma conversa com Deus, “luta e pedido, ‘Afasta de mim levante cálice'”, “entrega e dom, ‘ Mas não o que eu quero, mas o que você quer'”. Diante, logo, do temor da morte e da “angústia sob o peso do nosso vício”, essa prece se tornou mais intensa e “a veemência da dor” se tornou “uma oferta de paixão” pela humanidade.

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O silêncio de Jesus

Na primeira estação o que nos faz refletir é o silêncio de Jesus diante do “falso julgamento” que o condenou, um silêncio úbere que “é prece, é mansidão, é perdão, é o caminho para redimir o mal”, para transmudar o que foi sofrido em dom oferecido, explica Francisco. Um silêncio que o varão de hoje não conhece, porque não encontra tempo para parar e permanecer com Deus e “deixar agir a sua Vocábulo”, mas que “sacode”, porque ensina que a prece nasce “de um coração que sabe escutar”.

A cruz com a qual Cristo é onusto (segunda estação), por outro lado, lembra experiências que todos nós também vivemos: dores, tristezas, decepções, feridas, fracassos, cruzes que também carregamos. “Jesus, uma vez que se faz para rezar ali?”, pergunta o Papa, dando voz a um pedido geral: uma vez que você reza quando se sente esmagado pela vida? Cristo nos convida a nos aproximar dele, se estivermos cansados ​​e oprimidos, para nos dar sota, mas nós ponderamos, cismamos, nos afundamos na vitimização, e logo Ele “vem ao nosso encontro”, carregando nossas cruzes nos ombros, “para tirar o nosso peso”. No entanto, Jesus cai (terceira estação), mas tem a força para se levantar novamente; a mola que o empurra para frente é o paixão, enfatiza Francisco, “porque quem patroa não fica no solo, começa de novo; quem patroa não se cansa, corre; quem patroa voa”.

Maria, mãe de Jesus, dona para a humanidade

Depois da Eucaristia, Cristo nos dá “Maria, o dom supremo antes de morrer”, escreve o Papa meditando sobre a quarta estação. Jesus no caminho para o Calvário e sua Mãe: um encontro que evoca desvelo e ternura, e que nos impele a recorrer a ela, a Maria – Mãe que Deus dá a todos os homens – para poder “preservar a perdão”, “recordar o perdão e as maravilhas de Deus”, “saborear novamente as maravilhas da providência” e “chorar de gratidão”. O Cireneu que ajuda Jesus a carregar a cruz (quinta estação), por outro lado, leva-nos a refletir sobre a presunção de fazer tudo sozinho “diante dos desafios da vida”. “Porquê é difícil pedir uma mão, com temor de dar a sensação de não estar à profundidade, nós que sempre temos o desvelo de parecer muito e de se colocar em evidência! Não é fácil encarregar, menos ainda de se encarregar”. Quem reza, porém, “sabe que está em premência”, observa Francisco, e Jesus, que na prece sempre se confia, não despreza a ajuda do Cireneu, de quem gesto ensina “que amar significa ajudar os outros ali mesmo, nas fraquezas das quais se envergonham”.

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A coragem da dor

Entre a povo que testemunha o “espetáculo bárbaro” da realização do Nazareno, há também aqueles que emitem “julgamentos e condenações”, lançando sobre ele “infâmia e desprezo”, sem conhecê-lo “e sem saber a verdade”. “Isso acontece ainda hoje, Senhor”, reconhece Francisco, “basta um teclado para insultar e publicar julgamentos”, mas em Jerusalém, enquanto “muitos gritando e julgando” Jesus, surge uma mulher que “não fala: age. Ela não reclama : ela se compadece. Ela vai contracorrente: sozinha, com a coragem da dor, ela se arrisca por paixão, encontra uma maneira de passar entre os soldados só para lhe dar o conforto de uma carícia no rosto”. Um gesto de consolação, o de Verônica (sexta estação), que passa para a história e que nos coloca diante de Cristo, “paixão não estremecido”, que ainda hoje procura “entre a multiplicidade de corações sensíveis” ao seu sofrimento e à sua dor , “verdadeiros adoradores, em espírito e verdade”. Mas “a cruz pesa, carrega o fardo da guião, do fracasso, da humilhação”.

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Portanto Jesus cai pela segunda vez (sétima estação), e nos vemos nele novamente quando somos esmagados pelas coisas, vistos pela vida, incompreendidos pelos outros, comprimidos “nas garras da sofreguidão” e assaltados pela melancolia, achamos que não podemos nos levantar, ou quando caímos novamente em nossos erros e pecados, quando somos escandalizados pelos outros e depois percebemos que não somos diferentes. Mas com Jesus, “a esperança nunca acaba, e depois de cada queda nos levantamos novamente”, porque Deus espera e perdoa, sempre, mesmo se caímos muitas vezes. “Lembre-me de que as quedas podem se tornar momentos cruciais do caminho, porque elas me levam a entender a única coisa que conta: que eu preciso de ti, Jesus”, é a prece do Papa, porque a vida recomeça com o perdão de Deus.

Reconhecer a grandeza das mulheres

Jesus encontra as mulheres de Jerusalém (oitava estação) e, para Francisco, é o motivo para exortar “a consideração da grandeza das mulheres, aquelas que na Páscoa foram justas e próximas” a Cristo, “mas que ainda hoje são descartadas, prejudicando ultrajes e violência”. O pranto delas nos faz perguntar se sabemos nos enternecer diante de Jesus, crucificado por nós, se choramos nossas falsidades, ou diante das tragédias, “da loucura da guerra, dos rostos das crianças que não sabem mais sorrir, das mães que as veem desnutridas e famintas e não têm mais lágrimas para espargir”.

E contemplando Cristo despojado de suas vestes (nona estação), o invitação do Papa é para ver Deus feito varão “nos sofredores”, “naqueles despojados de sua pundonor, nos cristãos humilhados pela prepotência e pela injustiça, pelos ganhos iníquos obtidos na pele de outros na indiferença universal” e a despojar-se “de tantas aparências exteriores”. Na cruz, logo, “enquanto a dor física é mais brutal”, perdoando aqueles que “estão cravando pregos em seus pulsos” (10ª estação), Jesus nos ensina que podemos “encontrar a coragem de escolher o perdão, que liberta o coração e relança a vida” e nos revela “a profundidade da prece de intercessão, que salva o mundo”.

O paixão não fica sem resposta

No momento mais sombrio e extremo em que Jesus gritou seu descuramento (11ª estação), qual é o ensinamento a ser guardado? “Nas tempestades da vida: em vez de se silenciar e se sustar, grite” a Deus, sugere Francisco, que na décima segunda estação se detém no ladrão que se confia a Cristo, que lhe promete o Paraíso, tornando assim “a cruz, emblema da tortura, o ícone do paixão”, transformando “a negrume em luz, a separação em congregação, a dor em dança, e até mesmo o túmulo, a última estação da vida, no ponto de partida da esperança”. Maria, que em seus braços acolhe Jesus morto (13ª estação), nos ajuda a manifestar sim a Deus, ela que, “possante na fé”, acredita “que a dor, atravessada pelo paixão, produz frutos de salvação; que o sofrimento com Deus não tem a última vocábulo” e, enfim, José de Arimatéia, que toma a custódia do corpo de Jesus para dar-lhe uma digna sepultura (14ª estação) nos mostra que “cada dom feito a Deus recebe uma recompensa maior”, ” que o paixão não fica sem resposta, mas dá novos começos”, que dando se recebe, “porque a vida se encontra quando é pedida e se possui quando é doada”.

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