Falou e disse. ‘Esfera de Ouro e The Best estão a perder substituição.’ Na ressaca da gala dos Globe Soccer Awards, no Dubai, o tom crítico de Cristiano Ronaldo faz-se sentir em entrevista ao jornal português Record.
É admissível o sentimento do capitão de Portugal sobre os prémios anuais da FIFA e da France Football? O ponto de partida para qualquer votação é sempre mal-agradecido, porque o braço-de-ferro racional/sentimental tem muito que se diga. Há sempre milénio e um fatores, todos eles pesam toneladas de sentimento, todos eles carregam um peso de razão (in)discutível na hora de mostrar um mais adiante dos outros todos.
Há infinitos debates interessantes à luz desse esgrimir de argumentos entre razão e sentimento, porquê o de melhor estrangeiro em Portugal. Elejo Madjer pela qualidade futebolística e ainda pela capacidade de entrar na história de Portugal com o gol de calcanhar ao Bayern na final da Taça dos Campeões e o chapéu de aba larga ao Peñarol na final da Taça Intercontinental. Misto cá sentimento (qualidade futebolística) com razão (fatos).
É tudo? Ou melhor, é só isso? E esmiuçar Madjer, o que tal? Interessa saber se ele é bom profissional, se vai a todos os treinos, se se treina com vontade, se é bom companheiro, se faz bom balneário? É um pacote de perguntas genuínas, oriente ‘interessa saber’ zero tem a ver com uma ou várias rasteiras – oriente texto é sobre jogo (e pensamento) limpo. E acrescentamos em tom de duelo à eleição de Madjer, e o Jardel? E o Deco? E o Balakov? E o Yazalde? E o Valdo? Quantos velhos do Restelo dirão Cubillas de caras e quantos novos de Alfama dirão Jonas sem pestanejar?
Nem é preciso ir mais longe, há quem reclame Jonas na onze de sempre do Benfica em vez de Torres num esquema 4-2-4 com José Augusto à direita, Eusébio no meio e Simões à esquerda. Faz sentido? Só porque ganha quatro títulos de vencedor português em cinco épocas? Só porque marcou 137 gols em 183 gols? Só, dirão os mais espantados com o uso abusado desse advérbio. E agora?
E agora, zero. É assim mesmo, a votação é “só” uma votação. Zero de mais. Não funciona porquê verdade absoluta nem mede a história de ninguém. Maradona e Pelé, juntos, têm zero Bolas de Ouro. Pudera, na profundidade o prémio é o mais europeu provável, e só em 1995 se assiste à franqueza da globalização, ainda por cima com o título de Weah (Libéria). Mesmo assim, as ditas injustiças acontecem numa base anual. Às vezes, o mesmo jogador pode ser duplamente injustiçado. O caso mais sintomático é o de Deco no FIFA 2004. Portanto o varão é vencedor europeu pelo FC Porto, chega à final do Euro por Portugal, ainda se transfere a meio do ano para Barcelona, onde a sintonia com Ronaldinho é para lá de perfeita , e nem foi tido nem descoberta para os três primeiros? (Ronaldinho em primeiro, Henry em segundo, Shevchenko em terceiro). Pior, acaba no sétimo. Jaaaaaasus.
Lionel Messi eleito o ‘The Best’ da FIFA pela oitava vez
Antes, em 1987, Gullit ganha o Futre por 15 pontos. Uma vez que assim? Não tem a ver com lóbis nem falcatruas ou jogos de interesse, tem sim a ver com regimento e o que essa vocábulo transmite e arrasta na cabeça pseudo-pensadora dos entendidos na material. Gullit foi para o Milan e ganhou dimensão internacional, Futre escolheu o Atlético Madrid e manteve-se na classe média europeia, muito embora fosse vencedor europeu em título pelo FC Porto. Pergunta, válida tanto para 1987 porquê para 2004: qualquer votante desses prémios (seja jogador, seleccionador ou jornalista) acompanha numa base semanal a 1.ª repartição portuguesa? Tapume de zero. Daí o título para Gullit, daí o sexteto adiante de Deco.
De volta ao início, a Esfera de Ouro nunca teve repetição. Nem quando Ronaldo ganhou por seis vezes. Ou cinco, já nem me lembro. Sete não foram, porque Messi conquistou agora a oitava oitava e distanciou-se ainda mais da concorrência. Ó O Melhor, idem idem. O Globe Soccer Awards, aspas aspas – o que expressar de um prêmio com 13 anos de existência em que Jorge Mendes ganha 11 vezes o prêmio de melhor agente, Messi só é eleito uma vez o melhor jogador e Cristiano seis?
Engraçado, Ronaldo queixa-se da falta de renovação e esquece-se de que ele próprio viciou esse sistema de voto durante anos e anos. Se analisarmos as suas escolhas para os três primeiros melhores do ano da FIFA, o capitão de Portugal só votou Messi uma única vez entre 2010 e 2021 (já Messi só menciona Ronaldo em 2018, porquê terceiro classificado, e 2019, porquê segundo). O que dizem esses votos sobre os votantes em si? Que a vocábulo substituir precisa de uma lufada de ar fresco.
Eis os votos
Ronaldo
Xavi Casillas Sneijder 2010
2011 Não votou
2012 Não votou
Falcão Bale Özil 2013
Benzema Ramos Bale 2014
BenzemaJames Bale 2015
Bale Modric Ramos 2016
2017 Modric Ramos Marcelo
2018 Varane Modric Griezmann
2019 De Ligt De Jong Mbappé
Lewandowski Messi Mbappé 2020
2021 Lewandowski Kanté Jorginho
MESSI
2010 Não votou
Xavi Iniesta Agüero 2011
Iniesta Xavi Agüero 2012
2013 Iniesta Xavi Neymar
Di María Iniesta Mascherano 2014
Suárez Neymar Iniesta 2015
Suárez Neymar Iniesta 2016
2017 Suárez Iniesta Neymar
Modric Mbappé Cristiano 2018
2019 Mané Cristiano De Jong
2020 Neymar Mbappé Lewandowski
2021 Neymar Mbappé Benzema
2022 Neymar Mbappé Benzema
2023 Haaland Mbappé Julian Álvarez
O responsável escreve de convénio com a ortografia antiga.