Setembro 21, 2024
Certa vez, Navalny apresentou uma “bela Rússia do porvir” – e todos nós acreditávamos nela.  Ainda é verosímil?  Lançamento da newsletter “Signal” na Meduza — Meduza

Certa vez, Navalny apresentou uma “bela Rússia do porvir” – e todos nós acreditávamos nela. Ainda é verosímil? Lançamento da newsletter “Signal” na Meduza — Meduza

Alexey Navalny morreu em 16 de fevereiro de 2024 na colônia Polar Wolf no Okrug Autônomo Yamalo-Nenets. Ele foi o único político da oposição na Rússia que conseguiu impor a sua agenda e a sua linguagem às autoridades. Foi ele quem cunhou a frase “bela Rússia do porvir”. E isso é muito mais do que exclusivamente um selo. O boletim informativo por e-mail “Signal” dos criadores de “Medusa” conta uma vez que a esperança e a imaginação se tornaram os principais ativos políticos de Navalny.

Nascente texto foi publicado pela primeira vez na newsletter Signal em 4 de fevereiro de 2023. Nós editamos um pouco.

O cliché “bela Rússia do porvir” surgiu durante a campanha presidencial de Alexei Navalny em 2017. Na verdade, tornou-se seu slogan.

Nascente foi o resultado de uma longa procura. Ao longo dos tapume de vinte anos de sua curso política, Navalny tentou muitos tópicos diferentes. Foi membro do liberal Yabloko, lutou contra o “infill development” em Moscovo, participou nas “Marchas Russas” nacionalistas, durante o limitado período de “IPOs do povo” (segunda metade dos anos 2000), defendeu os direitos de accionistas minoritários e procurou a transparência das empresas estatais que controlam uma grande secção da economia russa.

A maior renome de Navalny veio das suas atividades anticorrupção, nas quais se concentrou na décima dez. A sua equipa criou ferramentas online que permitiram às pessoas “na rua” não só tomar conhecimento dos abusos cometidos por funcionários e empresários estatais, mas também participar na sua exposição.

Graças a isso, no final de 2011, Navalny tornou-se o mais popular entre os oposicionistas russos – e o líder de facto dos protestos contra a falsificação das eleições para a Duma e o retorno de Vladimir Putin à presidência. Em 2013, Navalny teve a oportunidade de participar pela primeira vez em grandes eleições – concorreu a prefeito de Moscou e ficou em segundo lugar com 27% dos votos.

Naquele período da sua biografia política, Navalny baseou-se principalmente no ideologema do “povo”. Em 2007, participou na geração do movimento patriótico “Povo”, em 2012 – o partido “Associação Popular”. Em 2014, o nome do partido foi “sequestrado” pelo estrategista político pró-Kremlin, Andrei Bogdanov.

Navalny teve de procurar um novo ideologema de suporte – e o “progresso” tornou-se isso. Seu partido se renomeou uma vez que Partido do Progresso. O Ministério da Justiça cancelou seu registro em 2015. Em 2018, o novo partido de Navalny foi denominado “Rússia do Porvir”. O Ministério da Justiça nunca o registrou.

E em 2021, o blogueiro pró-Kremlin Ilya Remeslo decidiu registar a marca “Bela Rússia do Porvir” – aparentemente para evitar que Navalny e os seus associados usassem levante slogan. Esta teoria permaneceu sem consequências – mas esta foi uma verdadeira prova de que as autoridades estavam nervosas.

Alexei Navalny é o principal político da oposição na Rússia. E o principal recluso político. Veja uma vez que ele chegou lá. Fotos

Alexei Navalny é o principal político da oposição na Rússia. E o principal recluso político. Veja uma vez que ele chegou lá. Fotos

Porquê poderia ser a “bela Rússia do porvir”?

O programa presidencial de Navalny delineava uma versão liberal de esquerda: “a bela Rússia do porvir” é uma república presidencialista-parlamentar (mais tarde o político passou a preferir um protótipo com influência preponderante do parlamento) com regiões e municípios fortes, com um tribunal independente , com sistema multipartidário, com economia desnacionalizada e demonopolizada, com baixa desigualdade e prevaricação domesticada; e também um Estado social que gasta o orçamento principalmente nas necessidades internas e, supra de tudo, na instrução e na saúde.

Mas a questão cá não é nem mesmo que tipo de imagem do porvir Navalny propôs, mas sim que ele propôs pelo menos qualquer tipo. Ele foi talvez o único grande político russo que não se referiu a nenhum “pretérito glorioso” – nem ao pré-revolucionário, nem ao Soviete, nem aos anos noventa uma vez que um “tempo de esperança”. A utópica “bela Rússia do porvir” é o oposto direto da nostálgica “Rússia que perdemos” ou mesmo “fodida”. O principal trunfo político de Navalny é a sua imaginação.

Em 2017, quando concorreu à presidência, Navalny fez campanha uma vez que se eleições reais estivessem chegando: viajou por toda a Rússia, abriu sedes, discursou em comícios e preparou um programa com toda a seriedade. Ele dificilmente esperava que lhe fosse permitido participar nas eleições propriamente ditas (não lhe foi permitido, simples). Era uma tecnologia tão política: dizem, imagine uma vez que poderia ser a política na Rússia.

Em princípio, podem-se imaginar muitas versões da “bela Rússia do porvir”: liberal de direita (sem ênfase na “agenda social”), social-democrata (com mais ênfase na “agenda social”), libertária (sem o “agenda social”: privatizar tudo e responsabilizar na “mão invisível do mercado”) e assim por diante. O mais importante é que em qualquer caso não se apresente “uma vez que está agora, só que melhor”: é sempre um projecto de “reinvenção” da Rússia.

Todos podem preencher o clichê “bela Rússia do porvir” com seu próprio significado. Alguns dirão que isto é uma fraqueza: não existe um programa específico por trás do cliché. Mas esta também pode ser considerada a força deste slogan: em torno da teoria pelo menos qualquer A “reinvenção” da Rússia pode unir muito mais pessoas do que em torno de qualquer programa específico.

Aliás, nas actuais circunstâncias, qualquer programa deste tipo parece utópico.

“Na Rússia gostam de proferir que é mais escuro antes do amanhecer. Parece que está começando a sombrear. O sol se foi” Grigory Yudin – em memória de Alexei Navalny

“Na Rússia gostam de proferir que é mais escuro antes do amanhecer. Parece que está começando a sombrear. O sol se foi” Grigory Yudin – em memória de Alexei Navalny

A “bela Rússia do porvir” ainda é verosímil?

Em 2023, dirigimos esta questão a um dos mais respeitados cientistas políticos académicos russos, professor de uma universidade europeia (ele pediu anonimato por razões de segurança). Depois o técnico respondeu que durante a sua vida – está a aproximar-se dos 60 anos – não espera uma “bela Rússia do porvir”. Mas, a longo prazo, considera inevitável a democratização do país.

O processo será demorado, alertou o observador político. Uma quesito necessária para o seu início é uma mudança na escol política. A moderno liderança claramente não irá “reinventar” o regime. O técnico não se comprometeu a prever exatamente uma vez que a mudança ocorreria: poderia ser uma revolução, um golpe ou simplesmente uma “saída proveniente” dos atuais líderes.

O factor-chave do qual dependerá a direcção da mudança política é a guerra com a Ucrânia. Se o moderno regime vencer, o moderno governo exclusivamente fortalecerá a sua posição dentro do país – e simplesmente não terá incentivo para mudar zero. Outra coisa é o que é considerado uma vitória: mudança de regime em Kiev? ocupação completa da Ucrânia? reconhecimento da anexação russa das regiões ucranianas?

Se não houver sucesso, o técnico considerou verosímil que o processo de democratização seja iniciado não por aqueles que agora o defendem, mas pelos mais Putinistas e militaristas: pelo menos para preservar o Estado, e talvez se reagrupar para uma novidade tentativa de expansão.

O observador político sublinhou: “A Rússia do porvir”, seja ela qual for (liberal, socialista, conservadora), necessitará antes de mais zero de melhorar significativamente a qualidade da gestão pública – serviços aos cidadãos, gestão quotidiana e regulação económica. Qualquer regime precisa de funcionários competentes – e a Rússia tem-nos, e a sua “maravilhosidade” ou “horribilidade” depende dos incentivos que a liderança política cria para eles.

É digno de nota que muitos publicistas Z actuais também repetem isto: a Rússia precisa de novos mecanismos de governação em vez dos gritos e do subserviência dos patrões. Isto significa o notório “feedback” e competição política. Isto significa um sistema partidário potente, parlamentarismo e eleições livres.

Acontece que a democratização não é uma exigência ideológica, mas uma premência técnica. Por assim proferir, o denominador geral de muitos projectos para a “bela Rússia do porvir”, que de outra forma se contradizem, desde a esquerda liberal até à imperial.

Depois há a questão das restrições ideológicas: os publicistas Z acreditam que exclusivamente os “estatistas” deveriam ser autorizados a participar nesta novidade vida política; Muitos liberais insistem no princípio de “nenhuma liberdade para os inimigos da liberdade”, isto é, na exclusão precisamente dos actuais “estatistas” da vida política.

A questão é que quando e se a democracia e a competição política vierem, muito provavelmente ninguém reconhecerá que esta é a “bela Rússia do porvir”. Pelo contrário, os imperiais, liberais, esquerdistas, conservadores – todos competirão entre si para teimar que os seus oponentes os estão a impedir de edificar uma “bela Rússia do porvir”: não lhes estão a permitir aumentar impostos, reduzir impostos, aumentar as despesas orçamentárias, reduzir as despesas orçamentárias, privatizar alguma coisa, naturalizar alguma coisa – e assim por diante, ad infinitum.

Mas é precisamente o facto de que ninguém não receberá missiva branca completa para edificar a sua própria “bela Rússia do porvir” (e não haverá poder que possa enunciar tal missiva branca), e garantirá que a “terrível Rússia” não retornará do presente.”

Nosso técnico não comentou a morte de Alexei Navalny.

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Artem Efimov“Sinal”

Fonte

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