“Zona de interesse é um filme obrigatório para as gerações presentes e futuras. A frivolidade do mal, concepção cunhado por Hannah Arendt em seu livro “Eichmann em Jerusalém: Um Relato sobre a Futilidade do Mal”, é fundamental para a compreensão da mensagem do longa. O mal muitas vezes se manifesta de maneira ordinária e rotineira, através da obediência às autoridades e da falta de reflexão sátira”, escreve Alexandre da Silva Franciscolegista, mestrando em filosofia pela Universidade do Vale do Rio dos Sinos e membro da equipe do IHU.
Eis o cláusula.
No dia 19 de maio de 2023, Cannes assistiu pela primeira vez o longa-metragem dirigido por Jonathan Glazer, A zona de interesse, traduzido para o português Zona de Interesse. O filme é produzido por A24, famoso por seus filmes de terror psicológico que tem ressaltado o gênero a outro patamar nos festivais de cinemas internacionais. O filme foi premiado com o Óscar de melhor filme estrangeiro durante a estreia que ocorreu no dia 10 de março de 2024.
Zona de Interesse, é um filme que transforma qualquer expectador ao transpor da sala de cinema. Sua sinopse narra a vida de uma família alemã na quadra em que o nacional-socialismo de Hitler governava o país. A atriz alemã Sandra Huller vive o papel de Edwiges Hössmatriarca da família, enquanto o ator Christian Friedel vive o papel do solene nazista Rudolf Höss. O parelha vive de forma tranquila com seus cinco filhos em uma morada vistosa com um quintal grande e muito florido. O grande problema da residência é a sua localização, ao lado do campo de concentração mais mortal da Alemanha nazista, Auschwitz.
Com um roteiro muito muito construído, em que cada cena é meticulosamente encaixada na narrativa, um dos grandes artifícios cinematográficos utilizados no longa é a trilha sonora e os efeitos sonoros. Enquanto a matriarca Edwiges mostra o quintal visível para sua mãe Linna (Imogen Kogge), que veio visitá-la, ouve-se o repercussão de uma povaréu gritando ao fundo.
A formosura e o cheiro das flores, a travessura da puerícia, a calma e a sossego da residência, contrastam com a fumaça do trem carregando os milhões de mortos para o campo de concentração. Os gritos vêm das câmaras de gás, que aplicaram a “solução final”, em judeus, pobre pobre, homossexuais, dentre outros. A morte no interno das câmaras foi lenta, dolorosa, murado de 30 minutos. Crianças e idosos eram pisoteados sem desespero daqueles que tentavam respirar qualquer ar limpo sem sucesso. O resultado foi morte por sufocamento em seguida crises convulsivas, sangramento e perda das funções fisiológicas.
Em seguida a fuzilamento, os corpos eram jogados em fornalhas, e a fumaça preta da mesocarpo humana na incineração era expelida das chaminés. Eis um dia trivial em Auschwitz. A indústria da morte chegou a matar 6 milénio pessoas por dia, no auge do seu funcionamento. O extermínio foi praticado por seres humanos, uma vez que eu e você, no uso pleno de suas faculdades mentais.
O antissemitismo foi a mola propulsora, o presságio expiatório dos nazistas. Eram destituídos de tudo o que conquistaram na vida. Idosos foram expulsos de suas residências próprias, destituídos de todos os seus bens. Em uma cena Edwiges, experimente um casaco de altíssima qualidade. O objeto provavelmente foi separado de sua dona, exterminado, e entregue a matriarca alemã para que fosse melhor utilizado, enfim, qual a petulância de uma mulher judia usar um casaco daqueles? Ou a audácia de senhoras judias escondendo joias dentro de um tubo de pasta de dente, “judeus espertos” diriam Linna.
Na mesma ocasião Linna afirma que trabalhavaa uma vez que faxineira para uma senhora judia, e que amava as cortinas que a mulher tinha em sua sala. Quando uma mulher foi levada ao campo de concentração, tentou arrematar as cortinas em um leilão, mas infelizmente uma vizinha deu uma lança maior e acabou levando as cortinas, lamentou-se para a filha. Pobre Linna!
Mas no final, era disso que se tratava o nazismo: separação. Separar objetos de seus donos, separar o bonito do mal-parecido, separar uma mãe de seus filhos, separar o paixão, separar um humano de sua vida, o extermínio de qualquer coisa humanamente boa.
Em seguida o sacrifício o mundo nunca mais foi o mesmo, era necessário que as pessoas não deixassem que o horror fosse esquecido, órgãos internacionais foram criados, a pundonor humana foi reconhecida e protegida. No entanto, apesar de todos os esforços, governos extremistas com vieses fascistas e totalitários são concebidos nos quatro cantos do planeta.
O genocídio em Gaza nos mostra que mesmo aqueles que sobreviveram ou cometeram o mal podem perpetrar o mal. A fala de Lula contra Israel não é zero mais do que o reconhecimento de uma fuzilamento em pleno curso contra o povo sarraceno. Trata-se de um estado com todo o seu poder militar, eliminando crianças por fome e mulheres famintas que buscam vitualhas para seus filhos sendo fuziladas.
A verdade é que nenhuma democracia está livre de tombar no esquina sedutor de líderes populistas que prometem resolver todos os problemas sociais criando um objectivo imaginário e culpando-o por todas as mazelas de uma sociedade. O ódio é um, muitas vezes mais do que o paixão.
Zona de interesse é um filme imprescindível para as gerações presentes e futuras. A frivolidade do mal, concepção cunhado por Hannah Arendt em seu livro “Eichmann em Jerusalém: Um Relato sobre a Futilidade do Mal”, é fundamental para o entendimento da mensagem do longo. O mal muitas vezes se manifesta de maneira ordinária e rotineira, através da obediência às autoridades e da falta de reflexão sátira.
O vazio e a trevas que se espera Rudolf Höss, no final do filme, misturado com sua náusea, demonstra a repulsa pelos atos que praticou uma vez que solene do extermínio. Minha versão imediata é de ser preciso trinchar o mal pela raiz, o mais breve verosímil, sob pena de quando a culpa fustigar a porta, seja tarde demais.
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Zona de Interesse e Futilidade do Mal. Cláusula de Alexandre Francisco – Instituto Humanitas Unisinos – IHU
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